terça-feira, outubro 30, 2018

No final das contas, todas essas coisas que tão acontecendo são movimentos de retorno ao ventre. É isso que o ser humano sempre tá buscando. Retornar ao momento e lugar mais perfeito que era o casulo dentro do corpo da sua mãe. Desde o trauma do corte do cordão umbilical até hoje foi só sofrimento e o ser humano médio, aquele que não se confronta muito, que não se põe muito diante do espelho, tenta voltar ao lugar mais próximo disso: a infância. A infância é sempre idealizada. E no caso da grande faixa etária do país, pessoas de 40 a 60 anos, a infância foi na ditadura. As crianças obviamente não sentiam os efeitos da ditadura - salvo a super minoria que tinha seus pais sequestrados, mortos etc. Então, no fundo no fundo, generalizando, tirando as que tem o mínimo de senso crítico; acham sim que a ditadura não foi um problema.
Esses movimentos onde o revolucionário e o reacionário trocam de lugar, esse movimento de retorno aos "valores" e preceitos vigentes na infância dos adultos "dominantes", tem acontecido a vida inteira e em todos os lugares - alguns bem sucedidos, outros não. E se serve de consolo, vai virar mais cedo ou mais tarde no Brasil, pois esses mais velhos vão morrendo e as pessoas da minha geração (anos 80-90) - cuja infância foi o momento de abertura pós-ditadura, de exaltação da liberdade e comunhão social - vão querer voltar para esse lugar de infância e vão "destronar" as tias bobocas e os fascistas convictos. E pra sempre ficaremos fazendo esses movimentos circulares. Cada um querendo voltar pra sua verdade de infância.
Sugestão quanto a tudo isso? Sei lá. Tenham filhos e façam a infância deles deliberadamente uma merda pra que eles não queiram nunca voltar pra esse momento? Mas nove foras do nilismo, temos que nos ligar que não somos carangueijos pra andar pra trás e finalmente construir futuro e não  remontar passado.