Nossa, comi demais nesse Natal.
O que me leva a pensar... o ato de comer é uma coisa muito estranha. Não me leve a mal; eu adoro comer. Mas é muito frustrante, chato e inconveniente o fato de que você tem que comer TODA HORA! Você come uma coisa; logo depois tá com fome de novo.
Mas tem uma beleza poética na metáfora que faz da gente: um saco existencial furado onde não importa o que você coloca, sempre cai, deixando-lhe vazio e você precisa de mais e mais e mais.
quinta-feira, dezembro 27, 2018
domingo, dezembro 23, 2018
Natal tá aí e com todas as necessárias problematizações que a humanidade vem fazendo em relação ao machismo, ao conceito de poder, desperdício etc. eu fico pensando como a tradição de “dar presentes” faz intercessão com tudo isso e merece também ser revista.
Eu acho que posso me arriscar a dizer: eu não gosto de receber presentes.
A parada é a seguinte: a medida que você envelhece, você não quer mais perder tempo com coisas que você não tem certeza se precisa. “Eu só quero saber do que pode dar certo”, diz a música dos Titãs. E é mó verdade. Quais as chances do presenteador te dar EXATAMENTE o que você quer ou precisa?
Se você pensar na crise de espaço que existe num mundo superpopulado - em especial nas cidades - com a oferta imobiliária ficando cada vez limitada e ruim... não faz sentido você dar algo que vai ocupar ainda mais espaço! É mó doideira o quanto de objetos e coisas nós acumulamos também por conta dessa pressão social de “dar presente”. Em última análise, o ato de presentear é até invasivo. Sério, é tão século passado. É um pequeno estupro; os outros te forçam a querer algo que na maioria das vezes fala mais deles do que de você. Te dão um quadro e agora você tem que pendurar aquilo para que, de dois em dois meses, quando o presenteador vem te visitar, admire o símbolo de que ele é um bom amigo a ponto de ter um quadro na parede dado por ele. Um monumento ao seu ego. É fácil pros outros falarem “Ai, que amargo. Ela deu com mó boa vontade e você reclama” afinal de contas, não são elas que acordarão todos os dia de suas vidas e olharão para aquele algo indesejado ocupando espaço. E aí vai somando, nós começamos a ter que achar espaço pra todas essas coisas, virando em última instância, um colecionador de coisas que são suas donas e não o contrário; afinal está refém delas.
Então, sim, minha nova coisa é: não me de presentes, sou contra. AKA to pobre, então justifico com essa narrativa, minha ausência de contribuição ao pé da sua árvore de natal.
Eu acho que posso me arriscar a dizer: eu não gosto de receber presentes.
A parada é a seguinte: a medida que você envelhece, você não quer mais perder tempo com coisas que você não tem certeza se precisa. “Eu só quero saber do que pode dar certo”, diz a música dos Titãs. E é mó verdade. Quais as chances do presenteador te dar EXATAMENTE o que você quer ou precisa?
Se você pensar na crise de espaço que existe num mundo superpopulado - em especial nas cidades - com a oferta imobiliária ficando cada vez limitada e ruim... não faz sentido você dar algo que vai ocupar ainda mais espaço! É mó doideira o quanto de objetos e coisas nós acumulamos também por conta dessa pressão social de “dar presente”. Em última análise, o ato de presentear é até invasivo. Sério, é tão século passado. É um pequeno estupro; os outros te forçam a querer algo que na maioria das vezes fala mais deles do que de você. Te dão um quadro e agora você tem que pendurar aquilo para que, de dois em dois meses, quando o presenteador vem te visitar, admire o símbolo de que ele é um bom amigo a ponto de ter um quadro na parede dado por ele. Um monumento ao seu ego. É fácil pros outros falarem “Ai, que amargo. Ela deu com mó boa vontade e você reclama” afinal de contas, não são elas que acordarão todos os dia de suas vidas e olharão para aquele algo indesejado ocupando espaço. E aí vai somando, nós começamos a ter que achar espaço pra todas essas coisas, virando em última instância, um colecionador de coisas que são suas donas e não o contrário; afinal está refém delas.
Então, sim, minha nova coisa é: não me de presentes, sou contra. AKA to pobre, então justifico com essa narrativa, minha ausência de contribuição ao pé da sua árvore de natal.
sexta-feira, dezembro 21, 2018
Às vezes eu fico pensando se a forma como as obras “de época” retratam a linguagem não é um grande equívoco. Se, caso construíssemos uma máquina do tempo e visitássemos 1500 não nos surpreenderíamos de ver que ninguém falava daquele jeito “rebuscado”. E mais: que não é o caso do linguajar não-coloquial ter caído em desuso e sim o fato de que ele nunca foi para a lingua falada; apenas escrita.
Explico: quando escrevemos não traduzimos a forma com a gente, de fato, fala. Tudo bem; hoje em dias até existe a liberdade pra fazer isso, mas ainda o quanto livre e informal seja a nossa capacidade de comunicação escrita, naturalmente colocamos um chapeuzinho mais rebuscado na hora de escrever. (Tipo, olha o jeito como escrevi esse parágrafo! O pensamento de fala é diferente do de escrita; não tem como. Aquele é errático e este pensado)
Fico pensando se quando vemos os caras falando “Vosmicê deveria falar com a Senhorita e oferecê-la um regalo para conquistá-la” eles já não falavam “Coé, lek. Chega na gata e dá um bregueti que ela gama!”
Aliás, não só na linguagem: em tudo!
Porra, as roupas! Aposto que geral ficava na vadiagem, camisa de botão aberto e aí, quando ia rolar foto ou pintura, todo mundo se emperiquetava com roupas, perucas etc. - porque era um grande momento social. Aquilo ia ficar “pra sempre”. Pensa no instagram: ninguém tira foto mulambento. A gatinha ajeita o soutien pro peito parecer maior, o gatinho estufa o muque pra parecer forte... essa é a parada; a gente quer se passar “melhor” para a posteridade. E acho que já rolava antigamente: escrevíamos rebuscado mas na rua era já era outro tipo de fala, estufávamos o peito, ficávamos eretos e compostos, mas assim que o flash pipocava, geral quebrava, tirava o sapato, zoava... até porque: com o calor do Rio de Janeiro e aquelas roupas de antigamente? Impossível ficar engomado daquele jeito.
Explico: quando escrevemos não traduzimos a forma com a gente, de fato, fala. Tudo bem; hoje em dias até existe a liberdade pra fazer isso, mas ainda o quanto livre e informal seja a nossa capacidade de comunicação escrita, naturalmente colocamos um chapeuzinho mais rebuscado na hora de escrever. (Tipo, olha o jeito como escrevi esse parágrafo! O pensamento de fala é diferente do de escrita; não tem como. Aquele é errático e este pensado)
Fico pensando se quando vemos os caras falando “Vosmicê deveria falar com a Senhorita e oferecê-la um regalo para conquistá-la” eles já não falavam “Coé, lek. Chega na gata e dá um bregueti que ela gama!”
Aliás, não só na linguagem: em tudo!
Porra, as roupas! Aposto que geral ficava na vadiagem, camisa de botão aberto e aí, quando ia rolar foto ou pintura, todo mundo se emperiquetava com roupas, perucas etc. - porque era um grande momento social. Aquilo ia ficar “pra sempre”. Pensa no instagram: ninguém tira foto mulambento. A gatinha ajeita o soutien pro peito parecer maior, o gatinho estufa o muque pra parecer forte... essa é a parada; a gente quer se passar “melhor” para a posteridade. E acho que já rolava antigamente: escrevíamos rebuscado mas na rua era já era outro tipo de fala, estufávamos o peito, ficávamos eretos e compostos, mas assim que o flash pipocava, geral quebrava, tirava o sapato, zoava... até porque: com o calor do Rio de Janeiro e aquelas roupas de antigamente? Impossível ficar engomado daquele jeito.
terça-feira, outubro 30, 2018
No final das contas, todas essas coisas que tão acontecendo são movimentos de retorno ao ventre. É isso que o ser humano sempre tá buscando. Retornar ao momento e lugar mais perfeito que era o casulo dentro do corpo da sua mãe. Desde o trauma do corte do cordão umbilical até hoje foi só sofrimento e o ser humano médio, aquele que não se confronta muito, que não se põe muito diante do espelho, tenta voltar ao lugar mais próximo disso: a infância. A infância é sempre idealizada. E no caso da grande faixa etária do país, pessoas de 40 a 60 anos, a infância foi na ditadura. As crianças obviamente não sentiam os efeitos da ditadura - salvo a super minoria que tinha seus pais sequestrados, mortos etc. Então, no fundo no fundo, generalizando, tirando as que tem o mínimo de senso crítico; acham sim que a ditadura não foi um problema.
Esses movimentos onde o revolucionário e o reacionário trocam de lugar, esse movimento de retorno aos "valores" e preceitos vigentes na infância dos adultos "dominantes", tem acontecido a vida inteira e em todos os lugares - alguns bem sucedidos, outros não. E se serve de consolo, vai virar mais cedo ou mais tarde no Brasil, pois esses mais velhos vão morrendo e as pessoas da minha geração (anos 80-90) - cuja infância foi o momento de abertura pós-ditadura, de exaltação da liberdade e comunhão social - vão querer voltar para esse lugar de infância e vão "destronar" as tias bobocas e os fascistas convictos. E pra sempre ficaremos fazendo esses movimentos circulares. Cada um querendo voltar pra sua verdade de infância.
Sugestão quanto a tudo isso? Sei lá. Tenham filhos e façam a infância deles deliberadamente uma merda pra que eles não queiram nunca voltar pra esse momento? Mas nove foras do nilismo, temos que nos ligar que não somos carangueijos pra andar pra trás e finalmente construir futuro e não remontar passado.
Esses movimentos onde o revolucionário e o reacionário trocam de lugar, esse movimento de retorno aos "valores" e preceitos vigentes na infância dos adultos "dominantes", tem acontecido a vida inteira e em todos os lugares - alguns bem sucedidos, outros não. E se serve de consolo, vai virar mais cedo ou mais tarde no Brasil, pois esses mais velhos vão morrendo e as pessoas da minha geração (anos 80-90) - cuja infância foi o momento de abertura pós-ditadura, de exaltação da liberdade e comunhão social - vão querer voltar para esse lugar de infância e vão "destronar" as tias bobocas e os fascistas convictos. E pra sempre ficaremos fazendo esses movimentos circulares. Cada um querendo voltar pra sua verdade de infância.
Sugestão quanto a tudo isso? Sei lá. Tenham filhos e façam a infância deles deliberadamente uma merda pra que eles não queiram nunca voltar pra esse momento? Mas nove foras do nilismo, temos que nos ligar que não somos carangueijos pra andar pra trás e finalmente construir futuro e não remontar passado.
sábado, outubro 06, 2018
CRÔNICAS DE FIM
Capítulo 1
O bar de Geovani se chamava “Regininha” por conta do estabelecimento que antes existia ali; uma padaria fundada em 1950 por seu Antônio. Portuga clássico, chegara em Sergipe vindo da Bahia, vindo dos Açores. Batizou de Confeitaria Regininha em homenagem a sua primogênita de mesmo nome.
Mas Geovani só sabia disso por ouvir a história. Quando começara a trabalhar no Regininha, no começo dos anos 1980, o estabelecimento já era comandado pela própria; uma então quarentona que relembrava sempre a história de seu saudoso pai.
Tão logo veio o plano Collor e Dona Regina levou um tombo. No caso, financeiro. Mas Seu Edmundo, seu marido, se acidentara literalmente - dizem as más línguas que no banheiro, ao tentar observar pelo basculante a vizinha do apartamento ao lado. Na queda, fissurou a bacia e passou a necessitar fisioterapia qualificada - inexistente à época em Aracajú - para recuperar 100% de seus movimentos. Não havia jeito; eles teriam que se mudar para o Sudeste.
Dona Regina bem que tentou vender a confeitaria, mas além de não ter tempo nem disposição para fazê-lo, a verdade é que não haveria quem comprasse. Como estava devendo uma boa quantia para Geovani - seu último funcionário restante - propôs que ele tocasse a operação em troca de um aluguel mensal da estrutura e do lugar. O lucro podia ficar para ele.
Geovani aceitou. Não tinha nada a perder e também mal sabia dimensionar a dificuldade do desafio que se apresentava.
Ele tentou por um tempo levar a padaria, mas a conta não fechava. Pra piorar, sua filha Rosana - protagonista desta história - acabara de nascer. Precisando fazer algo drástico, não quis nem saber: vendeu forno, vendeu forma, vendeu cesto, vendeu até a bike com a qual sua esposa entregava pão - tudo sem consentimento de Dona Regina: que a bem da verdade tava pouco se fudendo; só queria o aluguel - e transformou o lugar na única coisa que acreditava ter potencial de trazer clientela: um boteco pé sujo.
Não foi sucesso de cara. A margem de lucro de cerveja e pinga não é fácil e a clientela humilde não gastava em luxos como salgados. Álcool e nada mais.
Era 1996 pra 1997 quando Geovani fez uma oferta para comprar o imóvel de Dona Regina. Como estava re-estabelecida financeiramente e sem nenhum plano de voltar pra Sergipe, ficou feliz de ganhar um dinheirinho inesperado; pagou a viagem à Disney que fez com os netos.
Tal qual Dona Regina, Rosana crescera no negócio de seu pai. Sempre respeitada pelos bebuns humildes, Rosana passou por todas as áreas do Regininha: seu primeiro trabalho foi ficar quietinha esperando seu pai e mãe fecharem o caixa, depois passou a ajudar na faxina bimestral, depois serviu, depois fechava ela o caixa. Junto com o bom momento que Sergipe, o Nordeste e o Brasil passavam, o negócio foi florescendo. Com dinheiro no bolso, os bebuns começaram até a gastar dinheiro com o bolinho de bacalhau - receita autêntica do velho seu Antonio - que o Regininha servia.
Mas diferente de Dona Regina, Rosana foi estimulada a sonhar e acreditar no seu protagonismo. Por seus pais e por seu país. Era a filha única, a primeira que iria cursar faculdade. E Sergipe crescia, desenvolvia. O Brasileiro estava otimista; a clientela do Regininha não mais bebia para lamentar, mas sim para celebrar. Alguns, em verdade, nem mais bebiam; tinham se convertido evangélicos. Passaram a trazer a esposa e os filhos juntos, pois, com bolsa família, podiam se dar ao luxo de passar um domingo no Regininha com eles comendo feijoada e assistindo futebol e Domingão do Faustão na Globo. Fora o forró, pros que não tinham esposa.
Era quase final dos anos 2000. Já adolescente, Rosana começou a buzinar a orelha de seu pai para que ele expandisse e remodelasse o Regininha. Geovani desconversava. Por um lado gostava e admirava a capacidade de sonhar de sua filha - lutara para que ela a tivesse! - mas por outro sentia que era um pouco ingenuidade dela. O adágio que fala que *alegria de pobre dura pouco* o fazia recorrer a outra “sabedoria popular” socialmente discriminatória e dizer que sabia qual era o seu lugar. Mas Rosana sabia melhor.
Levou o pai às lágrimas numa agência de um desses bancos cuja estratégia era exatamente fazer linha de crédito pra baixa renda: conseguiram um empréstimo - o primeiro da vida de Geovani - para, a toque de caixa, reformar o bar adicionando chopeira, um cardápio, TV e nova disposição. Ao todo, o bar ficou fechado por apenas 1 mês e meio.
A estratégia deu certíssimo do ponto de vista financeiro. A repaginada fez toda a diferença e a clientela fixa deu o suporte para a vinda de novos frequentadores que, de repente, notaram a existência e a vibrância do Regininha e resolveram averiguar qual era a do lugar.
Rosana prestava “consultoria” vez ou outra, mas estava focada na UFS (Universidade Federal de Sergipe), onde cursava enfermagem. Se o plano Real resetou o sistema e fez Geovani botar a cabeça pra fora, o fome zero e o bolsa família deram poder de compra pra seus clientes e tudo começou a caminhar a contento.
Até que 2014 chegou e tudo mudou.
Geovani adoeceu. Câncer. Rosana teve que trancar a faculdade para tocar o Regininha. Sua mãe ficava encarregada de todo o necessário suporte a Geovani, entrando e saindo de internação no hospital.
Uma vez que de tão onipresente a tragédia passou a ficar de pano de fundo, Rosana começou a reparar o quanto a clientela do Regininha tinha mudado. A contagem de cabeça talvez tivesse até melhorado. A quantidade de consumo, com certeza. Mas os extratos populacionais eram outros.
Os bêbados originais mal davam as caras. Colegas da sua antiga escola - cujos pais tinham ascendido financeiramente de tal maneira a ponto de irem estudar em escola particular - frequentavam o bar. Paravam seus Audis e HB20s tunados na porta - às vezes com o som ridiculamente alto tocando - e bebiam além da conta, jogavam sinuca, assistiam UFC ou futebol - afinal o Regininha tinha feito este investimento num gatonet para ter Combate e PFC - e volta e meia arrumavam confusão entre si ou com outros... mas sempre compravam o perdão de Rosana deixando uma gorjeta desproporcional ao consumo.
Preocupada com os crescentes tumultos e a crescente ausência da clientela original - estimulada tanto pelos novos clientes quanto pela gentrificação em Aracajú - Rosana contratou um segurança para lhe dar suporte. Mas a situação era complicada, afinal, entre os machos bestas e frágeis, tinha filho de político e policial que andava armado fora do serviço. O segurança era apenas alguém desproporcionalmente grande que servia supostamente pra botar medo.
A melhor coisa do Regininha tinha se perdido: a alma do encontro. Com a histeria coletiva que passou a tomar conta do país, o lugar virou um reduto de débeis extremistas e à partir do impeachment de 2016 o trem descarrilhou. Vindicados pelo Golpe, os frequentadores classe média que acham que são ricos - porque não tinha nenhum milionário ali; era só um bando de “filho de” - destilavam sem vergonha todos seus preconceitos, burrices e inseguranças. Rosana se poupava e era poupada das conversas de que “toda mulher é puta”, que “preto só faz prentice” e outras coisas de quem tem pouca massa encefálica e zero empatia.
Mas o desconforto, lógico, batia em Rosana.
Aquele dinheiro que parecia entrar em hordas, ela percebeu, era muito pouco para o que ele estava comprando: sua integridade. A nota fiscal dizia balde de cerveja, ice e vodka, mas a verdade é que, ao frequentar o Regininha, estes imbecis compravam duas coisas não-declaradas: dali pra fora, um álibi de que não eram racistas ou machistas - afinal; frequentavam o que, apesar de toda a reforma, ainda era em alma um pé sujo, um “bar de pobre” com nome de uma mulher, comandado por uma mulher - e, dali pra dentro, compravam a certeza de que aquela era a exceção que comprovava a regra dos estúpidos, porque, apesar de mulher, preta e pobre, *Rosaninha* era querida por todos; tinha “alma de branco”.
Foi ficando cada vez mais difícil pra ela. O ódio e o preconceito sempre mascaram um problema da pessoa com a sua própria existência. Eles começam a projetar nos outros todas as coisas às quais não tem força ou capacidade de lidar. Nunca lhes é suficiente. Começa com o cortar da unha, até chegar ao cortar da cabeça.
Marcão, o segurança - preto como a noite - foi o primeiro a sentir na pele o peso da sua pele. Durante uma noite de UFC, uma das mesas de babacas começou a ver no celular o video de Jair Bolsonaro falando de pretos que não serviam nem para procriação. Um deles - bêbado após meio copo de Red Bull com Uísque - levantou alto, cambaleante e com bafo abraçou o segurança:
- “Menos o Marcão! Ouvi falar que o Marcão tem uma jeba; comeu todo mundo lá em Lamarão!”
Marcão, sentado em sua banqueta, na dele, alerta observando o movimento, só falou: “Não encosta em mim, Playboy.”
Foi o suficiente pro clima esquentar. Não fizeram nada. São frouxos. Mas ficou a promessa. E pouco a pouco, a cada absurdo que Bolsonaro falava e fazia publicamente, foram ganhando a coragem que não tinham para serem tão imbecis quanto seu porta-voz.
Numa tarde, antes de Marcão chegar ao serviço, um dos merdas apareceu com um pôster de Bolsonaro para prender na parede do bar. Rosana ainda tentou argumentar que não queria o pôster ali; disse que não queria se envolver papo de política, que o Regininha não tinha qualquer posicionamento. O babaca ainda fez o bom moço e disse que respeitava a posição dela - como se ele tivesse algum direito a opinião sobre o que ela faria com o estabelecimento comercial e próprio dela... - mas deu aquela ameaçadinha dizendo que a clientela toda dela era Bolsonaro e ela devia pensar bem se ela não queria que eles se sentissem bem-vindos ali.
Rosana era inteligente o suficiente pra perceber que o caldo estava entornando. E malandra o suficiente pra saber escolher quais as batalhas enfrentar: quando começaram a deixar santinhos de Bolsonaro no balcão do bar, ela simplesmente fingia que não via e, quando a pessoa que deixara o material ia embora, ela simplesmente pegava o bolo e discretamente jogava no lixo.
Apesar de ter mutado todos os grupos de WhatsApp aos quais era re-incidentemente inserida, ela sempre olhava as barbaridades que eram compartilhadas e isso foi lhe fazendo um mal. Rosana já não se encontrava em si. Rosana era uma velha lembrança.
O desespero deu lugar à desesperança quando, faltando uma semana para o primeiro turno, Seu Geovani faleceu.
