Não falar com você vai contra a minha natureza. E acho que vc se identifica com isso. Em novembro você escreveu sobre isso. Eu não quero. Mas to tentando qualquer coisa pra ficar bem. Só que já não acho que vale.
Eu li msg de whatsapp de menos de um mês você falando que tava com muita saudade, que queria muito eu contigo aí. Essa é a verdade, o amor sempre é verdade, porque a gente não consegue fingir/maquiar isso. O que tá acontecendo agora é um bando de escudos de defesas que nascem do medo e da angústia.
Eu só agora to conseguindo olhar de fora pra tudo, ver um ciclo que se concluiu, da vinda pros EUA. A gente deu as mãos e falou "vamos deixar tudo pra trás e nos apoiaremos até conseguir construir tanta coisa quanto já tínhamos no Brasil". Eu, por alguns motivos, não consegui fazer isso ainda. A gente chegou, eu fui fazer os youtubes pra gente poder ter dinheiro e se estabelecer. Esperando o visto, aí deu aquela merda toda, tivemos que voltar; eu fiquei parado fazendo o processo todo - aí já foram 2 anos de trabalho interno, sem expandir. Você não precisava se preocupar com isso, tava fazendo contatos, conhecendo gente e eu ficava e ainda fico muito feliz por isso. Depois, resolvido o visto, mas descapitalizados, fui trabalhar no site de real estate. Não havia expansão ali nem de carreira nem afetiva; era uma cidade longe com pessoas muito diferentes. Era um trabalho onde a troca era estritamente o dinheiro, a responsabilidade que eu tinha com a nossa base/fundação pra dali construir. No meio do caminho, você estava cansada de ser assalariada; queria sua própria empresa. Assim foi, eu permaneci no trabalho, até que no fim do ano eu saí de lá pra retomar minha carreira, que já não era há 3 anos prioridade em minha vida. Precisava disso pessoalmente - nós entendemos hoje - mas principalmente para podermos renovar o visto e assim ganhar mais tempo para que nossa base/fundação seguisse firme pra construir tudo que almejávamos.
Comecei o Polling Life e entendemos (entendi?) que aquilo podia ser o que nos garantiria mais um visto. E eu gostava - embora também não construísse relações no mundo físico. Mas com 6 meses, o peso e a responsabilidade do dinheiro (e acho que outras coisas) começou a pesar demais em você. Nossa união foi posta em cheque. É claro que eu faria qualquer coisa pra que isso não acontecesse. Imagina; eu larguei tudo que me constituía pra trás, dando a mão pra você, dizendo "eu consigo fazer isso porque você sozinha vale tanto a pena quanto todo o resto". Não ter você também... qual o sentido? É óbvio que eu largaria Polling Life pra que você ficasse feliz, porque o plano era eu e você making it. Do que valeria ter deixado tudo no Brasil se o final fosse esse? Independente disso, eu te amo muito, cara. Seu sorriso sapeca ilumina qualquer dia nublado. Seu carinho revigora minha energia. Não acredito numa vida sem você sendo melhor. Possível, pode ser. Melhor? Nunca. E você sabe que o mesmo se aplica a você em relação a mim. Que de todas as variações de vida que você viveu, quando a gente permite encontrar o melhor da gente, é algo inigualável, necessário, que a gente não quer e não deve viver sem. Só temos nos "protegido" demais. Subido escudo atrás de escudo, por algo que acho que não é culpa nossa, que não sou eu que to provocando em você, nem você que tá provocando em mim. A gente é aliado, a gente quer o bem um do outro. A gente se ama. E não existe amar de longe. Amar se faz junto, no viver.
Depois disso tudo, o grande baque que não se resolve nem mesmo depois dos acordos. A descoberta que nosso compromisso era diferente. Que sua forma de amar era inclusiva. Eu venho ainda aprendendo a ver dessa bonita forma, mas - no meio de tudo que estava acontecendo e tracei aqui desde nossa saída do Brasil, abandonando juntos tudo que tínhamos - foi/é muito difícil, pois o pequeno chão/base/fundação que tinha ruiu debaixo de mim. Onde posso colocar o pé agora? E isso acontece numa pandemia - com fascistas em tudo quanto é lado, com tecnologia nos viciando, mostrando tudo que não temos e não podemos) numa viagem de van pelo desconhecido (num momento onde estou há 4 anos só no desconhecido; você foi ao Brasil todos os anos, eu nunca. E por cuidado, por saber, no meio disso tudo, que se algo acontecesse - e tamo vendo que sempre pode acontecer - com meu visto, seria muito problemático pra você e pra nós. Um sacrifício em respeito, com responsabilidade e, sempre, amor e carinho por você e nós dois).
De repente voltamos pros EUA e desde então, com os traumas do México, escudos a total força. Já não nos encontramos. Eu começo a terapia pra trabalhar em mim e melhorar e conseguir exatamente ver o todo, sair desse mundo pequeno (mas super complexo e pesado) que minha vida se tornou. É um processo. As vezes eu errei tentando forçar decisões que me prevalecessem porque no nosso desencontro você estava focada em se salvar e a gente já não conseguia conversar e se abrir e se cuidar por diversos motivos. Fizemos terapia em casal por muito pouco tempo e de uma maneira que acho que não foi muito séria. Podíamos ter feito mais, com mais frequência, por mais tempo. É simbólico. Mostra a vontade de fazer funcionar. Ficou claro que cada um tinha um chão. E talvez pudéssemos construir uma ponte que unisse esse chão? As coisas infelizmente não me ajudavam a construir essa ponte. Rolou o visto, demorou mas rolou o dinheiro do trabalho-- só pra parar de vir o dinheiro do trabalho. E isso me enlouquece. Talvez em outro momento não? Mas eu preciso muito disso, por mil motivos, dentre eles esse; construir a ponte, construir nosso chão de novo. E mesmo nisso tudo, entre os meus e os seus surtos com mais novos baque e dificuldades (cara, a gente passou e passa por muito e acho que a gente não acknowledge isso; a gente é muito duro conosco, individualmente e um com o outro) houve um momento aqui e acolá em que a gente se encontrou mesmo que não por inteiro e teve um pouquinho daquilo que é tão bom quando você e eu estamos desarmados e dispostos a nos vulnerabilizar diante ao outro.
O doido é que quando você foi (eu li agora essa msg) você disse que comentou com alguém o quanto parecia que a gente se amava mais do que nunca hoje. A gente se "odeia" mais do que nunca também? Será que as dificuldades crescem proporcionais ao nosso amor? Mas ódio é circunstancial. Amor é permanente. Eu te amo muito. Eu quero muito viver nosso amor. Eu quero muito acordar e estar animado com o que vem pela frente. Eu não tenho mais nada disso. Eu deixei pra trás um mundo - que seguiu andando sem mim - e o que eu tinha parece estar ruindo. Só há um buraco embaixo. Por que a gente faz isso? Por que a gente não se abraça? Minha vó... parece que tudo que vale a pena tá me deixando. Eu to tão sozinho. Eu te amo tanto.