domingo, dezembro 23, 2018

Natal tá aí e com todas as necessárias problematizações que a humanidade vem fazendo em relação ao machismo, ao conceito de poder, desperdício etc. eu fico pensando como a tradição de “dar presentes” faz intercessão com tudo isso e merece também ser revista.

Eu acho que posso me arriscar a dizer: eu não gosto de receber presentes.

A parada é a seguinte: a medida que você envelhece, você não quer mais perder tempo com coisas que você não tem certeza se precisa. “Eu só quero saber do que pode dar certo”, diz a música dos Titãs. E é mó verdade. Quais as chances do presenteador te dar EXATAMENTE o que você quer ou precisa?

Se você pensar na crise de espaço que existe num mundo superpopulado - em especial nas cidades - com a oferta imobiliária ficando cada vez limitada e ruim... não faz sentido você dar algo que vai ocupar ainda mais espaço! É mó doideira o quanto de objetos e coisas nós acumulamos também por conta dessa pressão social de “dar presente”. Em última análise, o ato de presentear é até invasivo. Sério, é tão século passado. É um pequeno estupro; os outros te forçam a querer algo que na maioria das vezes fala mais deles do que de você. Te dão um quadro e agora você tem que pendurar aquilo para que, de dois em dois meses, quando o presenteador vem te visitar, admire o símbolo de que ele é um bom amigo a ponto de ter um quadro na parede dado por ele. Um monumento ao seu ego. É fácil pros outros falarem “Ai, que amargo. Ela deu com mó boa vontade e você reclama” afinal de contas, não são elas que acordarão todos os dia de suas vidas e olharão para aquele algo indesejado ocupando espaço. E aí vai somando, nós começamos a ter que achar espaço pra todas essas coisas, virando em última instância, um colecionador de coisas que são suas donas e não o contrário; afinal está refém delas.

Então, sim, minha nova coisa é: não me de presentes, sou contra. AKA to pobre, então justifico com essa narrativa, minha ausência de contribuição ao pé da sua árvore de natal.