sexta-feira, maio 15, 2015

08/12/2013. Eu, Lucas, Alexandre, talvez o Millosz também. Chegando ao hotel já noite adentro. Diversos momentos de muita falação, xingamentos, lamentações. Muitos outros mais de silêncio.

Este era um desses. Talvez até por precaução. Não de vergonha de ouvir alguma gracinha; quem é Fluminense bota o escudo sobre o coração sem qualquer embaraço. Faz questão, tem orgulho em qualquer situação (e já vivemos todas elas). Precaução por cansaço mesmo.

Foi um ano longo e conturbado, que, para nós do Marketing, havia começado pouco depois de 11/11/2012, quando, logo após sermos campeões dentro e fora de campo, com a primeira campanha de marketing planejada que desafiou todos os sensos comuns politicamente corretos do futebol e do povo brasileiro (o "Decida o Tetr4") e, de peito aberto, bem à moda Fluminense, bancou um título lá de trás, perseverou e deu certo, ouvimos do Presidente e do Jackson - em uma reunião que achávamos que seria para apresentar nossos belos resultados; afinal era a primeira vez que fomos chamados pra conversar com a presidência, que deixava-nos sem qualquer intervenção (e apoio, mas estou focando na parte boa)! - que éramos acéfalos e tudo tava errado e tudo que tinha que mudar.

Após meia semana de "why even bother?", de uma Peterzada clássica de trazer de volta alguém só pra mandar embora de novo, foi uma chuva de trabalho intenso. Com as próprias minúsculas pernas - por 10 meses o Marketing se resumia a Eu, Alex, Lucas e Mari -  sem ajuda do "poder", contra tudo e contra todos, de novo à moda Fluminense, fomos indo. Madrugadas bem gastas pra fazer em 2 semanas a então maior ação de marketing do futebol Brasileiro... que se tornou um "fiasco" graças aos joguinhos de poder ("Ocupação 41") do Jackson, à inoperância política da Flusócio, a maluquice do Peter e a nossa cabacice também.

Mas tudo bem, seguimos em frente. Fizemos Tricolor em toda Terra em diversos novos lugares. Estreitamos de vez os laços com o Departamento de futebol, cada vez mais aberto ao Marketing, mesmo com toda a dificuldade imposta pelo Jackson, que nos travou de novo por uns bons 3 meses com o Mickey e seu comercial de 110 mil (ou mais, estipulo) que mobilizou todo o time (literalmente) e nunca ganhou a luz do dia. Mas a gente era teimoso e fez um novo com o Fred, recém artilheiro e campeão da Copa das Confederações, no novo Maracanã (o primeiro clube a fazer e assim seguir o plano de "apropriação" da nova casa) por quase metade do preço (65 mil), verba que arrecadamos por meio das ginásticas financeiras GENIAIS que só a Mari consegue fazer. Fomos tirar "férias remuneradas" nos EUA, segundo o Jackson, para construir este caminho, hoje tão natural, de time mais conhecido na terra do Tio Sam. Sendo que as "férias remuneradas" não saíram de caixa ordinário do clube, afinal o Marketing nunca teve verba para trabalhar, todos projetos tinham os custos embutidos no orçamento, ou seja, partiam do zero-a-zero ou do lucro garantido. Nas viagens, e 2013 foi pródigo nisso, - eu sozinho viajei pra 5 países e 3 continentes - nem diárias de alimentação tínhamos. Tudo do nosso bolso pessoal. Mesmo assim ele era contra a ida do marketing pra essa intertemporada americana (que era marketing, né?) e também contra a transmissão do amistoso contra o Orlando City. "Eis uma área claramente associada com a Flusócio. Seu sucesso significa meu fracasso", provavelmente pensava o Chefe da Casa Civil do Fluminense "pois o clube todo tem que perceber que tanto faz o presidente ou a corrente política: eu sou a peça chave que faz tudo funcionar. Travo e libero. Crio a dificuldade pra resolvê-la".

Neste caso, ele tinha assegurado um dinheiro para pagar a re-transmissão local para o SporTV poder passar o amistoso. Era uma daquelas transações "príncipe da Nigéria". Você dava 5 mil (uma fortuna) para retransmitirem de lá e o SporTV pagava 35 mil pelos direitos de passar esse feed aqui. Saímos do Brasil com tudo acertado entre as partes. Show. Aí, um dia antes, eles retiraram a verba para nos derrubar de novo, presumo. O "marketing marajá", viajando pros EUA só na curtição e nada pra torcida. Mas... tem o fator "não desistiremos da oportunidade, pois amamos o Fluminense" que fazia a diferença. Tavam acostumados com muita gente que estava na melhor situação profissional DA VIDA e não ía largar aquele osso por vontade própria nunca. A gente preferia se fuder do que fuder o Fluminense e os alicerces que podiam sustentar um Fluminense forte. Graças ao relacionamento, e a genero$idade/(in)sanidade do Rodrigo Caetano, o ex-Diretor Executivo de Futebol tirou do bolso a verba e o amistoso passou ao vivo pro Brasil, enquanto nenhum outro clube aparecia na mídia.