O luto de Rosana foi respeitosamente interrompido por uma mensagem de seus clientes mais charmosos. Ele teve a delicadeza de mandar lírios para Rosana e sua mãe e, representando todos os outros clientes, a inquiriu sobre uma causa muito nobre: queriam saber se o Regininha ia abrir para a grande luta entre Connor McGregor e Khabib Nurmagomedov pelo UFC 229.
O evento era sábado, 6 de outubro. Momentos antes de dar meia noite e a lei seca entrar em vigor por conta do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018.
Rosana demorou a responder aquela mensagem grotesca e insensível. Coletou os pensamentos, interiorizou a raiva, absorveu coragem e engoliu as lágrimas. Como todas as mulheres, seu corpo era pequeno, mas seu interior infinito.
Ela tinha um plano.
Respondeu: “Mas é claro. Só uma noite de Regininha bombando vai arejar minha cabeça. Devo isso ao meu pai. Avisa todo mundo no zap que sábado o UFC vai ferver e, como não posso vender bebida no domingo, vai ser 2 por 1 emoji cerveja emoji cerveja emoji dinheiro voando”
Faltando poucas horas pra abrir, Rosana terminou de passar maquiagem e ajeitar o cabelo. Fizera chapinha. Nunca havia maquiado o rosto para trabalhar no bar. Nunca havia alisado o cabelo para qualquer ocasião. Mas aquela noite pedia.
Assim que Marcão subiu a grade do Regininha, já havia umas 5 pessoas prontas para entrar. Mal o evento começou e Rosana deu um sinal para Marcão. Subiu no balcão, abaixou o volume do sistema de som e falou pra todos: “Atenção, clientes! A melhor noite de hoje é aqui no Regininha! Avisa aos amigos! Rodada de cerva pra todo mundo de graça e um presente especial pra todos meus clientes que vierem! UHU!!!” e levantou sua blusa mostrando seus peitos cobertos apenas por um soutien.
A platéia de boçais foi a loucura. Após anunciar que ia servir pessoalmente cada mesa com o chopp de graça, Rosana procurou com os olhos Marcão, que sinalizou como se dissesse “missão cumprida”. Ele havia filmado e disparado nos grupos de WhatsApp.
Em pouco tempo, o Regininha tava com gente saindo pelo ladrão. Todo o pior tipo de pessoa de Aracajú estava se apertando pra ganhar chopp de graça e, se tudo der certo, ver um par de peitos da pretinha de cabelo liso do Regininha. Deu de tudo; casado que abandonou jantar de família, pai que esticou ali depois da festa de 3 anos da filha e até o pastor da Igreja em frente.
O que nenhum deles percebiam era que Rosana estava enganando e atraindo todos eles para o Regininha sim pela memória de seu pai; mas não da maneira que pensavam. Usando-se de seus conhecimentos intelectuais e interpessoais adquiridos do curso incompleto de enfermagem, Rosana descolou doses cavalares de Flunitrazepam (também conhecido como Rohypnol, ou “Boa-noite, Cinderela”). Tendo atraído toda sua clientela de Bolsominions, usaria o chopp de graça como cavalo de tróia para o “Boa-noite, Cinderela” que faria todos do bar dormirem até o fechamento das urnas às 17h do dia seguinte.
Os 200 e poucos votos a menos fariam diferença e tirariam Bolsonaro do primeiro turno? Dificilmente. E Rosana e Marcão tinham noção disso.
Mas não era essa questão.
A questão era fazer a coisa certa e cobrar de volta tudo que não vinha sendo declarado na nota fiscal da relação Rosana-Clientes.
Era tomar ação e fazer sua parte.
O plano foi indo bem. Marcão, normalmente parado, só se mexendo quando para apartar alguma confusão, estava volante. Passava pelas mesas para garantir que todos estavam bebendo seus drinks soníferos. Se alguém não tivesse, avisava a patroa, que ía até o cliente pessoalmente e, jogando charme, o fazia beber.
Até o momento em que Rosana foi puxada pelo braço num canto pelo mesmo cliente bom moço que mandara a mensagem. Era ex-colega de turma quando criança e emissário do resto. Rosana levou um susto e se armou, mas ele logo pediu desculpa e, com sorriso doce, falou:
- “Você tá bem?”
- “To e você?” - disse Rosana, dando dois beijinhos, como se tivesse encontrando-o.
- “Não... não é isso. Você tá bem? Negócio do seu pai...”
- “Ah... to triste, né? Mas ele vinha sofrendo muito... melhor assim.”
- “Claro, claro. Eu rezei muito por ele.”
- “Ai, brigada” - disse Rosana com uma falsidade...
- “Mas... você tá bem mesmo? Qualquer coisa você pode me falar.”
- “Eu to bem. Dentro do possível, eu to bem” - disse Rosana já um pouco começando a se enervar.
E não é que ele estava naquele papo de bêbado.... Rosana pensava que ele estava só forçando um cuidado, uma preocupação que não era genuína e não se comovia; qualquer máscara de humanidade daquele povo tinha caído há muito.
Mas Rosana leu errado. A preocupação não era com o seu mal-estar e sim com o seu *bem*-estar.
Ele logo foi falando que ela estava esquisita; toda arrumada, com cabelo alisado. Que muito estranhou ela subir no balcão - pior ainda quando levantou a blusa; ela “não era assim”.
O problema para ele era que, ao sair de trás do balcão, ao cuidar de si e se apresentar livre e pimentinha, Rosana traía a expectativa dele sobre ela. Diferente de seu finado pai, Rosana “não sabia o seu lugar”. Ela podia andar entre eles, mas só numa específica raia. Ela não era parte deles.
- “Na real eu só vim aqui porque eu vi o video e fiquei preocupado com você. Eu nem vinha... vou ser mesário amanhã. Não posso beber.”
Rosana olhou para o lugar onde ele estava e, de fato, não havia bebida alcoólica. Marcão não deve ter reparado.
Aquilo era um problema.
Se todo mundo começasse a cair no sono - e ela olhou no relógio e faltava pouco para o momento onde isso aconteceria - o “bom” e sóbrio moço poderia reparar a estranheza disso, juntar os pontos e criar um problema. De fato, olhando o salão; já se percebia um ou outro até meio encostados, prestes a entrarem no sono.
- “Eu não vou contar pra ninguém se você não contar pra ninguém” - disse Rosana, odiando ter que prostituir sua sedução para sobreviver.
- “Para com isso, Rosana! Você não é assim.”
O medo da escalada de volume da voz e da expressão corporal do bom moço ativou os canais lacrimais de Rosana. Depois, a raiva segurou todo o transbordar. Por fim, no fingimento, deixou uma lágrima furtiva cair: “Você tá certo. Eu não sou.”
Suspirou fundo e falou que tinha que resolver umas coisas rapidinho, mas que adoraria que ele a encontrasse na salinha de gerência que ficava nos fundos para que ela pudesse desabafar um pouco. Ela queria a “orelha amiga” dele, mas não aceitaria se ele não bebesse alguma coisa na conta da casa. Ele recusou, recusou, mas aceitou uma Schweppes Citrus, devidamente batizada com o “Boa-noite, Cinderela”.
Rosana explicou rapidamente para Marcão tudo que estava acontecendo e pediu que ficasse de olho - se alguma coisa acontecesse, que batesse à porta. Eles sairiam pela porta dos fundos.
O bom-moço nem reparou que a mesa ao lado da porta da salinha já estava nos braços de Morfeu. Ajeitava o cabelo excitado com o fato de ter um mano-a-mano com Rosana numa sala à noite. Na cabeça do machista isso é um convite para transar.
Quando Rosana fechou a porta atrás dela, o barulho ficou pra trás. E isso dava medo em Rosana, pois significava que do outro lado também não os ouviriam.
Mas essa história não tem final ruim.
O bom-moço logo tomou um golão de schweppes - Rosana e Marcão tinham botado o ar-condicionado quente para que todos sentissem calor e bebessem muito. Ele não teve tempo, nem oportunidade de fazer nenhuma investida. Rosana não teve que fazer muito além de ficar falando sobre estar triste com a morte do seu pai. Fraco, rapidinho o bom-moço começou a falar incongruências, dizer que tava com sono, até adormecer.
Na mesma hora, à porta bate-se 5 vezes.
É Marcão.
Ele abre, vê a cena e aponta com a cabeça pro salão: “Tá feito”.
Rosana anda com ele e vê a cena, 200 e tantos boçais largados um em cima do outro, pelo chão, pela mesa, pelas cadeiras. Só a TV anunciando: “Tá na hora do evento principal da noite!”
Marcão fecha todas as portas do Regininha. Só estão ali ele, ela e 200 e poucos fascistas eleitores de Bolsonaro.
- “Pegou o celular de todo mundo?”
- “Peguei”
- “Desligou o celular de todo mundo?”
- “Desliguei” - disse Marcão -“Tem certeza que esse povo vai dormir até as cinco?”
- “Até as oito. Mas ao meio-dia eu vou dar outra dose pra todo mundo. Não esquece do plano!”
O plano era, na madrugada de domingo pra segunda, com todo mundo dormindo - não só eles no bar, mas a cidade toda - “devolver” os fascistas desacordados para lugares perto da casa de cada um, ou outros lugares que corroborariam com a tese de que beberam tanto que ficaram desacordados na sarjeta. Depois disso, ambos fugiriam de carro rumo a algum lugar bem longe dali para nunca mais voltar.
- “Não era melhor tacar fogo na porra toda?”
- “Não. Eu quero que eles saibam. E sintam vergonha de contar que foram enganados por uma mulher preta e pobre.”
Quando Marcão coloca o “bom-moço” em cima de uma pilha de outros fascistas como quem derruba um saco de batata no chão, Rosana sobe mais uma vez em cima do balcão.
Saca seu telefone, põe a língua pra fora, ergue o dedo médio e tira uma selfie com os merdas todos ao fundo.
Envia a foto para todos os celulares presentes com uma mensagem de uma palavra: “Mitei.”
FIM (mas continua)
Capítulo 1
O bar de Geovani se chamava “Regininha” por conta do estabelecimento que antes existia ali; uma padaria fundada em 1950 por seu Antônio. Portuga clássico, chegara em Sergipe vindo da Bahia, vindo dos Açores. Batizou de Confeitaria Regininha em homenagem a sua primogênita de mesmo nome.
Mas Geovani só sabia disso por ouvir a história. Quando começara a trabalhar no Regininha, no começo dos anos 1980, o estabelecimento já era comandado pela própria; uma então quarentona que relembrava sempre a história de seu saudoso pai.
Tão logo veio o plano Collor e Dona Regina levou um tombo. No caso, financeiro. Mas Seu Edmundo, seu marido, se acidentara literalmente - dizem as más línguas que no banheiro, ao tentar observar pelo basculante a vizinha do apartamento ao lado. Na queda, fissurou a bacia e passou a necessitar fisioterapia qualificada - inexistente à época em Aracajú - para recuperar 100% de seus movimentos. Não havia jeito; eles teriam que se mudar para o Sudeste.
Dona Regina bem que tentou vender a confeitaria, mas além de não ter tempo nem disposição para fazê-lo, a verdade é que não haveria quem comprasse. Como estava devendo uma boa quantia para Geovani - seu último funcionário restante - propôs que ele tocasse a operação em troca de um aluguel mensal da estrutura e do lugar. O lucro podia ficar para ele.
Geovani aceitou. Não tinha nada a perder e também mal sabia dimensionar a dificuldade do desafio que se apresentava.
Ele tentou por um tempo levar a padaria, mas a conta não fechava. Pra piorar, sua filha Rosana - protagonista desta história - acabara de nascer. Precisando fazer algo drástico, não quis nem saber: vendeu forno, vendeu forma, vendeu cesto, vendeu até a bike com a qual sua esposa entregava pão - tudo sem consentimento de Dona Regina: que a bem da verdade tava pouco se fudendo; só queria o aluguel - e transformou o lugar na única coisa que acreditava ter potencial de trazer clientela: um boteco pé sujo.
Não foi sucesso de cara. A margem de lucro de cerveja e pinga não é fácil e a clientela humilde não gastava em luxos como salgados. Álcool e nada mais.
Era 1996 pra 1997 quando Geovani fez uma oferta para comprar o imóvel de Dona Regina. Como estava re-estabelecida financeiramente e sem nenhum plano de voltar pra Sergipe, ficou feliz de ganhar um dinheirinho inesperado; pagou a viagem à Disney que fez com os netos.
Tal qual Dona Regina, Rosana crescera no negócio de seu pai. Sempre respeitada pelos bebuns humildes, Rosana passou por todas as áreas do Regininha: seu primeiro trabalho foi ficar quietinha esperando seu pai e mãe fecharem o caixa, depois passou a ajudar na faxina bimestral, depois serviu, depois fechava ela o caixa. Junto com o bom momento que Sergipe, o Nordeste e o Brasil passavam, o negócio foi florescendo. Com dinheiro no bolso, os bebuns começaram até a gastar dinheiro com o bolinho de bacalhau - receita autêntica do velho seu Antonio - que o Regininha servia.
Mas diferente de Dona Regina, Rosana foi estimulada a sonhar e acreditar no seu protagonismo. Por seus pais e por seu país. Era a filha única, a primeira que iria cursar faculdade. E Sergipe crescia, desenvolvia. O Brasileiro estava otimista; a clientela do Regininha não mais bebia para lamentar, mas sim para celebrar. Alguns, em verdade, nem mais bebiam; tinham se convertido evangélicos. Passaram a trazer a esposa e os filhos juntos, pois, com bolsa família, podiam se dar ao luxo de passar um domingo no Regininha com eles comendo feijoada e assistindo futebol e Domingão do Faustão na Globo. Fora o forró, pros que não tinham esposa.
Era quase final dos anos 2000. Já adolescente, Rosana começou a buzinar a orelha de seu pai para que ele expandisse e remodelasse o Regininha. Geovani desconversava. Por um lado gostava e admirava a capacidade de sonhar de sua filha - lutara para que ela a tivesse! - mas por outro sentia que era um pouco ingenuidade dela. O adágio que fala que *alegria de pobre dura pouco* o fazia recorrer a outra “sabedoria popular” socialmente discriminatória e dizer que sabia qual era o seu lugar. Mas Rosana sabia melhor.
Levou o pai às lágrimas numa agência de um desses bancos cuja estratégia era exatamente fazer linha de crédito pra baixa renda: conseguiram um empréstimo - o primeiro da vida de Geovani - para, a toque de caixa, reformar o bar adicionando chopeira, um cardápio, TV e nova disposição. Ao todo, o bar ficou fechado por apenas 1 mês e meio.
A estratégia deu certíssimo do ponto de vista financeiro. A repaginada fez toda a diferença e a clientela fixa deu o suporte para a vinda de novos frequentadores que, de repente, notaram a existência e a vibrância do Regininha e resolveram averiguar qual era a do lugar.
Rosana prestava “consultoria” vez ou outra, mas estava focada na UFS (Universidade Federal de Sergipe), onde cursava enfermagem. Se o plano Real resetou o sistema e fez Geovani botar a cabeça pra fora, o fome zero e o bolsa família deram poder de compra pra seus clientes e tudo começou a caminhar a contento.
Até que 2014 chegou e tudo mudou.
Geovani adoeceu. Câncer. Rosana teve que trancar a faculdade para tocar o Regininha. Sua mãe ficava encarregada de todo o necessário suporte a Geovani, entrando e saindo de internação no hospital.
Uma vez que de tão onipresente a tragédia passou a ficar de pano de fundo, Rosana começou a reparar o quanto a clientela do Regininha tinha mudado. A contagem de cabeça talvez tivesse até melhorado. A quantidade de consumo, com certeza. Mas os extratos populacionais eram outros.
Os bêbados originais mal davam as caras. Colegas da sua antiga escola - cujos pais tinham ascendido financeiramente de tal maneira a ponto de irem estudar em escola particular - frequentavam o bar. Paravam seus Audis e HB20s tunados na porta - às vezes com o som ridiculamente alto tocando - e bebiam além da conta, jogavam sinuca, assistiam UFC ou futebol - afinal o Regininha tinha feito este investimento num gatonet para ter Combate e PFC - e volta e meia arrumavam confusão entre si ou com outros... mas sempre compravam o perdão de Rosana deixando uma gorjeta desproporcional ao consumo.
Preocupada com os crescentes tumultos e a crescente ausência da clientela original - estimulada tanto pelos novos clientes quanto pela gentrificação em Aracajú - Rosana contratou um segurança para lhe dar suporte. Mas a situação era complicada, afinal, entre os machos bestas e frágeis, tinha filho de político e policial que andava armado fora do serviço. O segurança era apenas alguém desproporcionalmente grande que servia supostamente pra botar medo.
A melhor coisa do Regininha tinha se perdido: a alma do encontro. Com a histeria coletiva que passou a tomar conta do país, o lugar virou um reduto de débeis extremistas e à partir do impeachment de 2016 o trem descarrilhou. Vindicados pelo Golpe, os frequentadores classe média que acham que são ricos - porque não tinha nenhum milionário ali; era só um bando de “filho de” - destilavam sem vergonha todos seus preconceitos, burrices e inseguranças. Rosana se poupava e era poupada das conversas de que “toda mulher é puta”, que “preto só faz prentice” e outras coisas de quem tem pouca massa encefálica e zero empatia.
Mas o desconforto, lógico, batia em Rosana.
Aquele dinheiro que parecia entrar em hordas, ela percebeu, era muito pouco para o que ele estava comprando: sua integridade. A nota fiscal dizia balde de cerveja, ice e vodka, mas a verdade é que, ao frequentar o Regininha, estes imbecis compravam duas coisas não-declaradas: dali pra fora, um álibi de que não eram racistas ou machistas - afinal; frequentavam o que, apesar de toda a reforma, ainda era em alma um pé sujo, um “bar de pobre” com nome de uma mulher, comandado por uma mulher - e, dali pra dentro, compravam a certeza de que aquela era a exceção que comprovava a regra dos estúpidos, porque, apesar de mulher, preta e pobre, *Rosaninha* era querida por todos; tinha “alma de branco”.
Foi ficando cada vez mais difícil pra ela. O ódio e o preconceito sempre mascaram um problema da pessoa com a sua própria existência. Eles começam a projetar nos outros todas as coisas às quais não tem força ou capacidade de lidar. Nunca lhes é suficiente. Começa com o cortar da unha, até chegar ao cortar da cabeça.
Marcão, o segurança - preto como a noite - foi o primeiro a sentir na pele o peso da sua pele. Durante uma noite de UFC, uma das mesas de babacas começou a ver no celular o video de Jair Bolsonaro falando de pretos que não serviam nem para procriação. Um deles - bêbado após meio copo de Red Bull com Uísque - levantou alto, cambaleante e com bafo abraçou o segurança:
- “Menos o Marcão! Ouvi falar que o Marcão tem uma jeba; comeu todo mundo lá em Lamarão!”
Marcão, sentado em sua banqueta, na dele, alerta observando o movimento, só falou: “Não encosta em mim, Playboy.”
Foi o suficiente pro clima esquentar. Não fizeram nada. São frouxos. Mas ficou a promessa. E pouco a pouco, a cada absurdo que Bolsonaro falava e fazia publicamente, foram ganhando a coragem que não tinham para serem tão imbecis quanto seu porta-voz.
Numa tarde, antes de Marcão chegar ao serviço, um dos merdas apareceu com um pôster de Bolsonaro para prender na parede do bar. Rosana ainda tentou argumentar que não queria o pôster ali; disse que não queria se envolver papo de política, que o Regininha não tinha qualquer posicionamento. O babaca ainda fez o bom moço e disse que respeitava a posição dela - como se ele tivesse algum direito a opinião sobre o que ela faria com o estabelecimento comercial e próprio dela... - mas deu aquela ameaçadinha dizendo que a clientela toda dela era Bolsonaro e ela devia pensar bem se ela não queria que eles se sentissem bem-vindos ali.
Rosana era inteligente o suficiente pra perceber que o caldo estava entornando. E malandra o suficiente pra saber escolher quais as batalhas enfrentar: quando começaram a deixar santinhos de Bolsonaro no balcão do bar, ela simplesmente fingia que não via e, quando a pessoa que deixara o material ia embora, ela simplesmente pegava o bolo e discretamente jogava no lixo.
Apesar de ter mutado todos os grupos de WhatsApp aos quais era re-incidentemente inserida, ela sempre olhava as barbaridades que eram compartilhadas e isso foi lhe fazendo um mal. Rosana já não se encontrava em si. Rosana era uma velha lembrança.
O desespero deu lugar à desesperança quando, faltando uma semana para o primeiro turno, Seu Geovani faleceu.
O luto de Rosana foi respeitosamente interrompido por uma mensagem de seus clientes mais charmosos. Ele teve a delicadeza de mandar lírios para Rosana e sua mãe e, representando todos os outros clientes, a inquiriu sobre uma causa muito nobre: queriam saber se o Regininha ia abrir para a grande luta entre Connor McGregor e Khabib Nurmagomedov pelo UFC 229.
O evento era sábado, 6 de outubro. Momentos antes de dar meia noite e a lei seca entrar em vigor por conta do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018.
Rosana demorou a responder aquela mensagem grotesca e insensível. Coletou os pensamentos, interiorizou a raiva, absorveu coragem e engoliu as lágrimas. Como todas as mulheres, seu corpo era pequeno, mas seu interior infinito.
Ela tinha um plano.
