quarta-feira, julho 24, 2019

Quando falam (e tem se falado muito em contextos de duas opiniões divergentes ) "aceita que dói menos"... dói menos em quem?

Neles que falam isso, né? Tipo, tem um "em mim (pois não consigo lidar democraticamente com visões contrárias; me machuca)" oculto no final da frase. É uma súplica de clemência pois não conseguirão manter isso no campo do debate de idéias. Aceite, pois eu não consigo. Seja a pessoa mais madura, por favor, e me deixe ganhar essa.

Porque, se não, se significa que aceitar o que quer que seja irá doer menos para a pessoa que não aceita o que quer que seja... de onde eles tiraram essa idéia? Há um conhecimento de causa disso? Estaria, quando fala "aceita que dói menos", o interlocutor dando um conselho carinhoso e preocupado, de quem já viveu aquilo nos sapatos daquela pessoa, lutando contra aquilo e, finalmente, desistindo, pois era muito doloroso pra ele lutar contra aquilo e não conseguir convencer as pessoas de sua verdade? Quem fala "aceita que dói menos" seria, então, alguém frustrado, conformista e até enrustido, que jogou a toalha frente à complexidade da luta e dá o conselho à pessoa como alguém experiente que está menos angustiado tendo aceitado a mediocridade?

Ou é apenas uma direta ameaça autoritária para que a pessoa aceite, entube, se renda e assimile, pois, se resistir, ela irá se machucar pelas mãos dela ou de seus colegas?

A verdade é que pouco importa.

A lingua fala. Literalmente. Mesmo os que não a dominam - talvez até mais os que não a dominam - acabam sendo entregues por ela, quando nos debruçamos no que se é dito além do que é falado.
 As 3 opções de intenção do "aceita que dói menos" demonstram apenas estágios do ciclo de um derrotado. Seja o ódio do autoritário, a ignorância do covarde ou a fraqueza do medroso.

Em suma, quando alguém usa "aceita que dói menos" em contexto de confronto retórico, imediatamente atesta e destaca seu interlocutor como o minuendo da equação. O papel do falante será apenas o de tentar, futilmente, subtrair: sendo um zero como são, o resultado no máximo será a manutenção de quem você é. Não somarão nada. É tempo perdido.

Leia "aceita que dói menos" e traduza em "siga em frente e além, que esse não vale a pena".

domingo, julho 14, 2019

Você também sente às vezes que vive no momento finalzaço do Capitalismo? Tipo late late stages?

Eu sinto muito esse sentimento através da publicidade. Sem ela querer - imagino - acaba sendo muito reveladora do momento fucked up que a gente tá vivendo.

Agora há pouco, por exemplo, eu vi um bloco comercial inteiro que era estandarte disso. Primeiro vi uma parada de companhia aérea dizendo "Make the whole world your office!" e tipo... really? Que merda. O mundo foi reduzido a isso? Ele pode ser tão mais que isso... Depois, um Stella Artois que começava num pé feminino à beira d'água com uma Stella. Aí a camera abria e mostrava que a mina tava era numa piscina Tony, com maior barulheira de cidade, numa varanda de um prédio. Aí dizia "Vacation is how you see things" ou algo do tipo. Até tinha a boa inteção de falar "faça de qualquer momento um momento agradável", mas só revela também esse state of mind de "always be closing" e o fato de que no mundo de hoje é impossível desligar, ficar 30 dias seguidos de férias; você tem que fazer cada momento férias, porque de resto você é um escravo do capitalismo e da "produtividade". Por fim, vi um comercial de várias serie novas no Hulu com o slogan "say goodbye to your free time". How is that a good thing??

quarta-feira, julho 03, 2019

Dá uma tristeza gigante quando você se despe de todas suas esperanças e analisa friamente o Brasil.

Toda essa parada que tá rolando com a política. A verdade é que, apesar dos últimos 20 anos de progresso, foi muito pouco. O que são 20 anos de evolução pra 500 de desigualdade? O Brasil é um país MISERÁVEL. De terceiro mundo. Com a maior parte de sua história enaltecendo regimes autocráticos, escravagismo, militarismo etc.

Então o entendimento é quase impossível de ser alcançado. Não só na Vaza Jato: qualquer defesa de poderosos acusados de algum erro é completamente torta e só reforça os seus crimes, dando razão à acusação... mas ninguém tem nem a inteligência de perceber e processar isso. É desesperador.

Exemplo:
Quando Moro começa a fugir das perguntas sobre a Vaza Jato dando os dados da Lava Jato, mostrando seus números (tantos presos, tanto dinheiro retornado aos cofres)... ele só faz reforçar o que lhe acusam: ser partidário.
Fosse o Dallagnol falando isso, ok. Mas o Juiz NÃO é parte do time. Moro não é parte da Lava Jato; Moro JULGOU a Lava Jato. O entendimento do público de que ele é a Lava Jato (que ele adora) já mostra que tudo está errado, pois ele é (ou deveria ser) um juiz, imparcial. Usar como resposta, como escudo, as boas coisas que a Lava Jato fez, basicamente dizendo "os fins justificam os meios", faz dele partidário, parcial, viciado. Um Juiz não poderia justificar decisões pelo bem geral, através de uma ação ilegal.
Seria justo um procurador botar na justiça um milionário e, apesar de nada de errado com ele, o Juiz determinar que vai tirar todo o seu dinheiro? Vai ser bom para o geral, pois o dinheiro dele vai ser transferido pro país... É injusto uma pessoa segurar muito dinheiro quando tanta gente passa fome? Injustiças são legais. Moro é uma fraude cristalina. Suas ações, suas reações, suas defesas; todas confirmam a tese de que cometeu um crime, todas desabonam a hipótese de que não fez nada de errado.

Quando Neymar solta na internet conversas e fotos da menina que o acusou de estupro, faz o mesmo: só mostra que não entende o conceito de "consentimento"- princípio básico do estupro.

Então é muito difícil. Como você fala que isso tá errado pra pessoas que não entenderam porquê é errado permitir um cara que celebra a memória de um torturador - não de outro país; daqui, da história ao vivaço daqui, do cara que torturou a presidente do Brasil e diversos outros - se tornar presidente do país? Se o Dallagnol confessasse que falou tudo aquilo, as pessoas acreditariam e teriam a grandeza de "mudar de lado"?  Penso o quanto adoramos falar "é a palavra dele contra a sua"convindo basicamente que só com provas se julga algo de forma justa, quando na verdade os brasileiros acreditamos em maioria que uma palavra contra a outra vale algo sim e, no caso hipotético do Dallagnol confessar, era capaz de o Moro usar a carta da "palavra dele contra a minha" e ganhar apoio de grande parte da população.
 
O investimento de identidade nessa manipulação política comandada pelas grandes oligarquias e corporações feita nos últimos anos foi muito grande e, ainda mais com o reforço das midias sociais - pesadas recompensadoras emocionais com likes, seguidores etc. - parece muito pouco crível que as pessoas estariam dispostas a virar o espelho pra si mesmas, ouvir a voz da razão e agir de forma imparcial, reparando que elas não são a lava jato ou o que quer que seja e podem rever os conceitos e fazer o certo, condenando alguém que parecia estar fazendo o certo, mas, na melhor das hipóteses, da forma mais perigosamente errada possível.

Os Brazileiros parecem determinados a morrer nesse Mor(r)o.