quarta-feira, outubro 06, 2021

 Esses filmes tipo física quântica do tempo ser cíclico, o início e fim serem na real um meio de um loop... eu sempre achei uma bobeira, mas mais e mais eu fico doido pensando que pode ser real e de repente a "morte" é descobrir como trick esse sistema e poder pular pra outro momento no "tempo" e realmente não tem isso de início meio e fim. A gente que criou narrativa pra fazer sentido dessa loucura toda que é o "tempo".

E essa minha revisão tem vindo muito por causa da música. Eu sempre falei que música é a linguagem do divino, ne? Se der um search aí no artur deve achar em algum momento eu falando isso, mas, se não escrevi, com certeza já falei em conversas por aí zilhões de vezes. Lembro inclusive, uma vez, caminhando pra PUC, de conversar isso com alguém. Talvez o Daniel Sydens... lembra dele? Enfim... falo isso porque porra... o que é a música? Como a gente acessa ela? Caralho, a música sucita tanta coisa... tipo, como o homem codificou o "som" pra definir o que era a nota e o que era o meio do caminho entre ela? E depois a combinação pra fazer acorde... pqp. Que bruxaria maravilhosa. Só pela música a experiência humana já vale a pena. 

Enfim, falei "codificou" porque os sons já existiam independente da gente. É de "Deus". E aí na hora da gente compor canções... como é isso? Como a gente acessa na nossa cabeça essas "alturas" de som e resolvemos combinar com outras e criar dinâmicas... nada disso tá dentro da gente, saca? A gente se conecta a alguma energia e traz do imaterial pra uma espécie de materialidade simulada.

Há quem seja tão escolado nessa bruxaria (chamar de ciência é muito pragmático pra mim) que acaba compondo com alguma lógica, intenção, método. Ou pelo menos eles dizem isso. Mas pra mim, um amante amador, sempre foi muito uma espécie de reza: você fecha os olhos, tira o máximo de razão do seu corpo e deixa ele ir sozinho na emoção, buscando os acordes que forem. Não manda muito. E isso acontecia tambem com as letras. Saía alguma frase/idéia qualquer da cabeça e em cima dela eu ia indo. Mesmo nos raps do Reverendo! Eu até pensava antes em um tema, no "o que eu quero falar nessa música?" e ficava ouvindo o beat milhões de vezes, pensando em um flow, até que em algum momento eu só cuspia a letra quase pronta e, por fim, dava alguma burilada só pra encaixar o que foi tão paixão que necessita razão pra fazer algum sentido.

Tendo dito tudo isso, voltemos pro lance do tempo:

Como eu posso explicar "Par ou Ímpar?", uma música que fiz em 2001, nem namorada eu tinha, sobre RELACIONAMENTO ABERTO? 

Eu nem sabia que isso existia. Muito menos que ia viver isso 18 anos depois.

E to lá falando "seu amor é par, mas o meu não é. eu só quero você como minha mulher". Eu fazia essas musicas e pensava "nao faz o menor sentido isso tudo, mas dane-se é só pra rimar". Só que hoje eu olho e caraca, o primeiro verso é a Lu, o segundo sou eu?

E depois, como explicar em "Queixo", que fiz em 2013, quando falo "abraço o meu unicórnio, o nome dele é Henrique, conheci ele no arco-íris lá de Recife"... 4 anos antes de conhecer o Henrique, gay, marido do Erick, de Recife?

Isso é a minha humanidade criando narrativa pra suportar o caos temporal? Ou será que se a gente fechar os olhos e se despir da razão a gente consegue ouvir os suspiros do passado e enxergar visões do futuro? E se aquela minha teoria da vida eterna for verdade? Sabe quando dizem que na hora que a gente vai morrer passa um filme da nossa vida? Então, imagina: você vai morrer e de repente revive a sua vida toda até o momento onde você vai morrer e aí passa um filme da sua vida e você revive ela toda até o momento onde você vai morrer e aí passa um filme da sua vida e... enfim, você nunca morre.

Se isso for verdade... talvez seja isso. Os deja vus, as intuições, a música e essas bruxarias são nada mais que resquícios dessa rerun interminável que é a vida. São os pequenos lapsos no meio da madrugada, entre uma pescada de sono e outra no sofá. Que são percebidos tão somente nos momentos de desconexão com nosso medo do caos. Nos momentos onde esquecemos a narrativa e abraçamos o randômico.

O que me leva a outra opinião doida e não-ortodoxa, de que o câncer e o Alzheimer não são doenças e sim mecanismos de purificação da maldição que é o viver. A vida é benção, mas o viver é uma maldição do caralho. O câncer mata tudo pra disso nascer um novo ser - o próprio, as vezes, mas sempre todos que o cercam. O Alzheimer vai pouco a pouco apagando tudo pra que saiamos desse loop viciante de falsas novidades.

Porque o sentido da vida é o novo. É a transformação. A repetição é a morte. 

No começo desse devaneio falei que a morte é descobrir como trick esse sistema e pular pra outro momento no tempo. Talvez não. Talvez seja o contrário. Talvez a morte seja o único jeito de pular fora dessa mesmice? Não sei. Só saí escrevendo o que saía de mim. 

Talvez seja algo que aprendi no futuro?