Respondeu: “Mas é claro. Só uma noite de Regininha bombando vai arejar minha cabeça. Devo isso ao meu pai. Avisa todo mundo no zap que sábado o UFC vai ferver e, como não posso vender bebida no domingo, vai ser 2 por 1 emoji cerveja emoji cerveja emoji dinheiro voando”
Faltando poucas horas pra abrir, Rosana terminou de passar maquiagem e ajeitar o cabelo. Fizera chapinha. Nunca havia maquiado o rosto para trabalhar no bar. Nunca havia alisado o cabelo para qualquer ocasião. Mas aquela noite pedia.
Assim que Marcão subiu a grade do Regininha, já havia umas 5 pessoas prontas para entrar. Mal o evento começou e Rosana deu um sinal para Marcão. Subiu no balcão, abaixou o volume do sistema de som e falou pra todos: “Atenção, clientes! A melhor noite de hoje é aqui no Regininha! Avisa aos amigos! Rodada de cerva pra todo mundo de graça e um presente especial pra todos meus clientes que vierem! UHU!!!” e levantou sua blusa mostrando seus peitos cobertos apenas por um soutien.
A platéia de boçais foi a loucura. Após anunciar que ia servir pessoalmente cada mesa com o chopp de graça, Rosana procurou com os olhos Marcão, que sinalizou como se dissesse “missão cumprida”. Ele havia filmado e disparado nos grupos de WhatsApp.
Em pouco tempo, o Regininha tava com gente saindo pelo ladrão. Todo o pior tipo de pessoa de Aracajú estava se apertando pra ganhar chopp de graça e, se tudo der certo, ver um par de peitos da pretinha de cabelo liso do Regininha. Deu de tudo; casado que abandonou jantar de família, pai que esticou ali depois da festa de 3 anos da filha e até o pastor da Igreja em frente.
O que nenhum deles percebiam era que Rosana estava enganando e atraindo todos eles para o Regininha sim pela memória de seu pai; mas não da maneira que pensavam. Usando-se de seus conhecimentos intelectuais e interpessoais adquiridos do curso incompleto de enfermagem, Rosana descolou doses cavalares de Flunitrazepam (também conhecido como Rohypnol, ou “Boa-noite, Cinderela”). Tendo atraído toda sua clientela de Bolsominions, usaria o chopp de graça como cavalo de tróia para o “Boa-noite, Cinderela” que faria todos do bar dormirem até o fechamento das urnas às 17h do dia seguinte.
Os 200 e poucos votos a menos fariam diferença e tirariam Bolsonaro do primeiro turno? Dificilmente. E Rosana e Marcão tinham noção disso.
Mas não era essa questão.
A questão era fazer a coisa certa e cobrar de volta tudo que não vinha sendo declarado na nota fiscal da relação Rosana-Clientes.
Era tomar ação e fazer sua parte.
O plano foi indo bem. Marcão, normalmente parado, só se mexendo quando para apartar alguma confusão, estava volante. Passava pelas mesas para garantir que todos estavam bebendo seus drinks soníferos. Se alguém não tivesse, avisava a patroa, que ía até o cliente pessoalmente e, jogando charme, o fazia beber.
Até o momento em que Rosana foi puxada pelo braço num canto pelo mesmo cliente bom moço que mandara a mensagem. Era ex-colega de turma quando criança e emissário do resto. Rosana levou um susto e se armou, mas ele logo pediu desculpa e, com sorriso doce, falou:
- “Você tá bem?”
- “To e você?” - disse Rosana, dando dois beijinhos, como se tivesse encontrando-o.
- “Não... não é isso. Você tá bem? Negócio do seu pai...”
- “Ah... to triste, né? Mas ele vinha sofrendo muito... melhor assim.”
- “Claro, claro. Eu rezei muito por ele.”
- “Ai, brigada” - disse Rosana com uma falsidade...
- “Mas... você tá bem mesmo? Qualquer coisa você pode me falar.”
- “Eu to bem. Dentro do possível, eu to bem” - disse Rosana já um pouco começando a se enervar.
E não é que ele estava naquele papo de bêbado.... Rosana pensava que ele estava só forçando um cuidado, uma preocupação que não era genuína e não se comovia; qualquer máscara de humanidade daquele povo tinha caído há muito.
Mas Rosana leu errado. A preocupação não era com o seu mal-estar e sim com o seu *bem*-estar.
Ele logo foi falando que ela estava esquisita; toda arrumada, com cabelo alisado. Que muito estranhou ela subir no balcão - pior ainda quando levantou a blusa; ela “não era assim”.
O problema para ele era que, ao sair de trás do balcão, ao cuidar de si e se apresentar livre e pimentinha, Rosana traía a expectativa dele sobre ela. Diferente de seu finado pai, Rosana “não sabia o seu lugar”. Ela podia andar entre eles, mas só numa específica raia. Ela não era parte deles.
- “Na real eu só vim aqui porque eu vi o video e fiquei preocupado com você. Eu nem vinha... vou ser mesário amanhã. Não posso beber.”
Rosana olhou para o lugar onde ele estava e, de fato, não havia bebida alcoólica. Marcão não deve ter reparado.
Aquilo era um problema.
Se todo mundo começasse a cair no sono - e ela olhou no relógio e faltava pouco para o momento onde isso aconteceria - o “bom” e sóbrio moço poderia reparar a estranheza disso, juntar os pontos e criar um problema. De fato, olhando o salão; já se percebia um ou outro até meio encostados, prestes a entrarem no sono.
- “Eu não vou contar pra ninguém se você não contar pra ninguém” - disse Rosana, odiando ter que prostituir sua sedução para sobreviver.
- “Para com isso, Rosana! Você não é assim.”
O medo da escalada de volume da voz e da expressão corporal do bom moço ativou os canais lacrimais de Rosana. Depois, a raiva segurou todo o transbordar. Por fim, no fingimento, deixou uma lágrima furtiva cair: “Você tá certo. Eu não sou.”
Suspirou fundo e falou que tinha que resolver umas coisas rapidinho, mas que adoraria que ele a encontrasse na salinha de gerência que ficava nos fundos para que ela pudesse desabafar um pouco. Ela queria a “orelha amiga” dele, mas não aceitaria se ele não bebesse alguma coisa na conta da casa. Ele recusou, recusou, mas aceitou uma Schweppes Citrus, devidamente batizada com o “Boa-noite, Cinderela”.
Rosana explicou rapidamente para Marcão tudo que estava acontecendo e pediu que ficasse de olho - se alguma coisa acontecesse, que batesse à porta. Eles sairiam pela porta dos fundos.
O bom-moço nem reparou que a mesa ao lado da porta da salinha já estava nos braços de Morfeu. Ajeitava o cabelo excitado com o fato de ter um mano-a-mano com Rosana numa sala à noite. Na cabeça do machista isso é um convite para transar.
Quando Rosana fechou a porta atrás dela, o barulho ficou pra trás. E isso dava medo em Rosana, pois significava que do outro lado também não os ouviriam.
Mas essa história não tem final ruim.
O bom-moço logo tomou um golão de schweppes - Rosana e Marcão tinham botado o ar-condicionado quente para que todos sentissem calor e bebessem muito. Ele não teve tempo, nem oportunidade de fazer nenhuma investida. Rosana não teve que fazer muito além de ficar falando sobre estar triste com a morte do seu pai. Fraco, rapidinho o bom-moço começou a falar incongruências, dizer que tava com sono, até adormecer.
Na mesma hora, à porta bate-se 5 vezes.
É Marcão.
Ele abre, vê a cena e aponta com a cabeça pro salão: “Tá feito”.
Rosana anda com ele e vê a cena, 200 e tantos boçais largados um em cima do outro, pelo chão, pela mesa, pelas cadeiras. Só a TV anunciando: “Tá na hora do evento principal da noite!”
Marcão fecha todas as portas do Regininha. Só estão ali ele, ela e 200 e poucos fascistas eleitores de Bolsonaro.
- “Pegou o celular de todo mundo?”
- “Peguei”
- “Desligou o celular de todo mundo?”
- “Desliguei” - disse Marcão -“Tem certeza que esse povo vai dormir até as cinco?”
- “Até as oito. Mas ao meio-dia eu vou dar outra dose pra todo mundo. Não esquece do plano!”
O plano era, na madrugada de domingo pra segunda, com todo mundo dormindo - não só eles no bar, mas a cidade toda - “devolver” os fascistas desacordados para lugares perto da casa de cada um, ou outros lugares que corroborariam com a tese de que beberam tanto que ficaram desacordados na sarjeta. Depois disso, ambos fugiriam de carro rumo a algum lugar bem longe dali para nunca mais voltar.
- “Não era melhor tacar fogo na porra toda?”
- “Não. Eu quero que eles saibam. E sintam vergonha de contar que foram enganados por uma mulher preta e pobre.”
Quando Marcão coloca o “bom-moço” em cima de uma pilha de outros fascistas como quem derruba um saco de batata no chão, Rosana sobe mais uma vez em cima do balcão.
Saca seu telefone, põe a língua pra fora, ergue o dedo médio e tira uma selfie com os merdas todos ao fundo.
Envia a foto para todos os celulares presentes com uma mensagem de uma palavra: “Mitei.”
FIM (mas continua)
quarta-feira, outubro 03, 2018
Às vezes gosto de entrar no youtube e ver comentários de 2012 quando a vida era tão mais simples... fico pensando "nossa, você não imagina o que vem pela frente, amigo... olha como você tá de boa, comentando sobre trivialidades, sem necessidade de estar alerta, cheio de raiva e medo e como QUALQUER COISA NO MUNDO não precisa degringolar pra política e opressão..."
É bom. Ajuda por um momento.
É bom. Ajuda por um momento.
terça-feira, outubro 02, 2018
Faltam-me as palavras, sobra-me angústia.
Acho que nunca me senti tão mal como gradualmente tenho me sentido em relação ao mundo. Estou além do deprimido. Tomei ações, tirei gente da minha vida (e pretendo fazer isso mais), mas não tem sido o suficiente. O saber que a minha visão de mundo - enquanto um lugar de iguais oportunidades, de paz, sem discriminação, guiado por razão, baseado em fatos concretos (ciência) - foi derrotado e não tem mais chances de, pelo menos durante a minha vida, existir é... devastador.
Não sei como abstrair da minha dor. Tenho descontado na comida, mas minha mãe fica falando que estou gordo e outro dia o Lucas falou isso pra mim - e to mesmo, ta foda - o que acaba só trazendo mais angústia porque não quero comer, mas é o que eu consigo fazer... Exercício pra gastar energia e suar a dor? Como?! Não tenho tempo nem força pra isso. Acordo 7 horas, dirijo 1 hora pra ir e 1 pra voltar de um trab de 8h30 a 5h30 onde me sento e viro uma máquina que performa uma função sem pausas de um trabalho que não contribui pra nada nesse mundo e tem até um pézinho em coisas que fazem mal, se você parar pra pensar, e além de tudo me força a olhar as redes sociais e deprimir mais. Eu chego em casa e quero respirar... Sexo - sozinho ou acompanhado - com essa energia que estou e estamos; não rola. A vida não está um tesão pra quem tem empatia por coisas fora do seu círculo próximo. Pensei em tomar drogas. Ilícitas ou medicadas; acho que me prescreveriam. Total entendo agora tantos que vão pra elas pra escapar; vai ver fui um privilegiado até aqui e nunca senti angústia tão grande a ponto de ter que recorrer a elas...
Não falo em midias sociais muito sobre o quanto o fato desse fascista ter tanto apoio me faz mal por mil motivos. Um que venho reparando ser muito importante é exatamente que quem apóia ele quer mesmo é essa reação minha e de qualquer um que não esteja junto dele. É cruel, quer ver "lágrimas", pois muito já chorou. Mas ao invés de tratar isso como qualquer pessoa saudável o faria, recorre ao ódio. Corrige sua tristeza e sua exclusão excluindo e oprimindo mais gente. Se tem uma coisa que está no meu controle nisso tudo é isso: não dar-lhes este gosto.
Sim, porque já pensei em mil coisas mirabolantes que eu poderia fazer para ajudar a reverter esse quadro, mas é fútil da minha parte achar que tem algo a fazer. Ele pode até não ganhar, mas nós já perdemos. Eu, pelo menos; nossa! O quanto que já perdi... sono, paciência, respeito por pessoas, esperança e pudor.
Me conhecendo, sei que isso vai durar até o momento que o resultado for anunciado. Eu sofro sempre por antecedência, porque, uma vez que o conflito é declarado às claras, sou a primeira linha de ataque (veja bem; não é defesa). Eu to cheio de medo, sofrendo, calculando tudo... no pré. No momento que toca o sino, que se retiram as luvas, que "a cobra fuma"; muda tudo. Eu não to abobalhado entendendo o que tá acontecendo; eu to pronto pra agir. Sereno, silencioso e preciso. E o resultado não é bonito.
Não confundam meu pacifismo com passividade.
Acho que nunca me senti tão mal como gradualmente tenho me sentido em relação ao mundo. Estou além do deprimido. Tomei ações, tirei gente da minha vida (e pretendo fazer isso mais), mas não tem sido o suficiente. O saber que a minha visão de mundo - enquanto um lugar de iguais oportunidades, de paz, sem discriminação, guiado por razão, baseado em fatos concretos (ciência) - foi derrotado e não tem mais chances de, pelo menos durante a minha vida, existir é... devastador.
Não sei como abstrair da minha dor. Tenho descontado na comida, mas minha mãe fica falando que estou gordo e outro dia o Lucas falou isso pra mim - e to mesmo, ta foda - o que acaba só trazendo mais angústia porque não quero comer, mas é o que eu consigo fazer... Exercício pra gastar energia e suar a dor? Como?! Não tenho tempo nem força pra isso. Acordo 7 horas, dirijo 1 hora pra ir e 1 pra voltar de um trab de 8h30 a 5h30 onde me sento e viro uma máquina que performa uma função sem pausas de um trabalho que não contribui pra nada nesse mundo e tem até um pézinho em coisas que fazem mal, se você parar pra pensar, e além de tudo me força a olhar as redes sociais e deprimir mais. Eu chego em casa e quero respirar... Sexo - sozinho ou acompanhado - com essa energia que estou e estamos; não rola. A vida não está um tesão pra quem tem empatia por coisas fora do seu círculo próximo. Pensei em tomar drogas. Ilícitas ou medicadas; acho que me prescreveriam. Total entendo agora tantos que vão pra elas pra escapar; vai ver fui um privilegiado até aqui e nunca senti angústia tão grande a ponto de ter que recorrer a elas...
Não falo em midias sociais muito sobre o quanto o fato desse fascista ter tanto apoio me faz mal por mil motivos. Um que venho reparando ser muito importante é exatamente que quem apóia ele quer mesmo é essa reação minha e de qualquer um que não esteja junto dele. É cruel, quer ver "lágrimas", pois muito já chorou. Mas ao invés de tratar isso como qualquer pessoa saudável o faria, recorre ao ódio. Corrige sua tristeza e sua exclusão excluindo e oprimindo mais gente. Se tem uma coisa que está no meu controle nisso tudo é isso: não dar-lhes este gosto.
Sim, porque já pensei em mil coisas mirabolantes que eu poderia fazer para ajudar a reverter esse quadro, mas é fútil da minha parte achar que tem algo a fazer. Ele pode até não ganhar, mas nós já perdemos. Eu, pelo menos; nossa! O quanto que já perdi... sono, paciência, respeito por pessoas, esperança e pudor.
Me conhecendo, sei que isso vai durar até o momento que o resultado for anunciado. Eu sofro sempre por antecedência, porque, uma vez que o conflito é declarado às claras, sou a primeira linha de ataque (veja bem; não é defesa). Eu to cheio de medo, sofrendo, calculando tudo... no pré. No momento que toca o sino, que se retiram as luvas, que "a cobra fuma"; muda tudo. Eu não to abobalhado entendendo o que tá acontecendo; eu to pronto pra agir. Sereno, silencioso e preciso. E o resultado não é bonito.
Não confundam meu pacifismo com passividade.
quarta-feira, setembro 12, 2018
Todo mundo fala que minha mãe parece muito mais jovem do que ela é (e parece mesmo) e eu também meio que segui o padrão dela. Ninguém fala que eu tenho 33 (quase 34 agora).
No entanto, eu tenho reparado o quanto tenho envelhecido ultimamente e cheguei a conclusão que o segredo da minha juventude e da minha mãe é o fato de que nunca trabalhamos num emprego formal.
Sério.
Porque po, o Adri acho que ninguém fala que tem cara de muito mais jovem do que ele é. E agora que eu to fazendo esse tipo de trabalho, onde você fica sentado fazendo coisas repetitivas e sem sentido prático para o seu crescimento pessoal e, acima de tudo, sem sentido para o saciamento de suas vontades, eu tenho envelhecido rápido. Estou com ar de cansado. Diversos cabelos brancos na barba estão aparecendo.
Acho que nesse tipo de trabalho onde você conta as horas pra ir embora pois a vida está antes e depois desses momentos de suspensão, o corpo se dá conta de que o tempo está passando. Quando você tá em casa, sem rotina, buscando seus próprios projetos, o corpo se deixa levar e apenas vive. Quando você emocionalmente conta as horas, o tempo registra, bate ponto e fala "lá se foram 3 dias da sua vida; estou anotando no seu cartão de presença".
No entanto, eu tenho reparado o quanto tenho envelhecido ultimamente e cheguei a conclusão que o segredo da minha juventude e da minha mãe é o fato de que nunca trabalhamos num emprego formal.
Sério.
Porque po, o Adri acho que ninguém fala que tem cara de muito mais jovem do que ele é. E agora que eu to fazendo esse tipo de trabalho, onde você fica sentado fazendo coisas repetitivas e sem sentido prático para o seu crescimento pessoal e, acima de tudo, sem sentido para o saciamento de suas vontades, eu tenho envelhecido rápido. Estou com ar de cansado. Diversos cabelos brancos na barba estão aparecendo.
Acho que nesse tipo de trabalho onde você conta as horas pra ir embora pois a vida está antes e depois desses momentos de suspensão, o corpo se dá conta de que o tempo está passando. Quando você tá em casa, sem rotina, buscando seus próprios projetos, o corpo se deixa levar e apenas vive. Quando você emocionalmente conta as horas, o tempo registra, bate ponto e fala "lá se foram 3 dias da sua vida; estou anotando no seu cartão de presença".
quinta-feira, agosto 16, 2018
Apesar de ter muita coisa legal nesse podcast sobre R.E.M., eu me irrito varios momentos com o Scott Aukerman. A parada de resequenciar, então... isso me deixa possessos hahahah Coisa de fãzoca, I guess.
Mas nesse último ep sobre o Collapse into now ele falou uma coisa que destravou um pensamento na minha cabeça. Eu não gosto da produção do Jacknife Lee.
Não é nem o lance do loudness wars, tão falado na época. É porque eu acho que ele gravou muito mal os vocais do Stipe e nesse disco isso fica ainda mais claro. Me and Marlon Brando, Marlon Brando and I, por exemplo, ele ta cantando mega anasalado. E em vários momentos parece que ele não tá achando o pocket. A melodia fica QUASE fora do compasso, sabe? Não chega a atrapalhar, porque além da melodia ser muito boa (o cara é mestre), a voz também é sempre agradável. Mas parece que ele nao acha o pocket porque tambem ainda tá achando a melodia, saca? Nao sei, minha impressao é quase um misto de desdem do produtor de chegar e falar "peraí, vamos pensar isso e achar esse pocket?"ao invés de deixar daquele jeito, com um medo/vergonha de chegar prum cara da estatura do careca e falar "bro, not feeling it; treina mais umas vezes ai, vamos ter isso bonitinho". Mas fora isso, a gravação mesmo é ruim. Além desse exemplo do nasalado, ainda tem Oh my Heart que na parte "fechada" é até difícil de entender. Só que in a bad way... Não é o difícil de entender Mitch Easter e Don Dixon. É um enterrado ruim e feio. Quando abre no refrão é uma maravilha, mas mesmo assim... acho que ele não é bom na mixagem e gravação de vocal.
E aí me veio um pensamento que achei muito interessante. E se eles tivessem chamado o Scott Litt pra produzir esse disco? Como eles, teoricamente, ja sabiam que seria o último... não ia fazer sentido? E era o cara certo pra botar tudo bonitinho no lugar, ele sabe trabalhar a voz do careca como ninguém. Acho que, se o fizessem, esse disco - que ponho no panteão dos melhores do R.E.M. (fuck you, Scott Aukerman!) - poderia vir a ser, undeniably, o melhor da carreira deles.
Bold statement, huh?
Outra idéia, essa a little too on the nose, mas que faz sentido pra noção do "greatest hits do R.E.M. de uma realidade paralela": pegar Scott Litt, Mitch Easter e Don Dixon, Pat McCarthy, Don Gehman, Joe Boyd, e até o Jacknife Lee e cada um produzir algumas das músicas, brincando com a sonoridade e tralala.
Mas nesse último ep sobre o Collapse into now ele falou uma coisa que destravou um pensamento na minha cabeça. Eu não gosto da produção do Jacknife Lee.
