sábado, novembro 25, 2017

Niterói, 25 de Novembro de 2017

Apesar do Sol estar agindo de forma intermitente, a brisa o faz não ser inconveniente. O cachorro está arredio por algum motivo. Já tentou atacar 2 outros; o que não é do seu feitio. Vou andá-lo para cansá-lo, afinal vou passar o dia em Ipanema e ele só tem dado problema. Tem ruído o sofá e qualquer coisa que tenha ponta. Quanto mais cansado, na teoria, menos apronta.|

No início da praia de Icaraí, como todo sábado, tendas armadas fazendo publicidade por permuta política. Hoje é um hospital em Ingá e, com tudo que vemos no noticiário, não tenho como não pensar que a "ação" é uma das contrapartidas que o político dá em troca do valor que ele leva na licitação, no superfaturamento das obras, dos produtos... Mas como se tocasse um sino, desperto destes pensamentos com o horrível som do violino de uma moça que toca no "evento". 

Vou em direção ao Ingá, mas não fujo da política por lá. Um senhor tem um megafone e um adesivo escrito "vovô" no chapéu em seu cuco. Aproveito que o cachorro está cansado pra ficar parado e ouvir o maluco. Ele aproveita a caminhada matinal pra fazer pronunciamentos políticos. Mas vive no passado, fala sobre as pessoas que votaram em "Moreira Franco". Tudo bem que não existe passado na política - os de ontem são so de hoje e os de amanhã sempre - mas ele não estava criticando sua ação atual de ministro e sim sua eleição de prefeito em Niterói há mais de 30 anos atrás. Uma vovó passa por ele e bate palmas, mesmo sem ter ouvido nada do que ele fala. A mera ilusão de um "semelhante" (leia-se um velho) exercendo sua voz e não sendo uma figura decorativa (embora fosse) lhe enchia os brios e a libertava da culpa do comodismo de ser ela própria uma figura decorativa sem responsabilidades com nada que não o passar dos tempos até sua morte.

Nas pedras da praia, tirando uma selfie com sua filha mais nova, uma moça rechonchuda e compacta - com uma calçola grande fazendo a hercúlea missão de segurar dentro todo aquele bundão - tenta mil poses e cliques para que a foto mais tarde renda muitos likes. Essa vive no futuro. E aí não aproveita o presente, se encontra ausente em baixo do sol intermitente, que, por causa da brisa, não se faz inconveniente.

Paro e penso, vendo esses exemplos de pessoas que vivem no passado e no futuro e, sabedor que equilíbrio emocional é viver no presente. me pergunto: como exatamente se vive no agora? Quem nessa praia vive o presente?

Não creio que o presente seja um valor absoluto. Ele não existe. O passado e o futuro tem sempre memórias e esperanças sendo adicionadas a ele. É eterno. Já o presente é sempre um único espaço/momento. E é sempre subtraído, dando lugar a outro. Talvez, o jeito certo de olhar isso, seja imaginar um espectro que contenha os três tempos, tipo um "nível" de construção, o qual temos que balancear para ficar o máximo ao centro/meio. Talvez, escrevendo sobre isso, que já é o meu passado e de alguma forma planta um futuro, eu esteja vivendo da melhor maneira um equilíbrio entre passado, presente e futuro.