1990 - Lembro do Dunga dando um chute lá do meio de campo, de todo
mundo odiar muito ele (tempos depois, olhando pra trás, vejo que foi uma
daquelas primeiras exposições a uma passionalidade - pra usar uma
palavra mais racional e não usar-me eu mesmo da tal passionalidade -
típica do Brasileiro). Lembro de um jardim de inverno paulista - eu
morava em São Paulo na época. Lembro do Brasil eliminado. Goicotchea
pegando penalti a vera. Lembro da final. Mas eu era pequeno, é tudo uma
névoa. Sensações e imagens esparsas. Sem conseguir conectar uma com a
outra.
1994 - Tijuca! Churrasco na final, eu tenso
porque todo mundo tava tenso mainly. Acho que não tinha ainda "stakes"
suficiente pra estar tenso por conta própria. Veio o título e o release
da emoção, todo mundo se abraçando. Que momento legal de todo mundo
sendo legal com todo mundo. Futebolzinho de noite, todo mundo brincando
de ser Romario e metendo gol. Eu era o Branco, por motivos de Fluzão -
esse eu já tinha "stakes". Mas fui Romario tambem, claro. Jogava muito
pqp.
Mas esse foi o desemboque!
Antes
lembro da TV Mitsubishi que a mamãe comprou e dava garantia até a copa
de 1998! Parecia uma vida inteira. Lembro de comprar uma camisa azul da
seleção no camelô em frente ao Bobs. Acho que a única camisa falsi que
comprei na vida - junto com uma que retrô do Flu antes do Flu ter
departamento de marketing e passar a contemplar saudosismos como esse;
nunca tive Liga Retrô, por exemplo. Comprei de um mano que fazia e
vendia no Orkut. Naquela época era dificil pacas comprar camisa oficial.
Não tinha quase em loja; especialmente azul. Então nem me sinto mal por
isso. Voltando à copa em si... lembro do Hagi. Do Stoichkov e Leitchkov
(era esse o nome do careca deles? Tinha cabelinho do lado) da Bulgaria.
Camarões. Essa copa foi irada.
1998 - Essa foi a
primeira que talvez já entendesse tudo, porque foi um ano depois da
outra copa que me embebi do futebol total. O Fluzão ganhou o imortal,
inesquecível, surreal, carioca de 1995, um dos títulos mais incríveis da
história do futebol, ganhando em cima do time do maior jogador do mundo
na época (o Baixola) com um time todo mambembe, me ensinando a força da
camisa do Fluminense e junto a tudo que a copa proporcionou... comecei a
jogar, fazer escolhinha bla bla bla... e ainda vi o outro lado, com o
Flu rebaixado, rebaixado de novo e de novo. Então 1998 eu já era
"formado" nessa porra.
O que mais lembro são duas
coisas: mamãe viajou para NY durante a copa. Eu e Adri pedíamos durante
todos os intervalos Dominos Pizza, porque era certeza que eles
demorariam mais de 30 minutos - porque todo mundo devia fazer o mesmo - e
saía de graça. Coitado dos motoboys... mas era bom pacas. Traquinagem
de criança. Acho que por memoria afetiva, essas eram as pizzas mais
gostosas que comi na vida. Lembro de ver o jogo de estreia - contra
Escocia, do lendario FOCK IUL do Junior Baiano para um escocês - na casa
do Vovô e Vovó. Na sala. Botaram uma TV lá. Mas já morávamos na
Visconde de Pirajá.
Nessa, assistimos numa Samsung com
garantia até a Copa de 2002! A Mitsubish tinha ido pro nosso quarto,
onde assisti o último jogo. Do burburinho de amigos ligando pra dizer
"liga a tv! olha o ronaldinho" antes do jogo avisando da sua convulsão.