Não é nem o lance do loudness wars, tão falado na época. É porque eu acho que ele gravou muito mal os vocais do Stipe e nesse disco isso fica ainda mais claro. Me and Marlon Brando, Marlon Brando and I, por exemplo, ele ta cantando mega anasalado. E em vários momentos parece que ele não tá achando o pocket. A melodia fica QUASE fora do compasso, sabe? Não chega a atrapalhar, porque além da melodia ser muito boa (o cara é mestre), a voz também é sempre agradável. Mas parece que ele nao acha o pocket porque tambem ainda tá achando a melodia, saca? Nao sei, minha impressao é quase um misto de desdem do produtor de chegar e falar "peraí, vamos pensar isso e achar esse pocket?"ao invés de deixar daquele jeito, com um medo/vergonha de chegar prum cara da estatura do careca e falar "bro, not feeling it; treina mais umas vezes ai, vamos ter isso bonitinho". Mas fora isso, a gravação mesmo é ruim. Além desse exemplo do nasalado, ainda tem Oh my Heart que na parte "fechada" é até difícil de entender. Só que in a bad way... Não é o difícil de entender Mitch Easter e Don Dixon. É um enterrado ruim e feio. Quando abre no refrão é uma maravilha, mas mesmo assim... acho que ele não é bom na mixagem e gravação de vocal.
E aí me veio um pensamento que achei muito interessante. E se eles tivessem chamado o Scott Litt pra produzir esse disco? Como eles, teoricamente, ja sabiam que seria o último... não ia fazer sentido? E era o cara certo pra botar tudo bonitinho no lugar, ele sabe trabalhar a voz do careca como ninguém. Acho que, se o fizessem, esse disco - que ponho no panteão dos melhores do R.E.M. (fuck you, Scott Aukerman!) - poderia vir a ser, undeniably, o melhor da carreira deles.
Bold statement, huh?
Outra idéia, essa a little too on the nose, mas que faz sentido pra noção do "greatest hits do R.E.M. de uma realidade paralela": pegar Scott Litt, Mitch Easter e Don Dixon, Pat McCarthy, Don Gehman, Joe Boyd, e até o Jacknife Lee e cada um produzir algumas das músicas, brincando com a sonoridade e tralala.
quarta-feira, junho 20, 2018
McBrasil - se o sanduba não vai até você...
por Eduardo Albuquerque
Uma última coisa:
PÃO BOLA!
E até a próxima Copa!
por Eduardo Albuquerque
Uma última coisa:
PÃO BOLA!
E até a próxima Copa!
terça-feira, junho 19, 2018
Caraca! Tamo chegando ao final, galera!
Vamos falar sobre o resenhista de hoje: IVAN FRANKLIN! (entendedores entenderão)
Vocês devem conhecê-lo do "Ultimo dia com Eduardo Albuquerque". Ivan é brasiliense, botafoguense e rugbyense. Esse também é das antigas e achei que fazia muito sentido ele resenhar, afinal ele era blogueiro do finado lanches.blogspot.com
Por que escolhi o McEspanha pra ele? Sei lá, acho que fiz uma ligação entre Furia e Furia Jovem? Embora ele não tenha nada a ver com torcida organizada. (Tio) Ivan é faixa preta de Judô, um artista marcial paz e amor cujo a única luta é pela igualdade social e sexual. Um tremendo querido paz e amor, pureza toda vida.
Divirtam-se!
Mc Espanhapor Ivan Franklin
Quando Dudu falou que eu ia fazer o Espanha pensei logo: irado, me amarro no Molho Furioso, que com certeza vai ter no sanduíche, pois Espanha Furiosa etc. Entendedores entenderão que isso explica um pouco de qual tem sido a minha relação com o McDonald's e afins: esporadicadézimo e sem prestar muita atenção. Logo eu, que já curti tanto.
Bom, a experiência com o lanche (hahaha, lanche) não poderia ser mais "ah, lembrei pq eu não tenho vindo". Foi uma vivência super... Foi uma McVivência. Desde fotos meramente ilustrativas ao sentimento de ter sido roubado.
Prometeram brioche, veio pão pálido nível Temer com gergelim.
Prometeram copa fatiada, veio sei lá o que, talvez salame.
Prometeram batata rústica com molho... Fué.
Não avisaram nada disso quando fiz o pedido. Recebi o produto, olhei para a cara daquele golpe e fui ao meu esforço jornalístico.
Maneiro duas carnes. Maneiro o salame/copa, que não me importa de não conseguir cortar com os dentes e acabar tendo que colocar na boca muito mais do que pretendia com a mordida. O molhinho de maionese de oliva é bem bacana, suave, talvez a melhor coisa do sanduíche que me serviram.
Foi isso. Fui ao McDonald's, pedi um sanduíche e me deram um sanduíche do McDonald's. Novidades irrisórias. Foi McDonald's com cara de McDonald's. Podendo evitar, evite.
Amanhã, episódio final: Eduardo Albuquerque resenha o McBrasil!
UÉ! HOLD ON HOLD ON!
COMO ASSIM?!?!? COMO VAI SER ISSO SE NÃO TEM NOS EUA???
Ah, meu amigo... volte amanha e descubras!
Vamos falar sobre o resenhista de hoje: IVAN FRANKLIN! (entendedores entenderão)
Vocês devem conhecê-lo do "Ultimo dia com Eduardo Albuquerque". Ivan é brasiliense, botafoguense e rugbyense. Esse também é das antigas e achei que fazia muito sentido ele resenhar, afinal ele era blogueiro do finado lanches.blogspot.com
Por que escolhi o McEspanha pra ele? Sei lá, acho que fiz uma ligação entre Furia e Furia Jovem? Embora ele não tenha nada a ver com torcida organizada. (Tio) Ivan é faixa preta de Judô, um artista marcial paz e amor cujo a única luta é pela igualdade social e sexual. Um tremendo querido paz e amor, pureza toda vida.
Divirtam-se!
Mc Espanhapor Ivan Franklin
Quando Dudu falou que eu ia fazer o Espanha pensei logo: irado, me amarro no Molho Furioso, que com certeza vai ter no sanduíche, pois Espanha Furiosa etc. Entendedores entenderão que isso explica um pouco de qual tem sido a minha relação com o McDonald's e afins: esporadicadézimo e sem prestar muita atenção. Logo eu, que já curti tanto.
Bom, a experiência com o lanche (hahaha, lanche) não poderia ser mais "ah, lembrei pq eu não tenho vindo". Foi uma vivência super... Foi uma McVivência. Desde fotos meramente ilustrativas ao sentimento de ter sido roubado.
Prometeram brioche, veio pão pálido nível Temer com gergelim.
Prometeram copa fatiada, veio sei lá o que, talvez salame.
Prometeram batata rústica com molho... Fué.
Não avisaram nada disso quando fiz o pedido. Recebi o produto, olhei para a cara daquele golpe e fui ao meu esforço jornalístico.
Maneiro duas carnes. Maneiro o salame/copa, que não me importa de não conseguir cortar com os dentes e acabar tendo que colocar na boca muito mais do que pretendia com a mordida. O molhinho de maionese de oliva é bem bacana, suave, talvez a melhor coisa do sanduíche que me serviram.
Foi isso. Fui ao McDonald's, pedi um sanduíche e me deram um sanduíche do McDonald's. Novidades irrisórias. Foi McDonald's com cara de McDonald's. Podendo evitar, evite.
Amanhã, episódio final: Eduardo Albuquerque resenha o McBrasil!
UÉ! HOLD ON HOLD ON!
COMO ASSIM?!?!? COMO VAI SER ISSO SE NÃO TEM NOS EUA???
Ah, meu amigo... volte amanha e descubras!
segunda-feira, junho 18, 2018
Eita, Brasil...
Você, em Copa, tem só brochado, hein?
Seguindo esse clima, vem a resenha de Fabio Portugal!
hahahah
To zoando! Mas por pouco não foi assim!
Fabio Portugal - famoso ex-guitarrista do Canvas, famoso ex-blogueiro do Tylenol.blogspot.com, famoso moshpitter, famoso meu grande amigo há 27 anos - é pai. E, por isso, tem suas responsabilidades com a linda Stella e, por isso, quando o chamei pra resenhar, ele disse alguma coisa tipo "ih, thanks but no thanks".
Mas aí, numa segunda-feira à noite, eu nem tinha conseguido falar com todo mundo ainda, e recebo um audio dele: to no McDonalds, vou comer o McFrança, anota aí...
Só que ele mandou um audio apneas descrevendo o sanduba. Fiquei até com medo pela qualidade dos outros; mas o Fabão, tão amigo quanto é, mesmo todo pegado, deu um gás depois e escreveu uma resenha pra ficar no mesmo nível da galera que aqui escreveu e que você vai ter o prazer de ler agora! Que sirva de lição pro Brasil o exemplo de Portugal, Fabio: pra fazer bonito como ele fez, tem que ser responsável e ralar muito. Nada está perdido! Pra frente que dá pra ganhar essa Copa!
Voilà, McDonald’s!
por Fabio Portugal
Apesar da loja próxima à minha casa, da minha rota quase diária passando diante da tua porta para alcançar a via principal do bairro nos últimos 5 anos, consegui resistir com bravura e determinação ao aroma das batatas fritas que são preparadas diariamente pelos teus funcionários sorridentes e entusiasmados. Isso há um bom tempo. Circunstâncias da vida, decidi trilhar meu caminho diferente.
Um lanche quase certeiro aos finais de semana durante minha adolescência, nas idas ao cinema de rua, tua loja ali diante do entretenimento sempre tão conveniente e convidativa! Já batia aquela fome e a promoção do Cheddar McMelt a R$ 4,50 se tornava um convite à satisfação imediata de um desejo ao mesmo tempo em que se traduzia num par de horas a menos de vida pro meu fígado...
- Caramba, volta a FITA: QUATRO REAIS E CINQUENTA CENTAVOS, tio!? Preço do sanduba, né?
- Preço da PROMOÇÃO na Era Pré-Orkutiana ficava nessa faixa aí mesmo, xará!
Então chega o Rev. Albuquerque me convocando pra resenhar um sanduba dos países... haja coração!!! Tem que aceitar, né? Porra nenhuma! Mandei aquela refugada no melhor estilo Baloubet de Rouet, ia deixar meu brother from another mother a ver navios em Ft. Lauderdale.
Daí, numa noite de segunda-feira outonal em que eu já não passava frequentemente diante da lojinha dos arcos dourados, lá estava eu... fome lascada de taurino virada na correria de um dia agitado, eu sem paciência para cozinhar comida de verdade, fui lá resenhar qual fosse o sanduíche do dia e assim, conheci o McFrança.
Não sou crítico gastronômico, Mc não é restaurante e CECI N’EST PAS PARIS, portanto serei sucinto:
Resumée de l’ópera: lençol desmoralizante do Zidane em 2006, gol do Pétit em 1998 e pênalti do Zico em 1986.
NÃO RECOMENDO FORTEMENTE
Amanhã: Ivan Franklin resenha o McEspanha!
Você, em Copa, tem só brochado, hein?
Seguindo esse clima, vem a resenha de Fabio Portugal!
hahahah
To zoando! Mas por pouco não foi assim!
Fabio Portugal - famoso ex-guitarrista do Canvas, famoso ex-blogueiro do Tylenol.blogspot.com, famoso moshpitter, famoso meu grande amigo há 27 anos - é pai. E, por isso, tem suas responsabilidades com a linda Stella e, por isso, quando o chamei pra resenhar, ele disse alguma coisa tipo "ih, thanks but no thanks".
Mas aí, numa segunda-feira à noite, eu nem tinha conseguido falar com todo mundo ainda, e recebo um audio dele: to no McDonalds, vou comer o McFrança, anota aí...
Só que ele mandou um audio apneas descrevendo o sanduba. Fiquei até com medo pela qualidade dos outros; mas o Fabão, tão amigo quanto é, mesmo todo pegado, deu um gás depois e escreveu uma resenha pra ficar no mesmo nível da galera que aqui escreveu e que você vai ter o prazer de ler agora! Que sirva de lição pro Brasil o exemplo de Portugal, Fabio: pra fazer bonito como ele fez, tem que ser responsável e ralar muito. Nada está perdido! Pra frente que dá pra ganhar essa Copa!
Voilà, McDonald’s!
por Fabio Portugal
Apesar da loja próxima à minha casa, da minha rota quase diária passando diante da tua porta para alcançar a via principal do bairro nos últimos 5 anos, consegui resistir com bravura e determinação ao aroma das batatas fritas que são preparadas diariamente pelos teus funcionários sorridentes e entusiasmados. Isso há um bom tempo. Circunstâncias da vida, decidi trilhar meu caminho diferente.
Um lanche quase certeiro aos finais de semana durante minha adolescência, nas idas ao cinema de rua, tua loja ali diante do entretenimento sempre tão conveniente e convidativa! Já batia aquela fome e a promoção do Cheddar McMelt a R$ 4,50 se tornava um convite à satisfação imediata de um desejo ao mesmo tempo em que se traduzia num par de horas a menos de vida pro meu fígado...
- Caramba, volta a FITA: QUATRO REAIS E CINQUENTA CENTAVOS, tio!? Preço do sanduba, né?
- Preço da PROMOÇÃO na Era Pré-Orkutiana ficava nessa faixa aí mesmo, xará!
Então chega o Rev. Albuquerque me convocando pra resenhar um sanduba dos países... haja coração!!! Tem que aceitar, né? Porra nenhuma! Mandei aquela refugada no melhor estilo Baloubet de Rouet, ia deixar meu brother from another mother a ver navios em Ft. Lauderdale.
Daí, numa noite de segunda-feira outonal em que eu já não passava frequentemente diante da lojinha dos arcos dourados, lá estava eu... fome lascada de taurino virada na correria de um dia agitado, eu sem paciência para cozinhar comida de verdade, fui lá resenhar qual fosse o sanduíche do dia e assim, conheci o McFrança.
Não sou crítico gastronômico, Mc não é restaurante e CECI N’EST PAS PARIS, portanto serei sucinto:
- Melt de queijo brie em cima das cebolas crocantes? Faltou sinceridade, para mim teve efeito de um molho branco usado para anular o croc da cebola. Queijo Brie, sei... Algo tão inexplicável quanto o ocorrido com Ronaldo na final de 1998.
- Sanduba francês mas o pão é o padrão da casa, não rolou de emular uma baguete? Um BAGUETÃO que fosse? “PUTAIN, gol de cabeça do Zidane! ☹“
- Agora me explica: cogumelos caramelizados (LOL) na base do sanduíche? O negócio todo sambou na mão, lambuzei até a mesa ao lado com cogumelos voadores, muito sinistro! “Ô, Roberto Carlos! teu meião tem molho, arruma ele aí.”
Resumée de l’ópera: lençol desmoralizante do Zidane em 2006, gol do Pétit em 1998 e pênalti do Zico em 1986.
NÃO RECOMENDO FORTEMENTE
Amanhã: Ivan Franklin resenha o McEspanha!
domingo, junho 17, 2018
A resenha de hoje é aquela que você pensa: caceta, essa brincadeira tá ficando séria demais.
Mas o que posso fazer se só ando com pessoas do mais alto calibre, se transito entre o popular e o erudito, com a malemolência que só um Brasileiro pode ter?
Você deve reconhcer o nome Pedro H G F de Souza se você for um acadêmico. Só assim mesmo.
Para nós, ele sempre será o Pedro. Pedro Herculano, Pedro Souza ou Sedro Pouza. Meu amigo de infância, que, apesar de o ver em pessoa bicentenialmente, sempre se faz presente nas minhas rememoriações de causos engraçados da adolescência, como quando ele acabara de tirar carteira de motorista e, manobrando seu carro novinho na garagem, comigo troca as seguintes palavras:
- "Dudu, me avisa se encostar"
*CRRRRRR*
- "...encostou"
Ou causos de seu pai, Antonio - como quando ele comemorou a expulsão de Ronaldinho Gaucho em 2002 (ver 5 posts atrás).
Pedro era dono do primeiro blog ~da galera~, o cincominutos.blogspot.com, onde ele - e de vez em quando alguns amigos convidados; como este que vos fala - resenhava TUDO que via pela frente. Foi lá que começou esse lance de resenha de sanduíche da Copa. Ele ia fazer, como sempre, chamando os amigos, mas acabou que o blog acabou antes e eu acabei carregando a tocha no meu próprio blog.
Então é meio que full circle isso aqui. Que bonito!
Mas não só isso...
Sociologista do mais alto gabarito, Pedro é um dos pesquisadores mais respeitados do Brasil, tendo sido autor dos mais comentado estudo sobre desigualdade e distribuição de renda de 1928 até 2012. Ele sempre foi um crânio. Em 2000, quando precisava passar na recuperação em Química, ele que me deu aula particular.
Por essas e outras, me dá mó orgulho de trazer pra vocês o texto foda de uma pessoa do mais alto gabarito - acadêmico e emocional - resenhando... o sanduba McItalia. Adoro o quão desperdício é esse blog!
McItália por Pedro H. G. F. de Souza
Sejamos racionais: a Copa do Mundo não faz mais sentido.
Um país constrói um monte de arenas (sic) idênticas e desnecessárias para receber jogadores exaustos e desmilinguidos para jogar em seleções meia boca que perderiam de qualquer time financiado por dinheiro esquisito do mundo árabe. Tudo é embrulhado num nacionalismo chic de novela das oito e em um clima corporativo que mata a paixão mais rápido do que uma pochete.
No fim das contas, caímos naquele imenso vale da mediocridade que existe entre a elegância fria dos jogos do Barcelona e o desespero arrebatador dos jogos do Flamengo.
[2014 foi o último presente do Brasil pro mundo, só possível porque alguém em algum lugar deve ter ligado um motor com gerador de improbabilidade infinita.]
E o McDonald's? Bom, o McDonald's também é um resquício de um mundo que acabou. Um monte de comida gorda e cheia de sal que não é nem lá nem cá -- não é propriamente saboroso, não é barato, não tem charme, não é saudável...
(Não é à toa que todo fast food é obcecado com a estética anos 1950).
Só tem um detalhe nessa história aí: a Copa começa sexta e eu já não aguento mais esperar e a minha frustração só cresce porque não consegui comer o maldito McItália e vai ser legal demais ver Portugal-Espanha na primeira fase e será que o Salah vai jogar e...
... e o detalhe é o seguinte: a Copa e o McDonald's ainda têm um apelo irrecusável para qualquer um da minha geração -- eles oferecem conforto. É sempre mais do mesmo, sempre a repetição um pouco piorada do que veio antes, mas está bom demais. Em troca, a gente ganha uma cronologia, uma história e a sensação de um fiapo que ainda organiza a vida coletiva e junta todo mundo em um mesmo assunto no papo de bar.
E a cereja do bolo é que de vez em quando acontece algo sublime, como a mão do Suárez para salvar o Uruguai contra Gana em 2010 ou o van Gaal colocando o goleiro reserva só para pegar pênalti e partir o coração da Costa Rica em 2014. No resto do tempo, o tédio é só o preço da estabilidade e do pertencimento, como nunca disse o Humberto Gessinger.
(O 7 a 1 foi a maior das dádivas).
De quebra, a Copa do Mundo ainda responde uma pergunta (que talvez ninguém jamais tenha feito, mas paciência): como pode um lugar que vende nostalgia e conforto inovar? Fácil -- vendendo sanduíche inspirado por outro lugar que vende nostalgia e conforto.
Nisso, temos a coleção de clichês nacionais, ingredientes industrializados e delícias que chamamos de sanduíches da Copa. É tudo tão nostálgico e confortável que nem faz diferença se a Itália perdeu para a Suécia e ficou de fora.
Afinal, a gente já sabe como seria a Itália na Copa -- futebolzinho modorrento, time mais bonito do álbum, zaga com mais de cinquenta anos de idade, umas botinadas, umas ajudinhas do apito amigo e, ocasionalmente, um título meio na surpresa. Qual a chance de o McItália ser diferente disso?
Bom, me digam vocês. Eu não consegui. Não sei se foi culpa da greve dos caminhoneiros, da apatia popular, do Temer ou dos comerciais odiáveis que o Tite faz, mas o McDonald's mais perto de casa está sem McItália há vários domingos. Na última vez, nem McBrasil tinha mais.
(E ainda dizem que as instituições estão funcionando.)
Felizmente, dá para ir longe só a partir da descrição oficial. Basta jogar um raio desglamourizador e pensar em qualquer outro sanduíche do McDonald's, porém com uma fatia de mussarela (com gosto de plástico, mas do melhor plástico do mundo) e tomate seco (idem).
(O McDonald's parece realmente acreditar que os italianos são fanáticos por mussarela e tomate seco.)
O resultado é o melhor possível: um sanduíche do McDonald's, com tempero extras. Dá azia, não mata a fome e custa 30 reais. Mas é um sanduíche do McDonald's: acaricia o paladar, é cheio de sabores conhecidos, tem a consistência perfeita e não desmonta quando você come.
Nota: 10/10
Amanhã: Fabio Portugal resenha o McFrança
Mas o que posso fazer se só ando com pessoas do mais alto calibre, se transito entre o popular e o erudito, com a malemolência que só um Brasileiro pode ter?
Você deve reconhcer o nome Pedro H G F de Souza se você for um acadêmico. Só assim mesmo.
Para nós, ele sempre será o Pedro. Pedro Herculano, Pedro Souza ou Sedro Pouza. Meu amigo de infância, que, apesar de o ver em pessoa bicentenialmente, sempre se faz presente nas minhas rememoriações de causos engraçados da adolescência, como quando ele acabara de tirar carteira de motorista e, manobrando seu carro novinho na garagem, comigo troca as seguintes palavras:
- "Dudu, me avisa se encostar"
*CRRRRRR*
- "...encostou"
Ou causos de seu pai, Antonio - como quando ele comemorou a expulsão de Ronaldinho Gaucho em 2002 (ver 5 posts atrás).
