Às vezes eu fico pensando se a forma como as obras “de época” retratam a linguagem não é um grande equívoco. Se, caso construíssemos uma máquina do tempo e visitássemos 1500 não nos surpreenderíamos de ver que ninguém falava daquele jeito “rebuscado”. E mais: que não é o caso do linguajar não-coloquial ter caído em desuso e sim o fato de que ele nunca foi para a lingua falada; apenas escrita.
Explico: quando escrevemos não traduzimos a forma com a gente, de fato, fala. Tudo bem; hoje em dias até existe a liberdade pra fazer isso, mas ainda o quanto livre e informal seja a nossa capacidade de comunicação escrita, naturalmente colocamos um chapeuzinho mais rebuscado na hora de escrever. (Tipo, olha o jeito como escrevi esse parágrafo! O pensamento de fala é diferente do de escrita; não tem como. Aquele é errático e este pensado)
Fico pensando se quando vemos os caras falando “Vosmicê deveria falar com a Senhorita e oferecê-la um regalo para conquistá-la” eles já não falavam “Coé, lek. Chega na gata e dá um bregueti que ela gama!”
Aliás, não só na linguagem: em tudo!
Porra, as roupas! Aposto que geral ficava na vadiagem, camisa de botão aberto e aí, quando ia rolar foto ou pintura, todo mundo se emperiquetava com roupas, perucas etc. - porque era um grande momento social. Aquilo ia ficar “pra sempre”. Pensa no instagram: ninguém tira foto mulambento. A gatinha ajeita o soutien pro peito parecer maior, o gatinho estufa o muque pra parecer forte... essa é a parada; a gente quer se passar “melhor” para a posteridade. E acho que já rolava antigamente: escrevíamos rebuscado mas na rua era já era outro tipo de fala, estufávamos o peito, ficávamos eretos e compostos, mas assim que o flash pipocava, geral quebrava, tirava o sapato, zoava... até porque: com o calor do Rio de Janeiro e aquelas roupas de antigamente? Impossível ficar engomado daquele jeito.