Até assistindo achando que tudo daria certo no final. Só que o Zidane
foi rápido pra destruir isso. Lembro do Edmundo raçudo. lembro de pensar
que se ele jogasse o jogo todo, poderia ser diferente. Ele tinha
destruido o Campeonato Brasileiro no ano anterior. E, anyways, mais que
isso... se o Romario tivesse ido, aquilo não aconteceria. Ia ter
diminuido a pressão no Ronaldo. Como o Ronaldo tava jogando aquela
epoca... parecia que ele resolveria qualquer coisa. E o time todo, pqp,
era muito foda. Que seleção. Meio campo era Dunga jogando o fino, Cesar
Sampaio, Leonardo e Rivaldo. pqp.
Mas voltando à final,
lembro que minha mãe tinha voltado de NY e tinha me trazido o "Out of
Time" do R.E.M. Quando o Petite fez o terceiro gol, eu liguei o som e
fui ouvir meu disco mais um pouco - tava viciadão. Até hoje quando
escuto lembro um pouco do sentimento. Triste, triste pelo Ronaldo, que
queria que ganhasse 4 titulos seguidos e passasse o Pelé! mas tudo bem
também. Sou Fluminense, aprendi cedo que a derrota não diminui - na real
valoriza - sua próxima conquista. E é essa mentalidade que temos que
ter: a próxima conquista. Nunca parar.
2002 - Essa foi
divertidona. Muitas pérolas. Internet bombando em minha vida, não era
mais ator, saía de noite... A partir daqui já existia Artur, então é
capaz de eu repetir algumas coisas que já falei por aqui, enquanto
acontecia. Lembro de ver um jogo no Odeon de madruga: Brasil e Costa
Rica. 5x2. Puxei uma ola no cinema; até hoje um dos grandes feitos da
minha vida. E tinha show do Tremendões antes do jogo. Era tudo meio
mambembe, marginal... só a Globo cobrindo. Pipoca doce e maçã do amor
(era dia dos namorados?) uma grande diversão. Brasil x Inglaterra, na
casa do Pedro, Antônio veio com uma das grandes pérolas da mística do
futebol que ficaram marcadas na minha cabeça: Ronaldinho Gaucho
arrebentando, Brasil ganhando 2x1, mas jogo parelho. Inglaterra boa
pacas. Aí ele é expulso, todo mundo bolado e ele "AEEE PORRA! Agora já
ganhamos!". Que isso? Tá doido? Um dos nossos melhores jogadores foi
expulso! "Não, não...isso é máxima do futebol. Time que tá ganhando e
tem um jogador expulso não perde. É batata. Já é nosso" hahaha a gente
riu muito. Mas não é que deu certo?
Lembro de várias
outras coisas. Acordar cedinho pra final... foi bem fácil. Um sentimento
de Brasil é foda; não tem como: somos favoritos em QUALQUER copa. E
somos mesmo. A gente tava fodido nessa copa. Quase não classificou.
Felipão entrou no finalzinho. Aliás, lembro muito dessa eliminatoria...
desde 1998 até 2002 foi um calvário pra seleção. Teve uns brilharecos
com o Vanderlei Luxemburgo, mas em geral foi uma bosta. Lembro da
Natassia passando mal por ter bebido demais numa festinha no Fernando
onde assistimos Brasil e Venezuela e o Brasil sofreu pra passar. Mas
isso não é sobre eliminatoria; eliminatoria é parte da copa ou não?
porque senão eu tinha que falar sobre em 93 o Brasil na Bolivia, o
frango do tafarel, o Baixola salvando a porra toda no Maraca e também o
último jogo antes da copa de 98, no antigo maraca, que fui de cadeira
azul com a Deborah Secco hehe
Mas lembro de depois da
final ir pra Ataulfo comemorar - ja morava no Leblon. Fecharam ali no
clipper e foi esquisito pacas... nego bebendo as 10 da manhã. Vi umas
pessoas do colégio... lembro de no colégio também ver um jogo da França
no departamento de audiovisual. Não lembro qual, mas eles tavam de
branco e tomaram ferro. Zidane tava mal ou machucado, sei la. Lembro do
Brasil e Turquia, Denilson e os 4 turcos. Chupa Sukur! Lembro da casa do
Melvin um jogo do Mexico, eu acho. Cara, to chorando quase lembrando
isso tudo e pensando que não terei nada disso nessa copa. Pqp. Chega,
próxima copa.