Pedro era dono do primeiro blog ~da galera~, o cincominutos.blogspot.com, onde ele - e de vez em quando alguns amigos convidados; como este que vos fala - resenhava TUDO que via pela frente. Foi lá que começou esse lance de resenha de sanduíche da Copa. Ele ia fazer, como sempre, chamando os amigos, mas acabou que o blog acabou antes e eu acabei carregando a tocha no meu próprio blog.
Então é meio que full circle isso aqui. Que bonito!
Mas não só isso...
Sociologista do mais alto gabarito, Pedro é um dos pesquisadores mais respeitados do Brasil, tendo sido autor dos mais comentado estudo sobre desigualdade e distribuição de renda de 1928 até 2012. Ele sempre foi um crânio. Em 2000, quando precisava passar na recuperação em Química, ele que me deu aula particular.
Por essas e outras, me dá mó orgulho de trazer pra vocês o texto foda de uma pessoa do mais alto gabarito - acadêmico e emocional - resenhando... o sanduba McItalia. Adoro o quão desperdício é esse blog!
McItália por Pedro H. G. F. de Souza
Sejamos racionais: a Copa do Mundo não faz mais sentido.
Um país constrói um monte de arenas (sic) idênticas e desnecessárias para receber jogadores exaustos e desmilinguidos para jogar em seleções meia boca que perderiam de qualquer time financiado por dinheiro esquisito do mundo árabe. Tudo é embrulhado num nacionalismo chic de novela das oito e em um clima corporativo que mata a paixão mais rápido do que uma pochete.
No fim das contas, caímos naquele imenso vale da mediocridade que existe entre a elegância fria dos jogos do Barcelona e o desespero arrebatador dos jogos do Flamengo.
[2014 foi o último presente do Brasil pro mundo, só possível porque alguém em algum lugar deve ter ligado um motor com gerador de improbabilidade infinita.]
E o McDonald's? Bom, o McDonald's também é um resquício de um mundo que acabou. Um monte de comida gorda e cheia de sal que não é nem lá nem cá -- não é propriamente saboroso, não é barato, não tem charme, não é saudável...
(Não é à toa que todo fast food é obcecado com a estética anos 1950).
Só tem um detalhe nessa história aí: a Copa começa sexta e eu já não aguento mais esperar e a minha frustração só cresce porque não consegui comer o maldito McItália e vai ser legal demais ver Portugal-Espanha na primeira fase e será que o Salah vai jogar e...
... e o detalhe é o seguinte: a Copa e o McDonald's ainda têm um apelo irrecusável para qualquer um da minha geração -- eles oferecem conforto. É sempre mais do mesmo, sempre a repetição um pouco piorada do que veio antes, mas está bom demais. Em troca, a gente ganha uma cronologia, uma história e a sensação de um fiapo que ainda organiza a vida coletiva e junta todo mundo em um mesmo assunto no papo de bar.
E a cereja do bolo é que de vez em quando acontece algo sublime, como a mão do Suárez para salvar o Uruguai contra Gana em 2010 ou o van Gaal colocando o goleiro reserva só para pegar pênalti e partir o coração da Costa Rica em 2014. No resto do tempo, o tédio é só o preço da estabilidade e do pertencimento, como nunca disse o Humberto Gessinger.
(O 7 a 1 foi a maior das dádivas).
De quebra, a Copa do Mundo ainda responde uma pergunta (que talvez ninguém jamais tenha feito, mas paciência): como pode um lugar que vende nostalgia e conforto inovar? Fácil -- vendendo sanduíche inspirado por outro lugar que vende nostalgia e conforto.
Nisso, temos a coleção de clichês nacionais, ingredientes industrializados e delícias que chamamos de sanduíches da Copa. É tudo tão nostálgico e confortável que nem faz diferença se a Itália perdeu para a Suécia e ficou de fora.
Afinal, a gente já sabe como seria a Itália na Copa -- futebolzinho modorrento, time mais bonito do álbum, zaga com mais de cinquenta anos de idade, umas botinadas, umas ajudinhas do apito amigo e, ocasionalmente, um título meio na surpresa. Qual a chance de o McItália ser diferente disso?
Bom, me digam vocês. Eu não consegui. Não sei se foi culpa da greve dos caminhoneiros, da apatia popular, do Temer ou dos comerciais odiáveis que o Tite faz, mas o McDonald's mais perto de casa está sem McItália há vários domingos. Na última vez, nem McBrasil tinha mais.
(E ainda dizem que as instituições estão funcionando.)
Felizmente, dá para ir longe só a partir da descrição oficial. Basta jogar um raio desglamourizador e pensar em qualquer outro sanduíche do McDonald's, porém com uma fatia de mussarela (com gosto de plástico, mas do melhor plástico do mundo) e tomate seco (idem).
(O McDonald's parece realmente acreditar que os italianos são fanáticos por mussarela e tomate seco.)
O resultado é o melhor possível: um sanduíche do McDonald's, com tempero extras. Dá azia, não mata a fome e custa 30 reais. Mas é um sanduíche do McDonald's: acaricia o paladar, é cheio de sabores conhecidos, tem a consistência perfeita e não desmonta quando você come.
Nota: 10/10
Amanhã: Fabio Portugal resenha o McFrança
sábado, junho 16, 2018
Duas coisas pra falar: uma é que a lenda da música e da amizade Melvin Fleming me contatou para (i) reclamar a ausência de um rss feed no rtu - eu não sei fazer isso, to tentando de novo, mas nao entendo porque nao consigo - e (ii) dizer aquilo que agora é óbvio e ululante, mas eu não conseguia ver, talvez por não estar aí no Brasil vivendo e sentindo as coisas: os países-sandubas desse ano são os campeões de copa do mundo!
Ai que buro! Dá zero para mim!
Mas ainda reclamo a falta de imaginação na hora dos ingredientes que não tem nada a ver com os países e os fazem ser apenas nomes e não "inspirações".
Ele ainda falou sobre como o McDonalds está investindo agora numa linha "gourmet", pra disputar com as hamburguerias artesanais, moda no Brasa, e ficamos papeando como é doido que no Brasil McDonalds está mais pro mercado de luxo do que popular - não à toa a gente mede no Brasil o nível de desenvolvimento do lugar pela presença (ou não) de uma filial do McDonalds. E aí pensei sobre como é uma constante aqui nas resenhas ver que - muita gente de fato não comia mais lá (e aí fala "fazia muito tempo que não comia no McDonalds e isso me deu motivo pra isso") e que tá caro pacas (e a pessoa escreve sobre a surpresa com o preço). Doido. E... desculpa, eu acho, por ter obrigado vocês a voltar la e gastar dinheiro hehe.
A outra coisa pra falar: é que eu desisti dessa Copa. Foda-se, caguei. Não vou mais fazer o esquema todo de gravar e assistir fervorosamente, o video que eu ia fazer sobre a experiência. Meh. whatever. Perdeu a graça pra mim. Mas as resenhas continuam até o final! Fiquem tranquilos.
Falando nisso... vamos falar sobre a de hoje. McArgentina. No dia da estréia da Argentina na Copa... o McDonalds coloca o McArgentina pra rodar! Coincidência?!
Whatever.
Mas nosso resenhista de hoje é tudo menos whatever. Paulo Pilha é o nome da fera. Gênio da música (Paulo Pilha no Spotify), Pilha também joga muita bola - sendo o maior campeão dos torneios do Jockey Club - e é um ardoroso fã do menino Messi. Tanto que nossos amigos adoram o fazer cair na ~pilha~ com a discussão CR7 x Messi. Em suas músicas - tal qual seu avô, o grande Rubem Fonseca, faz em seus livros - Paulo Pilha traz "eu líricos" pouco comuns. Pontos de vistas os quais não estamos acostumados a ouvir em música em geral - quanto mais música pop! Exemplo mais cristalino, o mega hit "Pedrão", sobre a dúvida existencial de um zagueiro de futebol de time indefinido, que, após ter sido expulso, fica dividido entre torcer para que seu time avance e seu substituto - o Pedrão - se destaque.
E nessa resenha ele traz esse ponto de vista único mais uma vez. Divirtam-se!
Mc Argentina
por Paulo Pilha
A minha relação com a Argentina vem muito antes de eu saber o que era futebol. Vim ao mundo no mesmo dia do jogador mais importante de sua história: Diego Armando Maradona.
Curiosamente a minha forma de jogar futebol muito se assemelha ao meu companheiro de berço. Velocidade na condução de bola com a canhota, dribles e gols. Lembro como se fosse ontem da festa de abertura da Copa de 1990. Pedi aos meus pais para matar aula. Com muito custo acabei conseguindo a liberação e lá estava a Argentina novamente. Dessa vez passando vergonha. Perderam na estreia para Camarões por 1 a 0 com uma falha do goleiro argentino. Algumas semanas depois eles viriam fazer a que talvez tenha sido a pior final de Copa de todos os tempos. Um jogo que provavelmente teve o maior índice de sonecas no sofá da história. Apenas 4 anos após da “mano de Dios”, a Argentina seria castigada com “la simulación de Voller”. O zagueiro argentino cortou um lance totalmente na bola, mas faltando pouco tempo para o fim o juizão deu o pênalti para a Alemanha erguer o troféu.
Lembro também claramente daquele jogo da Argentina contra a Grécia na Copa de 1994 no qual Maradona seria pego no antidoping por cocaína. O futebol sofreu com aquilo. Eu sofri também. Mesmo sem saber que no dia 30 de outubro chegaríamos juntos a mais uma primavera. Assistia àquele jogo sozinho na sala da minha casa em Ipanema. Uma pequena televisão Panasonic cheia de chuviscos. Volta e meia eu ia manco até a TV e ficava girando a antena para achar a melhor imagem possível. Manco porque estava novamente com a coxa esquerda distendida. Naquele tempo não existia fisioterapia específica para futebol (ou se existia eu desconhecia nos meus inocentes 13 anos). Vivia sempre lesionado. Ficava só no gelo e no repouso. Não sabia o que era se aquecer antes de jogar, não sabia o que era alongamento, não sabia porra nenhuma, mas sabia correr e fazer gols. Informação é tudo nessa vida. Hoje em dia com 36 anos raramente me lesiono. E quando me lesiono, a recuperação é rápida. Tenho o melhor fisioterapeuta do mundo. Qualquer problema, já mando uma mensagem ou marco direto uma consulta. Todas essas distensões, no entanto, tiveram um fator extremamente positivo. Com a perna esquerda debilitada, joguei muitas peladas chutando só com a direita de modo que hoje utilizo sempre as duas pernas em campo.
Além das contusões, eu ainda tinha a maldita asma que me tirou de vários jogos importantes. No campeonato do Jockey de 1994 fui o artilheiro mesmo sem jogar as últimas partidas. Também em 1994, na sexta série do colégio, meu time foi campeão. Estive em todos os jogos. No colégio era futebol de salão. 4 na linha e 1 no gol. Nunca gostei de futsal, meu negócio era jogar em campo. Lembro de um jogo que vencemos de 10 a 7 e eu acabei fazendo 8 gols. O colégio fazia depois um confronto entre séries no qual o primeiro colocado da sexta série pegava o segundo colocado da quinta e o segundo colocado da sexta pegava o primeiro da quinta. Enfrentaríamos então o segundo da quinta série. Éramos obviamente os favoritos, mas tivemos que improvisar um time completamente diferente por conta de uma série de desfalques. No dia do jogo, um jogador do meu time liga pra minha casa. Bons tempos do bom e velho telefone fixo. Minha mãe levou o telefone até o meu quarto. Estava suando debaixo das cobertas.
- Cadê você, teu merda?
Respiração ofegante do outro lado da linha.
- Estou mal. Não vai dar pra mim.
- Foda-se. Vem assim mesmo. Estamos te esperando!
Não fui. Perdemos. E se não me engano foi de goleada. Depois fiquei sabendo que a ligação tinha sido feita de um orelhão que ficava perto da quadra de futsal. Gostei muito de ver as atuações do Batistuta nas Copas de 1994 e 1998. Excelente atacante. Eu nunca fui um brasileiro típico desses que odeia os argentinos. Talvez pelo fato de eu gostar do futebol com talento, raça, vontade de ganhar e criatividade independente da nacionalidade. Porém, tem um lado do futebol argentino que eu não gosto. Mas isso vale pra qualquer seleção. Me refiro às ceras e catimbas exageradas, as simulações de falta pra tentar ludibriar o juiz e a violência dentro de campo.
A minha simpatia pela Argentina iria se consolidar de verdade a partir de 2012 que foi quando eu passei a entender quem era aquele garoto apontado por muitos como gênio - mesmo sendo tão novo. Quanto mais jogos eu assistia, mais eu me tornava fã de Lionel Messi. Virei Barcelona, virei Messi Futebol Clube. A facilidade com que ele driblava os adversários, os passes e lançamentos cirúrgicos que ele dava, os gols que ele fazia. Não era algo normal. Na Copa eu iria torcer sempre pro Brasil, mas caso o Brasil pulasse fora, minha torcida estaria com Messi e sua seleção. A primeira Copa que eu acompanhei o Messi com atenção foi a de 2014. Vi a final com alguns amigos. Todos, claro, torcendo contra a Argentina. Eu estava quieto. Torcendo em silêncio. Argentina jogou muito melhor. Messi lutou muito, fez uma boa partida. Quase marcou no segundo tempo, mas não deu.
No dia 16 de junho vai começar tudo de novo. Argentina pega a Islândia e no dia seguinte é a vez da estreia do Brasil.
Poderia ficar aqui dias escrevendo sobre a relação que tenho com a Argentina mesmo sem nunca ter visitado o país. Aliás, espero muito em breve viajar para lá, mas enquanto isso não acontece, pude me contentar conhecendo um pouco de sua gastronomia num Mc Donalds carioca. O fast-food de Ronald saiu quase que completamente da minha vida nos últimos anos. É muito raro eu comer lá. Só que dessa vez eu tinha uma missão muito nobre pela frente: degustar o Mac Argentina e dar a minha opinião sobre o sanduba. Ao chegar no restaurante da Rua Carlos Góis, descobri que haviam feito também uma batata especial para acompanhar o sanduíche. Pedi o combo completo. Batata, sanduíche e refrigerante. O sanduíche achei muito parecido com o McNífico Bacon. A diferença é que vinha num pão gourmetizado e apimentado. A batata frita era feita de tiras enormes cerca de cinco vezes o tamanho da batata frita original. Uma espécie de molho cheddar apimentado já vinha em cima da batata com várias lascas de bacon. O molho era bom, mas achei um pouco pesado. O principal ponto negativo do combo estava na quantidade de batata. Se eles servissem a metade já estaria mais do que suficiente. O saldo no fim das contas foi positivo. O combo argentino está aprovado e que venha logo a Copa do Mundo.
Amanhã: Pedro H. G. F. de Souza resenha o McItália
Ai que buro! Dá zero para mim!
Mas ainda reclamo a falta de imaginação na hora dos ingredientes que não tem nada a ver com os países e os fazem ser apenas nomes e não "inspirações".
Ele ainda falou sobre como o McDonalds está investindo agora numa linha "gourmet", pra disputar com as hamburguerias artesanais, moda no Brasa, e ficamos papeando como é doido que no Brasil McDonalds está mais pro mercado de luxo do que popular - não à toa a gente mede no Brasil o nível de desenvolvimento do lugar pela presença (ou não) de uma filial do McDonalds. E aí pensei sobre como é uma constante aqui nas resenhas ver que - muita gente de fato não comia mais lá (e aí fala "fazia muito tempo que não comia no McDonalds e isso me deu motivo pra isso") e que tá caro pacas (e a pessoa escreve sobre a surpresa com o preço). Doido. E... desculpa, eu acho, por ter obrigado vocês a voltar la e gastar dinheiro hehe.
A outra coisa pra falar: é que eu desisti dessa Copa. Foda-se, caguei. Não vou mais fazer o esquema todo de gravar e assistir fervorosamente, o video que eu ia fazer sobre a experiência. Meh. whatever. Perdeu a graça pra mim. Mas as resenhas continuam até o final! Fiquem tranquilos.
Falando nisso... vamos falar sobre a de hoje. McArgentina. No dia da estréia da Argentina na Copa... o McDonalds coloca o McArgentina pra rodar! Coincidência?!
Whatever.
Mas nosso resenhista de hoje é tudo menos whatever. Paulo Pilha é o nome da fera. Gênio da música (Paulo Pilha no Spotify), Pilha também joga muita bola - sendo o maior campeão dos torneios do Jockey Club - e é um ardoroso fã do menino Messi. Tanto que nossos amigos adoram o fazer cair na ~pilha~ com a discussão CR7 x Messi. Em suas músicas - tal qual seu avô, o grande Rubem Fonseca, faz em seus livros - Paulo Pilha traz "eu líricos" pouco comuns. Pontos de vistas os quais não estamos acostumados a ouvir em música em geral - quanto mais música pop! Exemplo mais cristalino, o mega hit "Pedrão", sobre a dúvida existencial de um zagueiro de futebol de time indefinido, que, após ter sido expulso, fica dividido entre torcer para que seu time avance e seu substituto - o Pedrão - se destaque.
E nessa resenha ele traz esse ponto de vista único mais uma vez. Divirtam-se!
Mc Argentina
por Paulo Pilha
A minha relação com a Argentina vem muito antes de eu saber o que era futebol. Vim ao mundo no mesmo dia do jogador mais importante de sua história: Diego Armando Maradona.
Curiosamente a minha forma de jogar futebol muito se assemelha ao meu companheiro de berço. Velocidade na condução de bola com a canhota, dribles e gols. Lembro como se fosse ontem da festa de abertura da Copa de 1990. Pedi aos meus pais para matar aula. Com muito custo acabei conseguindo a liberação e lá estava a Argentina novamente. Dessa vez passando vergonha. Perderam na estreia para Camarões por 1 a 0 com uma falha do goleiro argentino. Algumas semanas depois eles viriam fazer a que talvez tenha sido a pior final de Copa de todos os tempos. Um jogo que provavelmente teve o maior índice de sonecas no sofá da história. Apenas 4 anos após da “mano de Dios”, a Argentina seria castigada com “la simulación de Voller”. O zagueiro argentino cortou um lance totalmente na bola, mas faltando pouco tempo para o fim o juizão deu o pênalti para a Alemanha erguer o troféu.
Lembro também claramente daquele jogo da Argentina contra a Grécia na Copa de 1994 no qual Maradona seria pego no antidoping por cocaína. O futebol sofreu com aquilo. Eu sofri também. Mesmo sem saber que no dia 30 de outubro chegaríamos juntos a mais uma primavera. Assistia àquele jogo sozinho na sala da minha casa em Ipanema. Uma pequena televisão Panasonic cheia de chuviscos. Volta e meia eu ia manco até a TV e ficava girando a antena para achar a melhor imagem possível. Manco porque estava novamente com a coxa esquerda distendida. Naquele tempo não existia fisioterapia específica para futebol (ou se existia eu desconhecia nos meus inocentes 13 anos). Vivia sempre lesionado. Ficava só no gelo e no repouso. Não sabia o que era se aquecer antes de jogar, não sabia o que era alongamento, não sabia porra nenhuma, mas sabia correr e fazer gols. Informação é tudo nessa vida. Hoje em dia com 36 anos raramente me lesiono. E quando me lesiono, a recuperação é rápida. Tenho o melhor fisioterapeuta do mundo. Qualquer problema, já mando uma mensagem ou marco direto uma consulta. Todas essas distensões, no entanto, tiveram um fator extremamente positivo. Com a perna esquerda debilitada, joguei muitas peladas chutando só com a direita de modo que hoje utilizo sempre as duas pernas em campo.
Além das contusões, eu ainda tinha a maldita asma que me tirou de vários jogos importantes. No campeonato do Jockey de 1994 fui o artilheiro mesmo sem jogar as últimas partidas. Também em 1994, na sexta série do colégio, meu time foi campeão. Estive em todos os jogos. No colégio era futebol de salão. 4 na linha e 1 no gol. Nunca gostei de futsal, meu negócio era jogar em campo. Lembro de um jogo que vencemos de 10 a 7 e eu acabei fazendo 8 gols. O colégio fazia depois um confronto entre séries no qual o primeiro colocado da sexta série pegava o segundo colocado da quinta e o segundo colocado da sexta pegava o primeiro da quinta. Enfrentaríamos então o segundo da quinta série. Éramos obviamente os favoritos, mas tivemos que improvisar um time completamente diferente por conta de uma série de desfalques. No dia do jogo, um jogador do meu time liga pra minha casa. Bons tempos do bom e velho telefone fixo. Minha mãe levou o telefone até o meu quarto. Estava suando debaixo das cobertas.
- Cadê você, teu merda?
Respiração ofegante do outro lado da linha.
- Estou mal. Não vai dar pra mim.
- Foda-se. Vem assim mesmo. Estamos te esperando!
Não fui. Perdemos. E se não me engano foi de goleada. Depois fiquei sabendo que a ligação tinha sido feita de um orelhão que ficava perto da quadra de futsal. Gostei muito de ver as atuações do Batistuta nas Copas de 1994 e 1998. Excelente atacante. Eu nunca fui um brasileiro típico desses que odeia os argentinos. Talvez pelo fato de eu gostar do futebol com talento, raça, vontade de ganhar e criatividade independente da nacionalidade. Porém, tem um lado do futebol argentino que eu não gosto. Mas isso vale pra qualquer seleção. Me refiro às ceras e catimbas exageradas, as simulações de falta pra tentar ludibriar o juiz e a violência dentro de campo.
