sábado, março 17, 2018

De vez em quando me pego pensando "por onde anda?" os membros menos proeminentes de bandas famosas de antigamente. (Bandas famosas de antigamente é um pleonasmo, né? Não existe mais o conceito de banda e isso é uma pena)

Gosto de pensar no que anda fazendo o Lelo do Skank, o Marcão do Charlie Brown Jr., aquela mina do Natiroots. Evito pensar no Bruno do Kid Abelha, porque eu sei o que ele tá fazendo (pn) e aí é meio brochante pensar que os outros fazem o mesmo. Sim, porque como um bom roteirista, quando eu imagino, imagino eles em cenários doidos - às vezes buscando um novo sonho, às vezes struggling porque o dinheiro da época gloriosa acabou.

Outro dia a bola da vez foi o Lazão do Cidade Negra. Comecei pensando no Bino (também do Cidade Negra), mas aí ele tava dirigindo uber (é estatística; algum desses músico vai estar dirigindo uber) e achei quase tão boring quanto o Bruce - se bem que, pensando agora, imagina que doido se entra no uber dele... o Lobato do O Rappa!

Enfim...

Do Bino fui pro Lazão e uma parada muito doida aconteceu: eu não estava mais onde eu estava. De repente era como se eu estivesse lá, junto dele. Ele não me via, mas eu via, ouvia e sentia tudo ao redor de Lazão.

Ele estava em um churrasco em Saquarema. Tava quente à vera, mas o chopp (brahma, seu preferido) tava gelado, então até dava pra Lazão suportar aquela situação sem graça:

Era a festa de noivado de sua filha mais velha e ele tinha acabado de jogar uma pelada com a garotada. Logo aos 5 minutos do primeiro tempo, tendo dado apenas dois piques, sentira a panturrilha e a falta de gás no seu tanque. Os jovens não o zoaram, mas claramente o trataram como café-com-leite. Um deles meteu-lhe uma caneta que o fez cair no chão. Mas pior que cair no chão foi o muleque ter voltado e e ajudado-o a levantar... Lazão se sentiu um merda, um ultrapassado. Aquele item decorativo que deixamos exposto na sala só porque alguém importante nos deu de presente. Minutos mais tarde terminou de cravar a adaga da condescendência falando "Quase, Tio!" quando Lazão perdera um gol feito.

Sentado, discretamente botando gelo na panturrilha (pois dirigiria de volta pro Rio mais tarde e pisar na embreagem daquele jeito ia ser foda), se deu conta que conhecia a música que tocava nos alto-falantes do churrasco. Era "Firmamento", de sua antiga banda, o Cidade Negra.

Foi quando ouviu o mesmo muleque cantando junto, bem na parte cantada por Lazão:

- "Entre o céu e o firmamento, existem mais coisas do que julga o nosso próprio entendimento... porra, me amarro nessa música. Ouve só!"- disse pra loirinha sentada em seu colo - "Mensagem show..."

Se não estivesse de óculos escuros, todos perceberiam os olhos de Lazão se enchendo de lágrimas. Lazão deu mais um gole em seu chopp. O calor, a panturrilha... nada mais o incomodava. Por um breve momento, tudo tinha valido.

E aí a Luisa me chamou pra resolver uma coisa do Pastrami e rapidamente voltei para a minha realidade, onde continuo sem saber por onde anda Lazão e outros queridos membros de bandas famosas do passado que levam sua vida com novos desafios, ensinando a todos que tudo um dia passa, então só há um tempo na vida: o presente.
Obrigado pela lição, Lazão.