sexta-feira, junho 02, 2006

Ultimamente venho meditando sobre a minha decisão de não mais ser ator. Porque é foda: todo mundo é bem melhor que eu em tudo. E nem é questão de competitividade, de querer ser o cara mais foda do mundo em determinado assunto, pois isso é irreal e eu também nem era o melhor ator da Terra. O lance é que, po, eu faço aula de piano há 3 anos e gente que nunca fez toca bem melhor que eu. E tenho certeza de que não desprenderam tanto tempo à prática do instrumento pra se desenvolver tão rapidamente assim. Nunca fui um ás do baixo, tampouco criativo em minhas linhas; fui até repetitivo. Não tenho voz pra cantar, não compunha maravilhosamente, pois não tenho conhecimento técnico nem capacidade de transpor minhas emoções do cérebro pro papel. Meu ouvido que eu achava ser bom é uma bela enganação -- talvez ele seja bom mas a peça que o liga ao cérebro não funciona bem.
Não sou um ótimo amigo. Achava que era um incrível namorado, mas já não acho mais. Não sei sobre configurações, não jogo bola bem, meu porte físico é ridículo, não sou bonitaço (já fui uma vez), não leio, por isso não escrevo e meu português é bem fraco e inglês idem. Nunca me dê uma conta em um restaurante, pois sairei com prejuízo de 30 reais.

Enfim, não tem nada que eu faça muito bem.

Podem, até para me consolar, dizer que eu é que não decido uma coisa pra me dedicar e fico pulando de lá pra cá - como já tentaram fazer - mas é mentira isso.
Podem também dizer que eu sou um all around, ou seja, faço mais ou menos (mais pra menos) tudo ao invés de me especializar em alguma coisa. Mas também é errado, porque a maioria desses exemplos, que são fundados pela observação que venho fazendo em pessoas próximas a mim de muito pra cá, apontam que eles são bem melhores em mil outras áreas. E, perdão, eu até acredito que você me ache bom em "x", mas acho que você tá errado.
Voltar a ser ator também não adianta porque, sim, eu vendo as fitas acho muito bom e natural, do jeito que eu acho que um ator deve ser. E isso acontecia porque era uma grande brincadeira para mim e aí entrava dentro do lance. O problema é que hoje em dia eu não conseguiria entrar na brincadeira de novo e naturalizar aquilo que não é real (o texto todo e suas intenções) e isso faz de mim um mau ator. Aliás, sendo crítico de minhas atuações, acho que meu último momento de brilho (bem forte, vale dizer) foi em Vira-Lata e depois minha atuação foi caindo bastante.
Também quero dizer pros cristãos que adoram demonstrar compaixão que não falo isso porque sou muito crítico. Nem venham com essa! E também que to sendo auto-depreciativo; só realmente acho que não sou muito bom em nada. Até porque não há nada de triste nisso, é coisa da vida. O mundo precisa de pessoas como eu.
Então, já que quem chegou aqui não tem nada pra fazer além de concordar com o que eu falei (e isso faz do texto totalmente não-interativo), deixo esta pergunta: o que vale mais? Fazer muito bem o que você não gosta ou fazer mal o que você ama?
Talk amongst yourselves