A minha simpatia pela Argentina iria se consolidar de verdade a partir de 2012 que foi quando eu passei a entender quem era aquele garoto apontado por muitos como gênio - mesmo sendo tão novo. Quanto mais jogos eu assistia, mais eu me tornava fã de Lionel Messi. Virei Barcelona, virei Messi Futebol Clube. A facilidade com que ele driblava os adversários, os passes e lançamentos cirúrgicos que ele dava, os gols que ele fazia. Não era algo normal. Na Copa eu iria torcer sempre pro Brasil, mas caso o Brasil pulasse fora, minha torcida estaria com Messi e sua seleção. A primeira Copa que eu acompanhei o Messi com atenção foi a de 2014. Vi a final com alguns amigos. Todos, claro, torcendo contra a Argentina. Eu estava quieto. Torcendo em silêncio. Argentina jogou muito melhor. Messi lutou muito, fez uma boa partida. Quase marcou no segundo tempo, mas não deu.
No dia 16 de junho vai começar tudo de novo. Argentina pega a Islândia e no dia seguinte é a vez da estreia do Brasil.
Poderia ficar aqui dias escrevendo sobre a relação que tenho com a Argentina mesmo sem nunca ter visitado o país. Aliás, espero muito em breve viajar para lá, mas enquanto isso não acontece, pude me contentar conhecendo um pouco de sua gastronomia num Mc Donalds carioca. O fast-food de Ronald saiu quase que completamente da minha vida nos últimos anos. É muito raro eu comer lá. Só que dessa vez eu tinha uma missão muito nobre pela frente: degustar o Mac Argentina e dar a minha opinião sobre o sanduba. Ao chegar no restaurante da Rua Carlos Góis, descobri que haviam feito também uma batata especial para acompanhar o sanduíche. Pedi o combo completo. Batata, sanduíche e refrigerante. O sanduíche achei muito parecido com o McNífico Bacon. A diferença é que vinha num pão gourmetizado e apimentado. A batata frita era feita de tiras enormes cerca de cinco vezes o tamanho da batata frita original. Uma espécie de molho cheddar apimentado já vinha em cima da batata com várias lascas de bacon. O molho era bom, mas achei um pouco pesado. O principal ponto negativo do combo estava na quantidade de batata. Se eles servissem a metade já estaria mais do que suficiente. O saldo no fim das contas foi positivo. O combo argentino está aprovado e que venha logo a Copa do Mundo.
Amanhã: Pedro H. G. F. de Souza resenha o McItália
sexta-feira, junho 15, 2018
Uhhhh a resenha de hoje é demais! Vocês vão adorar!
Mas antes, deixa eu dar o meu parecer (super técnico e embasado mesmo sem ter provado) sobre McInglaterra. Olha... essa é difícil de explicar. A culinária da Inglaterra é zero apreciada pelo mundo, tem zero tradição e embora seja um dos países campeões, também não vem fazendo bonito pra merecer. E tipo... ok, as vezes é uma questão de marketing: mas qual marketing que justifica Inglaterra? Porque é perto dos EUA? Então por que não colocou os Eua logo?? O fato de não ter se classificado pra copa não vale; o Mc Italia ta participando! Enfim... não tem muito porquê e acho uma pena, pois poderíamos dar pra outro país mais merecedor. Porra, até o McRussia podia rolar; podia ser um sanduba, dentro de um sanduba, dentro de um sanduba. Regado a vodka, é claro. Enfim...
Conheci Alexandre Vasconcellos em 2007 ou 2008 quando ambos fazíamos parte da Flusócio. Desde lá já nos curtíamos - muito por, à época, sermos um dos pouquíssimos com menos de 30 no grupo - e, depois, quando ambos acabamos indo trabalhar no Departamento de Marketing do Flu, aí viramos amigaços. Alexandre é fã de rock n' roll, especialmente britânico. Mega fã de Oasis, o cara tem até aquela epiphone union jack do Noel Galagher tatuada na perna. Quer dizer; semi tatuada. Ele nunca fez o contorno. Faz essa porra, maluco! Além destas afinidades, Alex sempre foi muito bom com as palavras e, juntos, compomos diversos textos e idéias que marcaram a inesquecível campanha de marketing "Decida o Tetr4", do inesquecível título de campeão brasileiro de 2012. Fora um dos projetos mais geniais de marketing esportivo - a Ocupação 41 - implodida por dentro por fraqueza da Flusócio, maluquice do Peter e influência política da Comunicação da época, capitaneada pela FSB. Bons tempos! Vivemos muitas coisas, crescemos muito eu, ele e toda a bravíssima equipe da época, cheia dos melhores profissionais que já vi - e seguem dando show nessa área por onde passam; eu tava lá só praquele projeto... nunca mais.
Só um aviso pra quem tá lendo: o Alexandre tem um gosto culinário muito doido. Quando viajávamos com o time, ele fazia umas misturebas no café da manhã dos hotéis que sempre eram enviadas pro grupo de whatsapp para notificar aos chefes e equipe, que o rapaz tinha algum pino solto. Era kiwi, com linguiça e doce de leite, com maple syrup enxarcando tudo. Então, se é que alguém aqui tá realmente interessado em ver a crítica gastronômica para escolher qual dos sandubas quer experimentar: (i) po, to fazendo isso desde 2002 e até agora você não percebeu que isso aqui não é exatamente a melhor fonte pra isso? e (ii) teje avisado e não reclame comigo caso você chegue no McDonalds e o gosto for muito doido; o paladar dele não é muito confiável.
Enfim... no que interessa - um ponto de vista e uma voz qualificada para estimular seu pensamento e te fazer gastar tempo precioso da sua vida com bobagem que não vai contribuir em nada - ele não decepcionou e fez uma resenha antológica! Essa série só melhora; tá demais! Aproveitem!
McInglaterra e um pouco de Brasil em 2018
por Alexandre Vasconcellos
Quando meu amigo/gênio/ídolo/guru Dudu Albuquerque me contou sobre sua missão quadrienal – avaliar os sandubas do McCopa -, já achei irado por si. Ao revelar o país designado para mim, Inglaterra, fez ainda mais sentido, dada a minha devoção à cultura daquelas bandas, bem sabida pelo nosso caro Reverendo. Missão dada, missão cumprida. Quão difícil seria?
Entre eu e o McInglaterra, havia um Brasil. Havia um Brasil entre eu e o McInglaterra.
Sexta, 18 de maio de 2018, 22h. Parto com um amigo em comum, Lucas Sodré, rumo ao McDonald’s do Largo do Machado, após uma saideira clássica na São Salvador. Fila troncha, chão húmido de rodo recém-passado, nossa vez.
“Me vê um trio do McInglaterra, por favor?”
“Senhor, não estamos tendo o McCopa hoje, os pães acabaram. Na verdade não temos o pão dele, nem o queijo nem o molho também”.
Achei estranho, nunca vi faltar insumo no velho rival dos McDowell’s (entendedores...). Pessoas com atitudes pró-adiposa não perdem viagem. Elas pedem Big Mac. Sexta que vem tento, pensei.
Segunda, 21 de maio. Deflagrada a greve dos caminhoneiros. Será que foi um reflexo antecipado? Vamos ver se isso dura até sexta.
Durou. Mas fui tentar, vai que.
Sexta, 25. Não tinha nem batata. Liguei para alguns, nada. iFood, nothing. Me perguntei se a paralisação seria uma vingança divina, uma espécie de “Não Vai Ter (Mc)Copa” cármico-obêsica.
Puta falta de sacanagem.
Estas semanas foram repletas de escassez e estranheza no ar. Não há restaurante que não aponte falta de algo essencial. Menus tristonhos. No Galeão quarta, véspera de feriado, a cena era Georgia, Walking Dead – BK só tinha Cheddar, e 6 pães. Subway, teryaki, presunto. Mc, apenas PÃO DE QUEIJO E BROWNIE. Distópico, ou numa ruptura do contínuo espaço-tempo. A Matrix estava bugada.
Temi pela próxima sexta, agora em Sampa.
Greve superada, haveria chance para a saga Mundialista ter sua decisão?
Houve. Teve McCopa sim!
Ao que interessa nessa bodega.
FICHA TÉCNICA
Torneio: McCopa 2018
Rede: McDonald’s
Sanduíche: McInglaterra
Data: 01/06/2018
Local: Casa, via iFood, McDonalds do Morumbi Shopping
Escalação: Dois hambúrgueres e cebola crispy; fatias de bacon e queijo emental; barbecue & picles num pão com gergelim. Coca-Cola, entrando no segundo tempo. Método de análise: escala BritRock/BritPop.
Notas:
Dois hambúrgueres: nenhuma novidade, pegaram da geladeira e jogaram na chapa qualquer um do Big Mac. Você até dança se tocar na pista, mas sozinho, você dá forward no Spotify. Nota Bloc Party (4,5).
Cebola Crispy: fazia parte do sanduíche? Não se fez notada, apesar de sabermos que existe. Nota Snow Patrol (4).
Fatias de Bacon: para o padrão da casa, fez bonito. Das credenciais mais altas do certame. Nota The Clash (7,5).
Queijo Emental: Em si já é um queijo sem graça. Nesta versão, vemos uma evolução da ausência de propósito. Nota Libertines (3,5).
Barbecue: Dá a graça ao time. Supre a falta de empenho de alguns componentes, com um bem servido agridoce. Mais adocicado que a versão para McNuggets. Nota New Order (8)
Picles: Duas fatias maiores que em outros sandubas, mas não se destaca. Al dente, pelo menos. Nota Kaiser Chiefs 6,5.
Pão com gergelim: Cumpre o papel de segurar o recheio & manter as mãos menos melecadas, mas não faz a graça da festa. Nota Echo & the Bunnymen (5)
Coca-Cola: sem gás. Xarope maldito. Perda de tempo e desperdício de calorias. Nota Wham! (2,5)
Tamanho: menor que um Big Mac, maior que um quarteirão. Satisfaz. Nota Kasabian (7).
Veredito: não vale a briga para mudar algumas coisas, dar outro nome e enfiar no menu. Que o palhaço imobiliário tenha uma nova ideia para os britânicos para 2022 (se a seleção melhorar e se classificar, claro). Nota Keane, 5,5.
Adendo do comentarista
Apesar de carregar a admiração pela cultura inglesa em minha pele, desta admiração nunca fez parte a culinária. Não há nada verdadeiramente notável no menu tradicional dos súditos, a não ser um eventual Fish & Chips bem feito (e o melhor que comi foi na Disney de Orlando).
Posto isso, seria injusto esperar um espetáculo deste lanche. Nenhum item, isolado ou conjunto, poderia atingir mesmo o patamar de Deuses (Beatles, Who, Stones, Led, Floyid), Semi-Deuses (Jam, Smiths, Kinks, Clapton) ou Heróis do Olimpo (Oasis, Blur, Radiohead). Nada na cozinha deles poderia. No máximo, com muita boa vontade e fome, um Coldplay – bem apresentado, marketing forte, alegra o dia, mas não preenche a alma.
Yours trylly,
Alexandre Vasconcellos
Amanhã: Paulo Pilha resenha o McArgentina
Mas antes, deixa eu dar o meu parecer (super técnico e embasado mesmo sem ter provado) sobre McInglaterra. Olha... essa é difícil de explicar. A culinária da Inglaterra é zero apreciada pelo mundo, tem zero tradição e embora seja um dos países campeões, também não vem fazendo bonito pra merecer. E tipo... ok, as vezes é uma questão de marketing: mas qual marketing que justifica Inglaterra? Porque é perto dos EUA? Então por que não colocou os Eua logo?? O fato de não ter se classificado pra copa não vale; o Mc Italia ta participando! Enfim... não tem muito porquê e acho uma pena, pois poderíamos dar pra outro país mais merecedor. Porra, até o McRussia podia rolar; podia ser um sanduba, dentro de um sanduba, dentro de um sanduba. Regado a vodka, é claro. Enfim...
Conheci Alexandre Vasconcellos em 2007 ou 2008 quando ambos fazíamos parte da Flusócio. Desde lá já nos curtíamos - muito por, à época, sermos um dos pouquíssimos com menos de 30 no grupo - e, depois, quando ambos acabamos indo trabalhar no Departamento de Marketing do Flu, aí viramos amigaços. Alexandre é fã de rock n' roll, especialmente britânico. Mega fã de Oasis, o cara tem até aquela epiphone union jack do Noel Galagher tatuada na perna. Quer dizer; semi tatuada. Ele nunca fez o contorno. Faz essa porra, maluco! Além destas afinidades, Alex sempre foi muito bom com as palavras e, juntos, compomos diversos textos e idéias que marcaram a inesquecível campanha de marketing "Decida o Tetr4", do inesquecível título de campeão brasileiro de 2012. Fora um dos projetos mais geniais de marketing esportivo - a Ocupação 41 - implodida por dentro por fraqueza da Flusócio, maluquice do Peter e influência política da Comunicação da época, capitaneada pela FSB. Bons tempos! Vivemos muitas coisas, crescemos muito eu, ele e toda a bravíssima equipe da época, cheia dos melhores profissionais que já vi - e seguem dando show nessa área por onde passam; eu tava lá só praquele projeto... nunca mais.
Só um aviso pra quem tá lendo: o Alexandre tem um gosto culinário muito doido. Quando viajávamos com o time, ele fazia umas misturebas no café da manhã dos hotéis que sempre eram enviadas pro grupo de whatsapp para notificar aos chefes e equipe, que o rapaz tinha algum pino solto. Era kiwi, com linguiça e doce de leite, com maple syrup enxarcando tudo. Então, se é que alguém aqui tá realmente interessado em ver a crítica gastronômica para escolher qual dos sandubas quer experimentar: (i) po, to fazendo isso desde 2002 e até agora você não percebeu que isso aqui não é exatamente a melhor fonte pra isso? e (ii) teje avisado e não reclame comigo caso você chegue no McDonalds e o gosto for muito doido; o paladar dele não é muito confiável.
Enfim... no que interessa - um ponto de vista e uma voz qualificada para estimular seu pensamento e te fazer gastar tempo precioso da sua vida com bobagem que não vai contribuir em nada - ele não decepcionou e fez uma resenha antológica! Essa série só melhora; tá demais! Aproveitem!
McInglaterra e um pouco de Brasil em 2018
por Alexandre Vasconcellos
Quando meu amigo/gênio/ídolo/guru Dudu Albuquerque me contou sobre sua missão quadrienal – avaliar os sandubas do McCopa -, já achei irado por si. Ao revelar o país designado para mim, Inglaterra, fez ainda mais sentido, dada a minha devoção à cultura daquelas bandas, bem sabida pelo nosso caro Reverendo. Missão dada, missão cumprida. Quão difícil seria?
Entre eu e o McInglaterra, havia um Brasil. Havia um Brasil entre eu e o McInglaterra.
Sexta, 18 de maio de 2018, 22h. Parto com um amigo em comum, Lucas Sodré, rumo ao McDonald’s do Largo do Machado, após uma saideira clássica na São Salvador. Fila troncha, chão húmido de rodo recém-passado, nossa vez.
“Me vê um trio do McInglaterra, por favor?”
“Senhor, não estamos tendo o McCopa hoje, os pães acabaram. Na verdade não temos o pão dele, nem o queijo nem o molho também”.
Achei estranho, nunca vi faltar insumo no velho rival dos McDowell’s (entendedores...). Pessoas com atitudes pró-adiposa não perdem viagem. Elas pedem Big Mac. Sexta que vem tento, pensei.
Segunda, 21 de maio. Deflagrada a greve dos caminhoneiros. Será que foi um reflexo antecipado? Vamos ver se isso dura até sexta.
Durou. Mas fui tentar, vai que.
Sexta, 25. Não tinha nem batata. Liguei para alguns, nada. iFood, nothing. Me perguntei se a paralisação seria uma vingança divina, uma espécie de “Não Vai Ter (Mc)Copa” cármico-obêsica.
Puta falta de sacanagem.
Estas semanas foram repletas de escassez e estranheza no ar. Não há restaurante que não aponte falta de algo essencial. Menus tristonhos. No Galeão quarta, véspera de feriado, a cena era Georgia, Walking Dead – BK só tinha Cheddar, e 6 pães. Subway, teryaki, presunto. Mc, apenas PÃO DE QUEIJO E BROWNIE. Distópico, ou numa ruptura do contínuo espaço-tempo. A Matrix estava bugada.
Temi pela próxima sexta, agora em Sampa.
Greve superada, haveria chance para a saga Mundialista ter sua decisão?
Houve. Teve McCopa sim!
Ao que interessa nessa bodega.
FICHA TÉCNICA
Torneio: McCopa 2018
Rede: McDonald’s
Sanduíche: McInglaterra
Data: 01/06/2018
Local: Casa, via iFood, McDonalds do Morumbi Shopping
Escalação: Dois hambúrgueres e cebola crispy; fatias de bacon e queijo emental; barbecue & picles num pão com gergelim. Coca-Cola, entrando no segundo tempo. Método de análise: escala BritRock/BritPop.
Notas:
Dois hambúrgueres: nenhuma novidade, pegaram da geladeira e jogaram na chapa qualquer um do Big Mac. Você até dança se tocar na pista, mas sozinho, você dá forward no Spotify. Nota Bloc Party (4,5).
Cebola Crispy: fazia parte do sanduíche? Não se fez notada, apesar de sabermos que existe. Nota Snow Patrol (4).
Fatias de Bacon: para o padrão da casa, fez bonito. Das credenciais mais altas do certame. Nota The Clash (7,5).
Queijo Emental: Em si já é um queijo sem graça. Nesta versão, vemos uma evolução da ausência de propósito. Nota Libertines (3,5).
Barbecue: Dá a graça ao time. Supre a falta de empenho de alguns componentes, com um bem servido agridoce. Mais adocicado que a versão para McNuggets. Nota New Order (8)
Picles: Duas fatias maiores que em outros sandubas, mas não se destaca. Al dente, pelo menos. Nota Kaiser Chiefs 6,5.
Pão com gergelim: Cumpre o papel de segurar o recheio & manter as mãos menos melecadas, mas não faz a graça da festa. Nota Echo & the Bunnymen (5)
Coca-Cola: sem gás. Xarope maldito. Perda de tempo e desperdício de calorias. Nota Wham! (2,5)
Tamanho: menor que um Big Mac, maior que um quarteirão. Satisfaz. Nota Kasabian (7).
Veredito: não vale a briga para mudar algumas coisas, dar outro nome e enfiar no menu. Que o palhaço imobiliário tenha uma nova ideia para os britânicos para 2022 (se a seleção melhorar e se classificar, claro). Nota Keane, 5,5.
Adendo do comentarista
Apesar de carregar a admiração pela cultura inglesa em minha pele, desta admiração nunca fez parte a culinária. Não há nada verdadeiramente notável no menu tradicional dos súditos, a não ser um eventual Fish & Chips bem feito (e o melhor que comi foi na Disney de Orlando).
Posto isso, seria injusto esperar um espetáculo deste lanche. Nenhum item, isolado ou conjunto, poderia atingir mesmo o patamar de Deuses (Beatles, Who, Stones, Led, Floyid), Semi-Deuses (Jam, Smiths, Kinks, Clapton) ou Heróis do Olimpo (Oasis, Blur, Radiohead). Nada na cozinha deles poderia. No máximo, com muita boa vontade e fome, um Coldplay – bem apresentado, marketing forte, alegra o dia, mas não preenche a alma.
Yours trylly,
Alexandre Vasconcellos
Amanhã: Paulo Pilha resenha o McArgentina
quinta-feira, junho 14, 2018
(Antes de qualquer coisa: hoje começa a Copa. Vai ser complicado divulgar esse post nas redes sociais sem receber spoiler dos jogos. Sim, porque eu vou gravar os jogos e tentar não saber nada até chegar em casa e assistir os jogos! To tenso! E depois (bem depois, tipo final da copa) eu conto pra vocês como foi. Por enquanto continuem entrando aqui e vendo as resenhas e papeando sobre isso nas redes, de preferência sem fazer piadas com coisas que aconteceram nos jogos, pois eu não vou ter assistido ainda. E agora vocês todos vão fazer exatamente isso, né? Great.)
Apesar de eu só ter escalado fera para essas resenhas, podemos dizer que o de hoje é um resenhista profissional! Afinal de contas, Bruno Janot é, entre várias coisas, crítico de cinema, tendo escrito por anos diversas resenhas de filme para o portal msn.
Na hora de escolher quem ia fazer cada sanduba, eu fiz alguma ligação entre aquele país e a pessoa, mas juro que a ligação nesse caso não foi maconha! Até porque, eu poderia ligar a qualquer um que vai escrever aqui, afinal sou ex-ator e roteirista, então só devo andar com maconheiro, não é mesmo amigo binário reaça?! Pra dizer a verdade... qual ligação que podemos fazer com o Uruguai? Diferente do McAlemanha de ontem, que é sempre favorito em campo e nos sandubas, o Uruguai me parece sempre um wildcard doido. Tipo... ninguém o imagina sendo campeão, mas também não ponho minha mão no fogo dizendo que não vai de jeito nenhum. Alguém imaginava que o Forlan ia ser o melhor da Copa de 2010? Vai que o Suarez não morde ninguem e mete gol a vera? E no campo da cozinha... eles não são Argentina, mas também são conhecidos pelas carnes e tal. Então, sei lá... é uma escolha esquisita do McDonalds e pensei que só resenhistas profissionais como Bruno Janot conseguiriam ver poesia no sanduba por trás desta escolha esquisita que o Donaldo vem fazendo.