2006 - Esse time era fodão também. Dida
monstro, Cafu, Lucio, Juan, Roberto Carlos. Ze Roberto com apenas 30
anos na epoca, Juninho Pernambucano jogando o fino, Kaká, Ronaldinho
Gaucho (melhor do mundo), Adriano e Ronaldo. E ainda tinha voando no
banco Robinho e Fred. Mas um bando de coisa deu errada e me ensinou
muito também. Lembro que foi mais ou menos por causa da Copa que
conheci a Maju; a copa estava vindo e comentando sobre, falamos do
Michael Owen. Lembro de participar de um bolão da copa e fazer tudo
sério, até chegar a final Brasil x Argentina, a qual disse que daria
17x2 pro Brasil.
Lembro de me impressionar com a Alemanha e achar que aquela geração ia vencer um título. Lembro de torcer muito pro Zidane. E
de achar tudo muito louco naquela final. Como é que aquilo ia
acontecer?! Como é que aquela retranca ia ganhar e aquele imbecil do
Materazo ia sair por cima. A imagem dele saindo expulso, passando pela
taça... icônica. E lembro que nessa copa eu percebi como a coisa estava
rápida na internet. Em poucos minutos, já tinham vários gifs do Zidane
no msn pra você postar.
2010 - Engraçado...
esportivamente eu lembro de muita coisa, mas do lado pessoal não muito.
Vuvuzelas, whatever. Sei lá, tava todo heartbroken e emerso em trabalho,
com a Barry Nice começando a dar problemas. Lembro de ver um jogo lá
nos belgas, mas não muito além disso. Lembro de achar a seleção decente e
ter muito bode do tratamento do público e da imprensa com o Dunga. Uma
pena ele não ter ganhado; tinha como. Loco Abreu no penalti, Soarez,
aquele lance todo de Ghana foi muito doido. Espanha meh.
2014
- OEA!!!!
Melhor copa da história. Que momento que o Brasil viveu. E fora isso,
esportivamente foi ABSURDA! Quanta coisa, quanto jogo incrivel. Lembro
de ver aquele golaço do Van Persie na casa do Pilha e acabar a luz. E o
7x1 no André, claro. Que sensação weird. Mas lembro de todos os eventos, de a Luisa pagar pela lingua, primeiro sendo mané sobre a Copa e depois se deixando levar pelo clima maravilhoso que é uma Copa. Os #1517 todos lá em casa, até o Jesusito. E o Eto' e aquele menino, que coisa linda? Lembro de, de última hora o Pilha me vender um ingresso pra Russia e Belgica no Maraca; que coisa maravilhosa ver um jogo de copa do mundo!
Foi justa a copa ir pra Alemanha, foi mega injusta - mas esperada - a perseguição ao Fred; se jogassem para ele, e não pro Neymar, éramos campeões. A parada era essa; concentrar nele pra livrar o Neymar. Enfim... foi foda e fitting ser a última copa que vi, pois vejo que - a 3 dias do começo da Copa de 2018 - a lembrança desta próxima Copa será a lembrança de uma não-copa. Reprises e reprises. Aquele sentimento de corno, de estar desfrutando uma coisa que não está lá. Ou será que consigo curtir? Outro dia vi uns bons 5 minutos de NBA vibrando e achando que era ao vivo, quando descobri que era reprise. E, além do mais, quando admiramos uma estrela no ceu e namoramos à luz dela, achando-a genial e romantica... ela não está lá. É a mesma coisa que ver os jogos depois deles já realizados.
Né?
Pelo menos assim gosto de pensar. Sei lá, cara. To deprezaço.
Mas também... desde a última Copa até aqui tem tido mesmo pouca coisa no mundo que dá vontade de pegar e falar "Eu lembro".
Tem tido mais coisa que dá vontade de esquecer mesmo.