domingo, dezembro 08, 2002

Olá, Artur...
Que harmonia esta final do campeonato brasileiro, não?
Harmonia. Uma paisagem feíssima da feia São Paulo; chuva intensa, tão forte que se torna contínua(começa, então, a formar o céu, este cinzento e triste) harmonizando com jogadas rápidas como a chuva que caí. Contínuas e formadores de outros tipo de céu.
Uma final com o meu querido Fluminense seria tão mais bonita. Sim, o céu invariavelmente continuaria lá, por mais que o time trouxesse ares de felicidades de cá, mas esse estranho bairrismo(bairrismo no futebol?), essa estranha ausência de cores fortes estariam suavizadas. Futebol é cor.
Quando no primeiro jogo da semifinal a bola de um corinthiano na trave explodiu, pensei que o Tricolor carioca possuía sorte de campeão. Tudo bem, podíamos não ter o melhor time, contudo tínhamos sorte: tal explosão dava origem à nossa vitória! No jogo de volta, na escorregada (eufemisando a vacilada) de Roni, herói injustiçado e vice-versa, indaguei se a sorte de campeão havia gostado mais da terra dos bandeirantes. A resposta eu sei e ainda entristeço ao saber que poderia ser outra. A sorte de campeão realmente passou para o clube de São Jorge. Sorte de campeão é o que eles tem: sorte de poder enfrentar por mais dois jogos o explêndido time de futebol do Santos. A vergonha da possibilidade de ser humilhado não me afronta; seria uma coisa de guerreiro que reconhece sua derrota perante o verdadeiro grande guerreiro.
E poder-se-ia perguntar: "Com tamanho sorte de campeão, não existe possibilidade dos tricampeões vencerem?". Bom, primeiro que nada na vida é 100%, amigo. E aí reside a beleza do time do Santos. Tamanha ironia seria se um time tão preparado perdesse! Se o famoso "anjo negro de branco" fizesse aquele gol, aquele que ele mesmo perdeu, ninguém iria dar o valor que tal quasegol recebeu...existe um facínio pelas coisas abstratas. românticas. não-iluminadas, desprovidas de explicação à luz de fatos científicos. Divago, porém, em minha conclusão de que apesar de toda a sorte que o Corinthians possui, não é o suficiente para ultrapassar o profisionalismo (no sentido mais romantico possível) do clube santista. O bom e bem aplicado futebol sabe achar os meios de infiltração na sorte de qualquer adversário.
Nisso o Corinthians peca. Joga baseado num esquema tático, com o qual podemos fazer uma analogia às idéias iluministas: se caídas tais idéias o time não consegue ter um motivo para jogar, se impedidas tais idéias por alguma coisa, não se sabe por onde (re)começar. Nisso os Meninos da Vila ganham força. No drible ilógico de Robinho. Na ambiguidade da visão de jogo de Diego, que tanto embelezou o jogo. Na juventude desprovida de previsões, muitos planos, no tesão de ir em frente criando (e não repetindo o que outrora deu certo com alguém) novos meios de superar contratempos.
Torço para a história mudar. Torço para que o Peixe pare no tempo, para meu Fluminense em uma outra ocasião se encontre com ele. Torço para que seja um jogo importante, para mais que esses dois times com espírito futebolístico de cada jogo é o jogo; eu esteja animado. Torço para que passe na televisão(!)
Insisto nessa história, eu e meu gosto por tal disciplina escolar, apesar de contrariamente à tudo que disse não acreditar em explicações ilógicas, ver o mundo à luz da ciência; ciência que me diz: que não há nada definido. Nem mesmo o conceito de que fatos míticos estariam incorretos. Nem mesmo esta última afirmação, nada é preto e branco.
Só o Santos.