E sabe de uma coisa? Acho que acertei na mosca fazendo isso. Deleitem-se com Bruno Janot e o McUruguai!
Mc Uruguai por Bruno Janot
“Meu caro amigo, eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta”
Quando o dono e proprietário deste espaço me convidou para ingressar o time de craques incumbidos da missão de substituí-lo nas já tradicionais resenhas dos “sanduíches campeões” (a.k.a. McFavoritos da Copa) o meu sentimento foi de profunda empatia. Quem conhece o cara sabe como ele está sofrendo por estar longe da terra brasilis nesta época de mundial. Foi, portanto, motivado que pisei depois de bastante tempo em uma loja do McDonald’s para experimentar o McUruguai.
Confesso que a minha primeira impressão foi na verdade um susto ao descobrir o valor da promoção: t-r-i-n-t-a golpes! Mas aparentemente faço parte da minoria que se incomoda em pagar num hambúrguer do Mac o preço de um ~artesanal~. Na fila, praticamente todos os pedidos foram pelo sanduíche campeão e ninguém parecia se importar na hora de tirar o dinheiro da carteira. Algum publicitário me dirá: “viva o espírito da Copa”.
Mas enfim, sem mais delongas, vamos direto ao ponto. Numa escala de um a cinco Luisitos Suárez, o McUruguai fica com quatro mordidas. Vamos aos motivos. A principal novidade na edição 2018 dos McFavoritos é o pão de brioche, que tirou de cena o icônico pão bola. (Nota do editor: Pão Bola!!!) A substituição poderia ter sido um tiro no pé, mas acabou combinando muito bem no sanduíche uruguaio. Mas o ponto forte de verdade fica com a maionese chimichurri, que junto com a copa fatiada e a ~cebola crispy~ deixam um gosto apimentado muito bom na boca.
Só que nem tudo são flores canábicas. Quando se fala na gastronomia do nosso simpático vizinho latino, qual comida seria a mais famosa? Eu diria a carne, o churrasco. Provando que criar expectativa é um convite para frustração, bateu uma certa decepção pelos dois hambúrgueres serem iguais aos de um Big Mac. Faltou ousadia, “cojones” como diria o Loco Abreu.
A mesma ousadia que também faltou na hora de criar um McRússia no lugar do McItália, que nem na Copa está. Mas isso é uma discussão que fica para um outro momento. Em compensação, nesta edição todo dia é dia de Brasil, o que acaba criando uma disputa de preferência na hora da escolha. E o sanduíche brasileiro tem queijo coalho empanado... Vingamos a derrota de 50.
Amanhã: Mc Inglaterra por Alexandre Vasconcellos
Apesar de eu só ter escalado fera para essas resenhas, podemos dizer que o de hoje é um resenhista profissional! Afinal de contas, Bruno Janot é, entre várias coisas, crítico de cinema, tendo escrito por anos diversas resenhas de filme para o portal msn.
Na hora de escolher quem ia fazer cada sanduba, eu fiz alguma ligação entre aquele país e a pessoa, mas juro que a ligação nesse caso não foi maconha! Até porque, eu poderia ligar a qualquer um que vai escrever aqui, afinal sou ex-ator e roteirista, então só devo andar com maconheiro, não é mesmo amigo binário reaça?! Pra dizer a verdade... qual ligação que podemos fazer com o Uruguai? Diferente do McAlemanha de ontem, que é sempre favorito em campo e nos sandubas, o Uruguai me parece sempre um wildcard doido. Tipo... ninguém o imagina sendo campeão, mas também não ponho minha mão no fogo dizendo que não vai de jeito nenhum. Alguém imaginava que o Forlan ia ser o melhor da Copa de 2010? Vai que o Suarez não morde ninguem e mete gol a vera? E no campo da cozinha... eles não são Argentina, mas também são conhecidos pelas carnes e tal. Então, sei lá... é uma escolha esquisita do McDonalds e pensei que só resenhistas profissionais como Bruno Janot conseguiriam ver poesia no sanduba por trás desta escolha esquisita que o Donaldo vem fazendo.
E sabe de uma coisa? Acho que acertei na mosca fazendo isso. Deleitem-se com Bruno Janot e o McUruguai!
Mc Uruguai por Bruno Janot
“Meu caro amigo, eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta”
Quando o dono e proprietário deste espaço me convidou para ingressar o time de craques incumbidos da missão de substituí-lo nas já tradicionais resenhas dos “sanduíches campeões” (a.k.a. McFavoritos da Copa) o meu sentimento foi de profunda empatia. Quem conhece o cara sabe como ele está sofrendo por estar longe da terra brasilis nesta época de mundial. Foi, portanto, motivado que pisei depois de bastante tempo em uma loja do McDonald’s para experimentar o McUruguai.
Confesso que a minha primeira impressão foi na verdade um susto ao descobrir o valor da promoção: t-r-i-n-t-a golpes! Mas aparentemente faço parte da minoria que se incomoda em pagar num hambúrguer do Mac o preço de um ~artesanal~. Na fila, praticamente todos os pedidos foram pelo sanduíche campeão e ninguém parecia se importar na hora de tirar o dinheiro da carteira. Algum publicitário me dirá: “viva o espírito da Copa”.
Mas enfim, sem mais delongas, vamos direto ao ponto. Numa escala de um a cinco Luisitos Suárez, o McUruguai fica com quatro mordidas. Vamos aos motivos. A principal novidade na edição 2018 dos McFavoritos é o pão de brioche, que tirou de cena o icônico pão bola. (Nota do editor: Pão Bola!!!) A substituição poderia ter sido um tiro no pé, mas acabou combinando muito bem no sanduíche uruguaio. Mas o ponto forte de verdade fica com a maionese chimichurri, que junto com a copa fatiada e a ~cebola crispy~ deixam um gosto apimentado muito bom na boca.
Só que nem tudo são flores canábicas. Quando se fala na gastronomia do nosso simpático vizinho latino, qual comida seria a mais famosa? Eu diria a carne, o churrasco. Provando que criar expectativa é um convite para frustração, bateu uma certa decepção pelos dois hambúrgueres serem iguais aos de um Big Mac. Faltou ousadia, “cojones” como diria o Loco Abreu.
A mesma ousadia que também faltou na hora de criar um McRússia no lugar do McItália, que nem na Copa está. Mas isso é uma discussão que fica para um outro momento. Em compensação, nesta edição todo dia é dia de Brasil, o que acaba criando uma disputa de preferência na hora da escolha. E o sanduíche brasileiro tem queijo coalho empanado... Vingamos a derrota de 50.
Amanhã: Mc Inglaterra por Alexandre Vasconcellos
quarta-feira, junho 13, 2018
Mc Favoritos 2018
A Copa do Mundo está chegando a galope e eu não poderia estar mais deprimido; pela primeira vez na minha vida eu não vou poder assistí-la. Meu calvário começou no momento em que os EUA não se classificaram. Ali soube que teria problema. A confirmação do infortúnio se deu quando arrumei meu trabalho super tradicional, o qual não me dará a oportunidade de assistir aos jogos. Os horários são péssimos (8, 11, 13) e as pessoas de lá não poderiam se importar menos. Não existe a menor possibilidade de convencê-los que isso importa pra mim, que se trata de uma questão existencial e vim estaqueando minha existência através das Copas do Mundo!
Isso significa o quê? Que deixarei de existir? Que vou lembrar dessa Copa pela total ausência dela?
Hell no!
Resolvi que vou vivê-la a minha maneira. Quanto aos jogos em si, não vai ter muito jeito... mas a Copa do Mundo vai além dos 90 minutos de bola em campo. E uma das coisas que vem marcando o espírito da Copa do Mundo para nós desde 2002, Artur, são as resenhas dos McFavoritos. Nós começamos isso e virou uma tradição e não podia deixar a resenha morrer, não poderia deixar a resenha acabar.
Como o futebol é um esporte coletivo, recorri aos meus talentosos amigos para ajudar-me nesta missão - é a primeira vez na história de mais de 15 anos deste blog que outra pessoa que não eu escreve aqui - e, a cada dia da semana, um deles virá convidado para resenhar um dos sandubas da Copa. Minha interferência foi mínima; apenas escolhi a pessoa e o sanduba. A quantidade de palavras e o foco ficou à cargo de cada um. Está muito sensacional, cada um a sua maneira e, mais importante, me ajudando a sentir, ainda que um pouquinho, participante desta Copa.
A primeira resenhista tinha um blog há anos atrás e é uma voz da qual sinto muita saudade de ler. Uma pessoa que já citei mil vezes aqui, que acompanhou você desde o seu nascimento, artur. Minha bff Olivia, Kiri, Cambier. Da minha família preferida de Belgas, ela resenhou o McAlemanha e mandou até foto!
***
Kiri Come McAlemanha
por Olivia Cambier
Rtu eu te leio desde 2002, e inclusive voce me inspirou a ter meu próprio blog! E olha eu aqui escrevendo em voce, que momento!
Fiquei muito lisonjeada quando Dudu me chamou pra fazer a resenha de um dos sanduiches da Copa do Mc Donalds! Quem sou eu pra avaliar esses sanduiches? Confesso que não comi nenhum das edições anteriores, e eu sou fã de Mc nuggets com molho barbecue, é raro eu comer um hamburguer! Mas obvio que eu não falei isso pro Dudu por medo de perder minha chance de aparecer aqui!!
Então hoje veio a mensagem que o meu hamburguer seria o Mc Alemanha. Não tem Mc Bélgica (eu sou belga) então vamos pro paíz vizinho com a bandeira igual só que horizontal né? Fui no site do Mc Donalds pra ver como era o Mc Alemanha e vi que hoje era o dia dele! Não perdi tempo, fui almoçar no Mc Donalds (meu primeiro Mc Donalds do ano!)
Vamos aos fatos: “Pão com Gergelim Preto e Branco, Mostarda Rústica, Tomate, Bacon, Queijo Emental, Cebola Caramelizada e dois Hambúrgueres. Acompanhado da deliciosa Batata Alemanha: Batata Rústica com Maionese e Bacon Picado.”
Eu já tinha gostado da descrição e gostei bastante do Mc Alemanha. O que eu mais gostei foi a mostarda rústica que da um toque diferente ao sanduíche, o bacon e o queijo são gostosos, e o pão é macio. A cebola caramelizada (que de caramelizada nada tinha) e o tomate eu dispenso, não agregam em nada. Vem um pauzinho espetado que virou o retirador dessas coisas indesejadas. E gente, e como boa belga, eu AMEI essa batata frita com maionese e bacon, estava muito boa, crispy and juicy!
Obrigada Rtu por me dar um motivo pra ir ao Mc Donalds!
Amanhã: Bruno Janot resenha o McUruguai
Isso significa o quê? Que deixarei de existir? Que vou lembrar dessa Copa pela total ausência dela?
Hell no!
Resolvi que vou vivê-la a minha maneira. Quanto aos jogos em si, não vai ter muito jeito... mas a Copa do Mundo vai além dos 90 minutos de bola em campo. E uma das coisas que vem marcando o espírito da Copa do Mundo para nós desde 2002, Artur, são as resenhas dos McFavoritos. Nós começamos isso e virou uma tradição e não podia deixar a resenha morrer, não poderia deixar a resenha acabar.
Como o futebol é um esporte coletivo, recorri aos meus talentosos amigos para ajudar-me nesta missão - é a primeira vez na história de mais de 15 anos deste blog que outra pessoa que não eu escreve aqui - e, a cada dia da semana, um deles virá convidado para resenhar um dos sandubas da Copa. Minha interferência foi mínima; apenas escolhi a pessoa e o sanduba. A quantidade de palavras e o foco ficou à cargo de cada um. Está muito sensacional, cada um a sua maneira e, mais importante, me ajudando a sentir, ainda que um pouquinho, participante desta Copa.
A primeira resenhista tinha um blog há anos atrás e é uma voz da qual sinto muita saudade de ler. Uma pessoa que já citei mil vezes aqui, que acompanhou você desde o seu nascimento, artur. Minha bff Olivia, Kiri, Cambier. Da minha família preferida de Belgas, ela resenhou o McAlemanha e mandou até foto!
Kiri Come McAlemanha
por Olivia Cambier
Rtu eu te leio desde 2002, e inclusive voce me inspirou a ter meu próprio blog! E olha eu aqui escrevendo em voce, que momento!
Fiquei muito lisonjeada quando Dudu me chamou pra fazer a resenha de um dos sanduiches da Copa do Mc Donalds! Quem sou eu pra avaliar esses sanduiches? Confesso que não comi nenhum das edições anteriores, e eu sou fã de Mc nuggets com molho barbecue, é raro eu comer um hamburguer! Mas obvio que eu não falei isso pro Dudu por medo de perder minha chance de aparecer aqui!!
Então hoje veio a mensagem que o meu hamburguer seria o Mc Alemanha. Não tem Mc Bélgica (eu sou belga) então vamos pro paíz vizinho com a bandeira igual só que horizontal né? Fui no site do Mc Donalds pra ver como era o Mc Alemanha e vi que hoje era o dia dele! Não perdi tempo, fui almoçar no Mc Donalds (meu primeiro Mc Donalds do ano!)
Vamos aos fatos: “Pão com Gergelim Preto e Branco, Mostarda Rústica, Tomate, Bacon, Queijo Emental, Cebola Caramelizada e dois Hambúrgueres. Acompanhado da deliciosa Batata Alemanha: Batata Rústica com Maionese e Bacon Picado.”
Eu já tinha gostado da descrição e gostei bastante do Mc Alemanha. O que eu mais gostei foi a mostarda rústica que da um toque diferente ao sanduíche, o bacon e o queijo são gostosos, e o pão é macio. A cebola caramelizada (que de caramelizada nada tinha) e o tomate eu dispenso, não agregam em nada. Vem um pauzinho espetado que virou o retirador dessas coisas indesejadas. E gente, e como boa belga, eu AMEI essa batata frita com maionese e bacon, estava muito boa, crispy and juicy!
Obrigada Rtu por me dar um motivo pra ir ao Mc Donalds!
Amanhã: Bruno Janot resenha o McUruguai
segunda-feira, junho 11, 2018
1990 - Lembro do Dunga dando um chute lá do meio de campo, de todo
mundo odiar muito ele (tempos depois, olhando pra trás, vejo que foi uma
daquelas primeiras exposições a uma passionalidade - pra usar uma
palavra mais racional e não usar-me eu mesmo da tal passionalidade -
típica do Brasileiro). Lembro de um jardim de inverno paulista - eu
morava em São Paulo na época. Lembro do Brasil eliminado. Goicotchea
pegando penalti a vera. Lembro da final. Mas eu era pequeno, é tudo uma
névoa. Sensações e imagens esparsas. Sem conseguir conectar uma com a
outra.
1994 - Tijuca! Churrasco na final, eu tenso porque todo mundo tava tenso mainly. Acho que não tinha ainda "stakes" suficiente pra estar tenso por conta própria. Veio o título e o release da emoção, todo mundo se abraçando. Que momento legal de todo mundo sendo legal com todo mundo. Futebolzinho de noite, todo mundo brincando de ser Romario e metendo gol. Eu era o Branco, por motivos de Fluzão - esse eu já tinha "stakes". Mas fui Romario tambem, claro. Jogava muito pqp.
Mas esse foi o desemboque!
Antes lembro da TV Mitsubishi que a mamãe comprou e dava garantia até a copa de 1998! Parecia uma vida inteira. Lembro de comprar uma camisa azul da seleção no camelô em frente ao Bobs. Acho que a única camisa falsi que comprei na vida - junto com uma que retrô do Flu antes do Flu ter departamento de marketing e passar a contemplar saudosismos como esse; nunca tive Liga Retrô, por exemplo. Comprei de um mano que fazia e vendia no Orkut. Naquela época era dificil pacas comprar camisa oficial. Não tinha quase em loja; especialmente azul. Então nem me sinto mal por isso. Voltando à copa em si... lembro do Hagi. Do Stoichkov e Leitchkov (era esse o nome do careca deles? Tinha cabelinho do lado) da Bulgaria. Camarões. Essa copa foi irada.
1998 - Essa foi a primeira que talvez já entendesse tudo, porque foi um ano depois da outra copa que me embebi do futebol total. O Fluzão ganhou o imortal, inesquecível, surreal, carioca de 1995, um dos títulos mais incríveis da história do futebol, ganhando em cima do time do maior jogador do mundo na época (o Baixola) com um time todo mambembe, me ensinando a força da camisa do Fluminense e junto a tudo que a copa proporcionou... comecei a jogar, fazer escolhinha bla bla bla... e ainda vi o outro lado, com o Flu rebaixado, rebaixado de novo e de novo. Então 1998 eu já era "formado" nessa porra.
O que mais lembro são duas coisas: mamãe viajou para NY durante a copa. Eu e Adri pedíamos durante todos os intervalos Dominos Pizza, porque era certeza que eles demorariam mais de 30 minutos - porque todo mundo devia fazer o mesmo - e saía de graça. Coitado dos motoboys... mas era bom pacas. Traquinagem de criança. Acho que por memoria afetiva, essas eram as pizzas mais gostosas que comi na vida. Lembro de ver o jogo de estreia - contra Escocia, do lendario FOCK IUL do Junior Baiano para um escocês - na casa do Vovô e Vovó. Na sala. Botaram uma TV lá. Mas já morávamos na Visconde de Pirajá.
Nessa, assistimos numa Samsung com garantia até a Copa de 2002! A Mitsubish tinha ido pro nosso quarto, onde assisti o último jogo. Do burburinho de amigos ligando pra dizer "liga a tv! olha o ronaldinho" antes do jogo avisando da sua convulsão. Até assistindo achando que tudo daria certo no final. Só que o Zidane foi rápido pra destruir isso. Lembro do Edmundo raçudo. lembro de pensar que se ele jogasse o jogo todo, poderia ser diferente. Ele tinha destruido o Campeonato Brasileiro no ano anterior. E, anyways, mais que isso... se o Romario tivesse ido, aquilo não aconteceria. Ia ter diminuido a pressão no Ronaldo. Como o Ronaldo tava jogando aquela epoca... parecia que ele resolveria qualquer coisa. E o time todo, pqp, era muito foda. Que seleção. Meio campo era Dunga jogando o fino, Cesar Sampaio, Leonardo e Rivaldo. pqp.
Mas voltando à final, lembro que minha mãe tinha voltado de NY e tinha me trazido o "Out of Time" do R.E.M. Quando o Petite fez o terceiro gol, eu liguei o som e fui ouvir meu disco mais um pouco - tava viciadão. Até hoje quando escuto lembro um pouco do sentimento. Triste, triste pelo Ronaldo, que queria que ganhasse 4 titulos seguidos e passasse o Pelé! mas tudo bem também. Sou Fluminense, aprendi cedo que a derrota não diminui - na real valoriza - sua próxima conquista. E é essa mentalidade que temos que ter: a próxima conquista. Nunca parar.
2002 - Essa foi divertidona. Muitas pérolas. Internet bombando em minha vida, não era mais ator, saía de noite... A partir daqui já existia Artur, então é capaz de eu repetir algumas coisas que já falei por aqui, enquanto acontecia. Lembro de ver um jogo no Odeon de madruga: Brasil e Costa Rica. 5x2. Puxei uma ola no cinema; até hoje um dos grandes feitos da minha vida. E tinha show do Tremendões antes do jogo. Era tudo meio mambembe, marginal... só a Globo cobrindo. Pipoca doce e maçã do amor (era dia dos namorados?) uma grande diversão. Brasil x Inglaterra, na casa do Pedro, Antônio veio com uma das grandes pérolas da mística do futebol que ficaram marcadas na minha cabeça: Ronaldinho Gaucho arrebentando, Brasil ganhando 2x1, mas jogo parelho. Inglaterra boa pacas. Aí ele é expulso, todo mundo bolado e ele "AEEE PORRA! Agora já ganhamos!". Que isso? Tá doido? Um dos nossos melhores jogadores foi expulso! "Não, não...isso é máxima do futebol. Time que tá ganhando e tem um jogador expulso não perde. É batata. Já é nosso" hahaha a gente riu muito. Mas não é que deu certo?
Lembro de várias outras coisas. Acordar cedinho pra final... foi bem fácil. Um sentimento de Brasil é foda; não tem como: somos favoritos em QUALQUER copa. E somos mesmo. A gente tava fodido nessa copa. Quase não classificou. Felipão entrou no finalzinho. Aliás, lembro muito dessa eliminatoria... desde 1998 até 2002 foi um calvário pra seleção. Teve uns brilharecos com o Vanderlei Luxemburgo, mas em geral foi uma bosta. Lembro da Natassia passando mal por ter bebido demais numa festinha no Fernando onde assistimos Brasil e Venezuela e o Brasil sofreu pra passar. Mas isso não é sobre eliminatoria; eliminatoria é parte da copa ou não? porque senão eu tinha que falar sobre em 93 o Brasil na Bolivia, o frango do tafarel, o Baixola salvando a porra toda no Maraca e também o último jogo antes da copa de 98, no antigo maraca, que fui de cadeira azul com a Deborah Secco hehe
Mas lembro de depois da final ir pra Ataulfo comemorar - ja morava no Leblon. Fecharam ali no clipper e foi esquisito pacas... nego bebendo as 10 da manhã. Vi umas pessoas do colégio... lembro de no colégio também ver um jogo da França no departamento de audiovisual. Não lembro qual, mas eles tavam de branco e tomaram ferro. Zidane tava mal ou machucado, sei la. Lembro do Brasil e Turquia, Denilson e os 4 turcos. Chupa Sukur! Lembro da casa do Melvin um jogo do Mexico, eu acho. Cara, to chorando quase lembrando isso tudo e pensando que não terei nada disso nessa copa. Pqp. Chega, próxima copa.