Enfim, tudo isso (e muito mais) pra dizer que... estávamos cansados. Por isso em silêncio.

Nos últimos 30 dias anteriores a este eu fui e voltei pra China pra fazer o especial da volta do Conca, fui pra São Paulo por conta das filmagens do meu longa "A esperança é a última que morre", o qual comecei a conciliar entre as duas ocupações e por fim fui pra Bahia para o jogo final, onde esperávamos filmar um desfecho épico de permanência do Fluminense na série A. Talvez tudo se salvasse aos 48 minutos. Não seria a primeira vez. Talvez existissem conexões entre o título do meu filme e o time no Campeonato Brasileiro. Talvez o roteiro deste ano de muito trabalho bom e bem feito, pudesse ser avaliado assim, pois, no mundo da bola, independente do que você faça, o trabalho fora de campo é tão bom quanto a quantidade de bolas que entram.

Mas não foi o que aconteceu. Samuel fez o gol que precisávamos, nos olhamos com os olhos cheios d'água, mas logo o jogo acabou e era mentira o que algum filho da puta falou no meio da excitação; não tinha gol do São Paulo. O jogo contra o Coritiba tinha acabado. O Fluminense tinha sido rebaixado.

A porta do elevador está quase se fechando. Eu penso que a piscina vai cair muito bem. Tudo que quero é flutuar. A gravidade tá bem pesada.

Uma mão interrompe o cessar da porta.

"Opa!"

Parece o Sorin. E não é porque eu estereotipo as pessoas. Era um argentino e parecia muito o Sorin. Mas não era.

Ele olha para nossos uniformes. Reconhece o escudo. Óbvio. Começa a reverenciar.

"El Flu! Soy de Boca!"

Qualquer tricolor - metido como só - sempre se anima quando ouve isso. Mas tudo que ele tirou da gente foram cumprimentos via sobrancelhas e sorriso de boca fechada. Amigável, mas... sem papo, ok?

Ele pergunta como tá o Flu. Ele tá de sacanagem? Ok, lá vamos nós ter que dar uma zoadinha no freguês e entrar naquela batalha tão do futebol entre "presente" x "passado". Mas... não. Ele genuinamente não tem idéia do que se passa. Caiu de para-quedas. Pergunta se temos chance de título. Explicamos o que aconteceu, só para pensarmos de novo: como é possível isso acontecer, sendo que há 12 meses atrás éramos campeões brasileiros?! Jogamos Libertadores até as quartas! What the fuck?!

O argentino xeneize diz ao abrir a porta do elevador "No, no puede. Muy grande para eso!" e completa "Se fosse con Boca, la hinchada invadia la cancha! Matava los jugadores. No puede cair." ou algo que minha habilidade espanhola não permite escrever, dizendo enfaticamente que se o Boca tivesse a chance de cair ou vacilar feiamente, eles não permitiriam acontecer. Invadiriam o campo e terminariam o jogo. Uma espécie de "lalalala não to vendo! não to ouvindo! lalala" ou, pra ficar no campo tricolor um "pior pros fatos" Rodriguiano.

A porta se fechou, demos tchau. Encontramos a Mari e flutuamos na piscina noturna. Fizemos planos para que o Flu re-encontrasse partes do Brasil que há anos não frequentava (Sampaio Correa e ABC-RNl! Copa do Brasil!). Mal sabíamos que 48 do segundo tempo tinha se tornado "pouco" drama pra quem já viveu tanto disso. O gol (contra) do Flamengo e da Portuguesa, só entrou 48 horas depois quando foi descoberto que ambos haviam escalado jogadores irregularmente. O Fluminense não caiu.

Duas semanas depois, eu pedi pra não renovar meu contrato com o Flu. Tinha cansado daquela vida. Acho que não tinha mais nada pra contribuir e oxigenar seria bom. Fui me dedicar a ser roteirista apenas. Não estou mais no Fluminense, mas o Fluminense está sempre em mim. E uma lição que ele me ensinou é a sempre se levantar após caír. Tipo Rocky. Chin up, você não deve nada a ninguém.

15/05/2015. Vendo o que aconteceu ontem no superclássico Boca x River, penso no hincha do elevador. Penso que o Boca não caiu até hoje. Penso que ele não estava de brincadeira no que falou; os torcedores não vão deixar cair. Nem mesmo tropeçar. Penso também que, assim, eles estão deixando de conhecer a verdadeira grandeza de seu time. Penso que não é qualquer um que consegue se levantar. E levantar. E levantar. Penso que amo o Fluminense. E pra sempre vou amar.