domingo, setembro 15, 2019

André foi meu primeiro melhor amigo. De alguma maneira foi meu único.
Antes dele, tive/tenho alguns melhores amigos que eram na real amigos do meu irmão, de tal forma que, embora os amasse muito, não seria justo dizer "meu"; no máximo "nosso". Tiveram alguns outros do maternal que eram "melhor amigo" por pressão social, tipo mães ou professoras determinando que éramos melhores amigos porque passávamos mais tempo juntos do que com outros coleguinhas; mas eu não levava a amizade para depois, pro além-escola, pro âmbito particular. André foi a primeira grande amizade que fiz sozinho. Quer dizer: que fiz junto com André; nenhuma amizade se constrói sozinho. Conheci ele na terceira série A do Notre Dame. Em pouco tempo nos conectamos através de X-Men, Mariah Carey e talvez, lá no fundo, filiação de músico ex-famoso. Começamos a frequentar um a casa do outro - eu mais a dele que ele a minha, porque a casa dele era muito mais legal; com dois irmãos, dois andares, vista pro colégio, misto quente ruim, piscina com infestação de rolinha (e todas as piadas sexta-série que conseguíamos fazer em cima disso), play pra jogar bola, piano, muito videogame, filmes que fazíamos nós 4 (e às vezes convidados) cheio de efeitos especiais engenhosos como filmar a tela do computador, onde, em cima do feed de outra câmera, Rodrigo desenhava "ao vivo" o raio que saía do olho do Ciclope (André) pra matar o Magneto (Thiago) e todas as tecnologias ponta-de-linha que nunca deram certo, como o laser-disc, câmera hi-8 e Dreamcast. Fora as festinhas do colégio que aconteciam lá. Eu vivi muitos momentos de formação de personalidade naquela casa e com aquele amigo. Dividíamos um ou outro quase-melhor amigo que, generosamente, convidávamos a entrar naquela nossa conexão de melhor amigo - apesar de por algum motivo curioso ele me chamar de Eduardo e eu ele de André e não por apelidos, como todo melhor amigo normal faz. Aquela confiança saudável de melhor amigo, que no olhar sabe que nenhuma outra amizade é tão especial quanto aquela. Éramos sempre nós dois, de maneira que quando a vida nos fez estranhos - quando André repetiu a primeira série do 2 grau e mudou de escola - eu simplesmente nunca mais tive um "melhor amigo" nesses moldes. Passei a ser plural e no máximo classificar melhor amigo no plural, deixando o todo se dissipar em todos, dizendo que eu não tinha "um melhor amigo, mas vários". Ou então falava que não tinha melhor amigo at all. André foi meu último melhor amigo. E o próprio conceito de "melhor amigo" virou uma coisa de criança - na melhor concepção da palavra, tal qual a carinha dele, que, mesmo bombadão, com os cabelos precocemente todos brancos, parecia um garotinho: doce, alegre, inocente. Melhor amigo virou algo utópico; um conceito a ser buscado, mas nunca atingido. Com ninguém conseguiria construir algo como o fiz com André. Ainda que não tenhamos nos falado muito desde então - esbarrões e mensagens eletrônicas bissextas (no entanto, sempre afetuosas) - nossa vivência compartilhada de anos tão formativos de nossas identidades faz com que eu SEMPRE remeta a André ou algo que vivi com André. É história que não é necessariamente sobre ele; mas ele tava junto. É referência que nem tem conexão a ele em si, mas tive acesso junto à ele; na casa dele, ou consolidada em conversa com ele. Uma presença constante, ainda que em alguns momentos invisível ou imaterial. E isso vai continuar acontecendo agora. Não há porque mudar. Você vai continuar vivendo através de mim. Até que chegue a nossa vez, estaremos todos que dividimos qualquer título contigo - mãe, pai, irmãos, primos, melhor amigo.... - te mantendo vivo através da perpetuação de nossas existências, profundamente marcadas pela sua.

sábado, setembro 07, 2019

Que conste em ata que no dia 7 de setembro de 2019, eu declarei independência do Brasil. 
Dos EUA. Declarei independência de qualquer convenção geográfica. Eu sou do mundo e não quero ficar em qualquer lugar que seja escroto como esses vem sendo. Declaro independência do medo. Não mais vai me privar de usar minha voz, de me botar pra agir. Saí do Brasil vendo o que ia se tornar e vim pra cá para uma outra convenção de país. Se na próxima eleição não se confirmar ter sido apenas um longo porém finito desvio, nem quero ficar. Vou pra outro lugar que coadune com minha idéia de humanidade. E se for estragado também, vou pra outro e outro, não fugindo, mas descobrindo. E escolhendo. E levando comigo toda a força que já construi e vou construir agora que me libero de amarras que não mais me prendem a terra nenhuma. Casa? Moro em mim e nos que acreditam em mim. Declaro também independência de uma culpa e subserviência ao sistema todo que faz isso acontecer. Minha fidelidade é com a criação e a empatia e comigo e com os meus. "Nome sujo"? Dívida? Não é por aí que se mede. Dinheiro não é o meu Deus. Meu Deus é o criar. Arte, conexão, bons sentimentos e lembranças.
Ontem tive um clique, uma mudança de visão. De que nada disso tem importância. De que o que importa é o único sentimento que desejamos mais que o amor, pois é precípuo ao amor, prioritário e necessário para que chegue-se ao amor: a liberdade. Algo profundo mudou em mim e nada mais será o mesmo.