2006 - Esse time era fodão também. Dida monstro, Cafu, Lucio, Juan, Roberto Carlos. Ze Roberto com apenas 30 anos na epoca, Juninho Pernambucano jogando o fino, Kaká, Ronaldinho Gaucho (melhor do mundo), Adriano e Ronaldo. E ainda tinha voando no banco Robinho e Fred. Mas um bando de coisa deu errada e me ensinou muito também. Lembro que foi mais ou menos por causa da Copa que conheci a Maju; a copa estava vindo e comentando sobre, falamos do Michael Owen. Lembro de participar de um bolão da copa e fazer tudo sério, até chegar a final Brasil x Argentina, a qual disse que daria 17x2 pro Brasil.
Lembro de me impressionar com a Alemanha e achar que aquela geração ia vencer um título. Lembro de torcer muito pro Zidane. E de achar tudo muito louco naquela final. Como é que aquilo ia acontecer?! Como é que aquela retranca ia ganhar e aquele imbecil do Materazo ia sair por cima. A imagem dele saindo expulso, passando pela taça... icônica. E lembro que nessa copa eu percebi como a coisa estava rápida na internet. Em poucos minutos, já tinham vários gifs do Zidane no msn pra você postar.
2010 - Engraçado... esportivamente eu lembro de muita coisa, mas do lado pessoal não muito. Vuvuzelas, whatever. Sei lá, tava todo heartbroken e emerso em trabalho, com a Barry Nice começando a dar problemas. Lembro de ver um jogo lá nos belgas, mas não muito além disso. Lembro de achar a seleção decente e ter muito bode do tratamento do público e da imprensa com o Dunga. Uma pena ele não ter ganhado; tinha como. Loco Abreu no penalti, Soarez, aquele lance todo de Ghana foi muito doido. Espanha meh.
2014 - OEA!!!!
Melhor copa da história. Que momento que o Brasil viveu. E fora isso, esportivamente foi ABSURDA! Quanta coisa, quanto jogo incrivel. Lembro de ver aquele golaço do Van Persie na casa do Pilha e acabar a luz. E o 7x1 no André, claro. Que sensação weird. Mas lembro de todos os eventos, de a Luisa pagar pela lingua, primeiro sendo mané sobre a Copa e depois se deixando levar pelo clima maravilhoso que é uma Copa. Os #1517 todos lá em casa, até o Jesusito. E o Eto' e aquele menino, que coisa linda? Lembro de, de última hora o Pilha me vender um ingresso pra Russia e Belgica no Maraca; que coisa maravilhosa ver um jogo de copa do mundo!
Foi justa a copa ir pra Alemanha, foi mega injusta - mas esperada - a perseguição ao Fred; se jogassem para ele, e não pro Neymar, éramos campeões. A parada era essa; concentrar nele pra livrar o Neymar. Enfim... foi foda e fitting ser a última copa que vi, pois vejo que - a 3 dias do começo da Copa de 2018 - a lembrança desta próxima Copa será a lembrança de uma não-copa. Reprises e reprises. Aquele sentimento de corno, de estar desfrutando uma coisa que não está lá. Ou será que consigo curtir? Outro dia vi uns bons 5 minutos de NBA vibrando e achando que era ao vivo, quando descobri que era reprise. E, além do mais, quando admiramos uma estrela no ceu e namoramos à luz dela, achando-a genial e romantica... ela não está lá. É a mesma coisa que ver os jogos depois deles já realizados.
Né?
Pelo menos assim gosto de pensar. Sei lá, cara. To deprezaço.
Mas também... desde a última Copa até aqui tem tido mesmo pouca coisa no mundo que dá vontade de pegar e falar "Eu lembro".
Tem tido mais coisa que dá vontade de esquecer mesmo.
1994 - Tijuca! Churrasco na final, eu tenso porque todo mundo tava tenso mainly. Acho que não tinha ainda "stakes" suficiente pra estar tenso por conta própria. Veio o título e o release da emoção, todo mundo se abraçando. Que momento legal de todo mundo sendo legal com todo mundo. Futebolzinho de noite, todo mundo brincando de ser Romario e metendo gol. Eu era o Branco, por motivos de Fluzão - esse eu já tinha "stakes". Mas fui Romario tambem, claro. Jogava muito pqp.
Mas esse foi o desemboque!
Antes lembro da TV Mitsubishi que a mamãe comprou e dava garantia até a copa de 1998! Parecia uma vida inteira. Lembro de comprar uma camisa azul da seleção no camelô em frente ao Bobs. Acho que a única camisa falsi que comprei na vida - junto com uma que retrô do Flu antes do Flu ter departamento de marketing e passar a contemplar saudosismos como esse; nunca tive Liga Retrô, por exemplo. Comprei de um mano que fazia e vendia no Orkut. Naquela época era dificil pacas comprar camisa oficial. Não tinha quase em loja; especialmente azul. Então nem me sinto mal por isso. Voltando à copa em si... lembro do Hagi. Do Stoichkov e Leitchkov (era esse o nome do careca deles? Tinha cabelinho do lado) da Bulgaria. Camarões. Essa copa foi irada.
1998 - Essa foi a primeira que talvez já entendesse tudo, porque foi um ano depois da outra copa que me embebi do futebol total. O Fluzão ganhou o imortal, inesquecível, surreal, carioca de 1995, um dos títulos mais incríveis da história do futebol, ganhando em cima do time do maior jogador do mundo na época (o Baixola) com um time todo mambembe, me ensinando a força da camisa do Fluminense e junto a tudo que a copa proporcionou... comecei a jogar, fazer escolhinha bla bla bla... e ainda vi o outro lado, com o Flu rebaixado, rebaixado de novo e de novo. Então 1998 eu já era "formado" nessa porra.
O que mais lembro são duas coisas: mamãe viajou para NY durante a copa. Eu e Adri pedíamos durante todos os intervalos Dominos Pizza, porque era certeza que eles demorariam mais de 30 minutos - porque todo mundo devia fazer o mesmo - e saía de graça. Coitado dos motoboys... mas era bom pacas. Traquinagem de criança. Acho que por memoria afetiva, essas eram as pizzas mais gostosas que comi na vida. Lembro de ver o jogo de estreia - contra Escocia, do lendario FOCK IUL do Junior Baiano para um escocês - na casa do Vovô e Vovó. Na sala. Botaram uma TV lá. Mas já morávamos na Visconde de Pirajá.
Nessa, assistimos numa Samsung com garantia até a Copa de 2002! A Mitsubish tinha ido pro nosso quarto, onde assisti o último jogo. Do burburinho de amigos ligando pra dizer "liga a tv! olha o ronaldinho" antes do jogo avisando da sua convulsão. Até assistindo achando que tudo daria certo no final. Só que o Zidane foi rápido pra destruir isso. Lembro do Edmundo raçudo. lembro de pensar que se ele jogasse o jogo todo, poderia ser diferente. Ele tinha destruido o Campeonato Brasileiro no ano anterior. E, anyways, mais que isso... se o Romario tivesse ido, aquilo não aconteceria. Ia ter diminuido a pressão no Ronaldo. Como o Ronaldo tava jogando aquela epoca... parecia que ele resolveria qualquer coisa. E o time todo, pqp, era muito foda. Que seleção. Meio campo era Dunga jogando o fino, Cesar Sampaio, Leonardo e Rivaldo. pqp.
Mas voltando à final, lembro que minha mãe tinha voltado de NY e tinha me trazido o "Out of Time" do R.E.M. Quando o Petite fez o terceiro gol, eu liguei o som e fui ouvir meu disco mais um pouco - tava viciadão. Até hoje quando escuto lembro um pouco do sentimento. Triste, triste pelo Ronaldo, que queria que ganhasse 4 titulos seguidos e passasse o Pelé! mas tudo bem também. Sou Fluminense, aprendi cedo que a derrota não diminui - na real valoriza - sua próxima conquista. E é essa mentalidade que temos que ter: a próxima conquista. Nunca parar.
2002 - Essa foi divertidona. Muitas pérolas. Internet bombando em minha vida, não era mais ator, saía de noite... A partir daqui já existia Artur, então é capaz de eu repetir algumas coisas que já falei por aqui, enquanto acontecia. Lembro de ver um jogo no Odeon de madruga: Brasil e Costa Rica. 5x2. Puxei uma ola no cinema; até hoje um dos grandes feitos da minha vida. E tinha show do Tremendões antes do jogo. Era tudo meio mambembe, marginal... só a Globo cobrindo. Pipoca doce e maçã do amor (era dia dos namorados?) uma grande diversão. Brasil x Inglaterra, na casa do Pedro, Antônio veio com uma das grandes pérolas da mística do futebol que ficaram marcadas na minha cabeça: Ronaldinho Gaucho arrebentando, Brasil ganhando 2x1, mas jogo parelho. Inglaterra boa pacas. Aí ele é expulso, todo mundo bolado e ele "AEEE PORRA! Agora já ganhamos!". Que isso? Tá doido? Um dos nossos melhores jogadores foi expulso! "Não, não...isso é máxima do futebol. Time que tá ganhando e tem um jogador expulso não perde. É batata. Já é nosso" hahaha a gente riu muito. Mas não é que deu certo?
Lembro de várias outras coisas. Acordar cedinho pra final... foi bem fácil. Um sentimento de Brasil é foda; não tem como: somos favoritos em QUALQUER copa. E somos mesmo. A gente tava fodido nessa copa. Quase não classificou. Felipão entrou no finalzinho. Aliás, lembro muito dessa eliminatoria... desde 1998 até 2002 foi um calvário pra seleção. Teve uns brilharecos com o Vanderlei Luxemburgo, mas em geral foi uma bosta. Lembro da Natassia passando mal por ter bebido demais numa festinha no Fernando onde assistimos Brasil e Venezuela e o Brasil sofreu pra passar. Mas isso não é sobre eliminatoria; eliminatoria é parte da copa ou não? porque senão eu tinha que falar sobre em 93 o Brasil na Bolivia, o frango do tafarel, o Baixola salvando a porra toda no Maraca e também o último jogo antes da copa de 98, no antigo maraca, que fui de cadeira azul com a Deborah Secco hehe
Mas lembro de depois da final ir pra Ataulfo comemorar - ja morava no Leblon. Fecharam ali no clipper e foi esquisito pacas... nego bebendo as 10 da manhã. Vi umas pessoas do colégio... lembro de no colégio também ver um jogo da França no departamento de audiovisual. Não lembro qual, mas eles tavam de branco e tomaram ferro. Zidane tava mal ou machucado, sei la. Lembro do Brasil e Turquia, Denilson e os 4 turcos. Chupa Sukur! Lembro da casa do Melvin um jogo do Mexico, eu acho. Cara, to chorando quase lembrando isso tudo e pensando que não terei nada disso nessa copa. Pqp. Chega, próxima copa.
2006 - Esse time era fodão também. Dida monstro, Cafu, Lucio, Juan, Roberto Carlos. Ze Roberto com apenas 30 anos na epoca, Juninho Pernambucano jogando o fino, Kaká, Ronaldinho Gaucho (melhor do mundo), Adriano e Ronaldo. E ainda tinha voando no banco Robinho e Fred. Mas um bando de coisa deu errada e me ensinou muito também. Lembro que foi mais ou menos por causa da Copa que conheci a Maju; a copa estava vindo e comentando sobre, falamos do Michael Owen. Lembro de participar de um bolão da copa e fazer tudo sério, até chegar a final Brasil x Argentina, a qual disse que daria 17x2 pro Brasil.
Lembro de me impressionar com a Alemanha e achar que aquela geração ia vencer um título. Lembro de torcer muito pro Zidane. E de achar tudo muito louco naquela final. Como é que aquilo ia acontecer?! Como é que aquela retranca ia ganhar e aquele imbecil do Materazo ia sair por cima. A imagem dele saindo expulso, passando pela taça... icônica. E lembro que nessa copa eu percebi como a coisa estava rápida na internet. Em poucos minutos, já tinham vários gifs do Zidane no msn pra você postar.
2010 - Engraçado... esportivamente eu lembro de muita coisa, mas do lado pessoal não muito. Vuvuzelas, whatever. Sei lá, tava todo heartbroken e emerso em trabalho, com a Barry Nice começando a dar problemas. Lembro de ver um jogo lá nos belgas, mas não muito além disso. Lembro de achar a seleção decente e ter muito bode do tratamento do público e da imprensa com o Dunga. Uma pena ele não ter ganhado; tinha como. Loco Abreu no penalti, Soarez, aquele lance todo de Ghana foi muito doido. Espanha meh.
2014 - OEA!!!!
Melhor copa da história. Que momento que o Brasil viveu. E fora isso, esportivamente foi ABSURDA! Quanta coisa, quanto jogo incrivel. Lembro de ver aquele golaço do Van Persie na casa do Pilha e acabar a luz. E o 7x1 no André, claro. Que sensação weird. Mas lembro de todos os eventos, de a Luisa pagar pela lingua, primeiro sendo mané sobre a Copa e depois se deixando levar pelo clima maravilhoso que é uma Copa. Os #1517 todos lá em casa, até o Jesusito. E o Eto' e aquele menino, que coisa linda? Lembro de, de última hora o Pilha me vender um ingresso pra Russia e Belgica no Maraca; que coisa maravilhosa ver um jogo de copa do mundo!
Foi justa a copa ir pra Alemanha, foi mega injusta - mas esperada - a perseguição ao Fred; se jogassem para ele, e não pro Neymar, éramos campeões. A parada era essa; concentrar nele pra livrar o Neymar. Enfim... foi foda e fitting ser a última copa que vi, pois vejo que - a 3 dias do começo da Copa de 2018 - a lembrança desta próxima Copa será a lembrança de uma não-copa. Reprises e reprises. Aquele sentimento de corno, de estar desfrutando uma coisa que não está lá. Ou será que consigo curtir? Outro dia vi uns bons 5 minutos de NBA vibrando e achando que era ao vivo, quando descobri que era reprise. E, além do mais, quando admiramos uma estrela no ceu e namoramos à luz dela, achando-a genial e romantica... ela não está lá. É a mesma coisa que ver os jogos depois deles já realizados.
Né?
Pelo menos assim gosto de pensar. Sei lá, cara. To deprezaço.
Mas também... desde a última Copa até aqui tem tido mesmo pouca coisa no mundo que dá vontade de pegar e falar "Eu lembro".
Tem tido mais coisa que dá vontade de esquecer mesmo.
sábado, março 17, 2018
De vez em quando me pego pensando "por onde anda?" os membros menos proeminentes de bandas famosas de antigamente. (Bandas famosas de antigamente é um pleonasmo, né? Não existe mais o conceito de banda e isso é uma pena)
Gosto de pensar no que anda fazendo o Lelo do Skank, o Marcão do Charlie Brown Jr., aquela mina do Natiroots. Evito pensar no Bruno do Kid Abelha, porque eu sei o que ele tá fazendo (pn) e aí é meio brochante pensar que os outros fazem o mesmo. Sim, porque como um bom roteirista, quando eu imagino, imagino eles em cenários doidos - às vezes buscando um novo sonho, às vezes struggling porque o dinheiro da época gloriosa acabou.
Outro dia a bola da vez foi o Lazão do Cidade Negra. Comecei pensando no Bino (também do Cidade Negra), mas aí ele tava dirigindo uber (é estatística; algum desses músico vai estar dirigindo uber) e achei quase tão boring quanto o Bruce - se bem que, pensando agora, imagina que doido se entra no uber dele... o Lobato do O Rappa!
Enfim...
Do Bino fui pro Lazão e uma parada muito doida aconteceu: eu não estava mais onde eu estava. De repente era como se eu estivesse lá, junto dele. Ele não me via, mas eu via, ouvia e sentia tudo ao redor de Lazão.
Ele estava em um churrasco em Saquarema. Tava quente à vera, mas o chopp (brahma, seu preferido) tava gelado, então até dava pra Lazão suportar aquela situação sem graça:
Era a festa de noivado de sua filha mais velha e ele tinha acabado de jogar uma pelada com a garotada. Logo aos 5 minutos do primeiro tempo, tendo dado apenas dois piques, sentira a panturrilha e a falta de gás no seu tanque. Os jovens não o zoaram, mas claramente o trataram como café-com-leite. Um deles meteu-lhe uma caneta que o fez cair no chão. Mas pior que cair no chão foi o muleque ter voltado e e ajudado-o a levantar... Lazão se sentiu um merda, um ultrapassado. Aquele item decorativo que deixamos exposto na sala só porque alguém importante nos deu de presente. Minutos mais tarde terminou de cravar a adaga da condescendência falando "Quase, Tio!" quando Lazão perdera um gol feito.
Sentado, discretamente botando gelo na panturrilha (pois dirigiria de volta pro Rio mais tarde e pisar na embreagem daquele jeito ia ser foda), se deu conta que conhecia a música que tocava nos alto-falantes do churrasco. Era "Firmamento", de sua antiga banda, o Cidade Negra.
Foi quando ouviu o mesmo muleque cantando junto, bem na parte cantada por Lazão:
- "Entre o céu e o firmamento, existem mais coisas do que julga o nosso próprio entendimento... porra, me amarro nessa música. Ouve só!"- disse pra loirinha sentada em seu colo - "Mensagem show..."
Se não estivesse de óculos escuros, todos perceberiam os olhos de Lazão se enchendo de lágrimas. Lazão deu mais um gole em seu chopp. O calor, a panturrilha... nada mais o incomodava. Por um breve momento, tudo tinha valido.
E aí a Luisa me chamou pra resolver uma coisa do Pastrami e rapidamente voltei para a minha realidade, onde continuo sem saber por onde anda Lazão e outros queridos membros de bandas famosas do passado que levam sua vida com novos desafios, ensinando a todos que tudo um dia passa, então só há um tempo na vida: o presente.
Obrigado pela lição, Lazão.
Gosto de pensar no que anda fazendo o Lelo do Skank, o Marcão do Charlie Brown Jr., aquela mina do Natiroots. Evito pensar no Bruno do Kid Abelha, porque eu sei o que ele tá fazendo (pn) e aí é meio brochante pensar que os outros fazem o mesmo. Sim, porque como um bom roteirista, quando eu imagino, imagino eles em cenários doidos - às vezes buscando um novo sonho, às vezes struggling porque o dinheiro da época gloriosa acabou.
Outro dia a bola da vez foi o Lazão do Cidade Negra. Comecei pensando no Bino (também do Cidade Negra), mas aí ele tava dirigindo uber (é estatística; algum desses músico vai estar dirigindo uber) e achei quase tão boring quanto o Bruce - se bem que, pensando agora, imagina que doido se entra no uber dele... o Lobato do O Rappa!
Enfim...
Do Bino fui pro Lazão e uma parada muito doida aconteceu: eu não estava mais onde eu estava. De repente era como se eu estivesse lá, junto dele. Ele não me via, mas eu via, ouvia e sentia tudo ao redor de Lazão.
Ele estava em um churrasco em Saquarema. Tava quente à vera, mas o chopp (brahma, seu preferido) tava gelado, então até dava pra Lazão suportar aquela situação sem graça:
Era a festa de noivado de sua filha mais velha e ele tinha acabado de jogar uma pelada com a garotada. Logo aos 5 minutos do primeiro tempo, tendo dado apenas dois piques, sentira a panturrilha e a falta de gás no seu tanque. Os jovens não o zoaram, mas claramente o trataram como café-com-leite. Um deles meteu-lhe uma caneta que o fez cair no chão. Mas pior que cair no chão foi o muleque ter voltado e e ajudado-o a levantar... Lazão se sentiu um merda, um ultrapassado. Aquele item decorativo que deixamos exposto na sala só porque alguém importante nos deu de presente. Minutos mais tarde terminou de cravar a adaga da condescendência falando "Quase, Tio!" quando Lazão perdera um gol feito.
Sentado, discretamente botando gelo na panturrilha (pois dirigiria de volta pro Rio mais tarde e pisar na embreagem daquele jeito ia ser foda), se deu conta que conhecia a música que tocava nos alto-falantes do churrasco. Era "Firmamento", de sua antiga banda, o Cidade Negra.
Foi quando ouviu o mesmo muleque cantando junto, bem na parte cantada por Lazão:
- "Entre o céu e o firmamento, existem mais coisas do que julga o nosso próprio entendimento... porra, me amarro nessa música. Ouve só!"- disse pra loirinha sentada em seu colo - "Mensagem show..."
Se não estivesse de óculos escuros, todos perceberiam os olhos de Lazão se enchendo de lágrimas. Lazão deu mais um gole em seu chopp. O calor, a panturrilha... nada mais o incomodava. Por um breve momento, tudo tinha valido.
E aí a Luisa me chamou pra resolver uma coisa do Pastrami e rapidamente voltei para a minha realidade, onde continuo sem saber por onde anda Lazão e outros queridos membros de bandas famosas do passado que levam sua vida com novos desafios, ensinando a todos que tudo um dia passa, então só há um tempo na vida: o presente.
Obrigado pela lição, Lazão.