terça-feira, dezembro 31, 2019

Sabe, esse último post era um post antigamente. Hoje em dia, com alguma edição pra reduzir o número de caracteres (ou transformando em thread) é um tweet.

Falo isso pra ser meu quase anual post comentando/justificando a quantidade de posts no ano. Ao mesmo tempo que aumentando a quantidade de post no ano. É, virou tradição, substituiu o post-poesia (geralmente sobre o verão).

11 posts, já foi bem pior, mas ano passado com 19 parecia que ia animar o negócio aqui e... simplesmente não rolou. Polling Life me ocupou todo o tempo criativo na primeira metade do ano, fora todo o estresse emocional de tempos Trump e Bolsonaro, mais trabalho e dramas pessoais. Fora a existência supracitada do Twitter e outros meios de uso da minha criatividade.

Ano que vem vai ser melhor ou pior? Difícil dizer. Nosso plano de viver uma van life pode tanto fazer com que eu nunca mais escreva aqui, ou me dar tanta qualidade de tempo que eu escreva muito aqui. Fora que, a 3 anos de distância do artur fazer 20 anos de existência (uau) eu vou ter que começar a olhar com carinho pro catálogo porque quero comemorar isso fazendo um livrinho com os melhores posts dentre os 550(!) posts que existem HOJE! Imagina daqui a 3 anos?

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...

segunda-feira, dezembro 30, 2019

Gatos fazem um barulho muito esquisito. O ronronar deles. É meio robótico; já reparou? Papagaios fazem sons esquisitos robóticos também; não parece que ele tá falando e sim que tá "reproduzindo" uma gravação. Então fiquei pensando... quem garante que ambos não são robôs? Você já abriu um gato ou papagaio pra ver se não é um robô da CIA te espionando?

É assim que:
( ) pensa a mente de um psicopata
( ) idéias de filmes surgem

domingo, dezembro 29, 2019

Não sei nem qual adjetivo usar pra pessoas que passam a vida toda fazendo/sendo um merda e aí chega no final (ou quando passa por um aperto que faz parecer ser o fim) e faz o arrependido.

Minha irmã me manda uma mensagem de natal e pede pra que eu ligue pro meu pai, pois ele teve uma arritmia e uma ordem de despejo e não sei o que, pedindo pra eu relevar tudo e ligar pra ele blablabla.

Eu decidi que não. Não dessa vez. 2018 foi um divisor mesmo.

Eu passei a vida toda batalhando e denunciando os jeitos do meu pai comigo. E com a gente, com todos os filhos. Mesmo não sendo o mais velho, fui o primeiro a notar isso e reclamar. Aos 12 anos, fiquei um tempão sem falar com ele. Só conheci minha irmã mais nova quando ela estava prestes a fazer 1 ano.

Num momento eu entendi e relevei seus defeitos. Fiz as pazes com a forma como ele é, com o foco na carreira (nele mesmo) acima dos trezentos filhos que ele fez muito provavelmente com o intúito de controlar/prolongar a relação com suas companheiras cansadas de serem preteridas pela carreira e controladas pela sua forma autoritária (e machista). Porque o esforço (já tá errado aí, né?) pra praticar a paternidade era zero.

Fiquei naquela de me ater às coisas boas. Focar na contribuição artística ao mundo, grato pela predisposição artística repassada geneticamente (se é que isso existe), o papo maluco bom (mais próprio a um amigo do que um pai) e outras coisas que desconfio que trocaria fácil pela tão mais rara relação pai e filho. Nessa vibe de enxergar o lado bom das coisas, isso tudo me deu distanciamento e anticorpo pra ficar super bem. Eu estava fora da zona de controle dele, meu próprio homem, independente. Podendo me nutrir do que era bom e não esperar algo que não viria.

Mas aí veio 2018 validando todos os ressentidos do Brasil. Se antes ainda havia um pouco de vergonha que censurava os impulsos mais escrotos do meu pai, eles não tinham razão pra ser agora. Ele, pimpão, recolocou as mangas de fora, retrocedeu tudo. Não comigo; moro longe e, como disse, sou independente há muito. Mas causou bastante dor aos meus irmãos - mais próximos a zona de controle dele - e aí foi fácil e natural retroceder a relação e voltar à indiferença que havia antes.

E nem fiz nada de mais. Sou fiel à noção de que o contrário do amor não é o ódio e sim a indiferença. Só risquei da minha lista de preocupações e considerações o "se importar" com ele e minha relação com ele. Aí, ano passado, houve um drama porque eu não mandei mensagem no Natal - o que por si só já era hipócrita, pois (i) isso era exatamente uma das coisas que eu reclamava que ele, como pai, não fazia; ligar no aniversário e outras datas... enfim, "procurar", mostrar interesse e (ii) é uma via de mão dupla; porque ele não ligou? Seu telefone não é bloqueado no meu.

Depois, já em 2019, quando do acidente de carro, ele falou, pelo meu irmão, algo tipo "ah, não sei se ele quer falar comigo, então deseja aí melhoras pra eles"... tua neta e nora há 7 anos tão no hospital e você tá com medo de ouvir um "obrigado, mas não quero falar com você" (que nem aconteceria; em momento fragilizado, eu ia gostar de ouvir palavras de conforto, mesmo não o tendo em mais alta conta... quem não gosta de palavras de conforto? quem não gosta de bondade?)

Enfim... com toda essa folha corrida, ironicamente, agora é pedido pra que eu seja "the bigger person" e poxa, liga lá pra ele. Faça ele, que passou a vida inteira sem se esforçar um pouco pra fazer você se sentir bem, se sentir bem que você ligou e "perdoou" seus erros. Faz você o esforço e não ele. O devedor é que recebe.

Até na sua redenção você quer fazer os outros se sentirem mal? Tenho EU que engolir todos os sentimentos pra não sentir culpa de algo que é tudo coisa que VOCÊ tem que processar? É impressionantemente "on cue" com tudo que você representou nessa área da sua vida. Não houve um centímetro de mudança. Você teve tudo que você se predispôs a fazer de verdade.

Mas pós 2018 eu me livrei das amarras sociais. Eu não to mais no chat da minha outra família e não procuro mais eles também (embora tenha muito mais carinho histórico por eles e, numa situação igual a essa, agiria diferente com eles), "amigos" ficaram pra trás também, e não faço mais sala pra quem é legal comigo, mas um escroto pro todo.

Então pensei, ruminei, sofri... decidi que não ia mandar mensagem não. Ainda assim, se ele ligasse, eu falaria (friamente); não sou um escroto. Tenho compaixão e empatia. Mas não ia ceder controle pra ele, não ia eu validá-lo. A culpa e o choque são educativos. E, francamente, são as únicas armas que a gente tem às vezes.

Não cola comigo "mas ele é velho". Exatamente. Teve esse tempo todo, bando de tentativa e erro pra ficar sábio e ficou velho. Agora que a vida parece no fim, se vê sozinho, vê tudo que fez errado... e nem o esforço de buscar redenção faz? Tem medo de ouvir um ou dois "não", depois de uma vida inteira o dando pros outros? Snowflake. Não entendeu nada do trajeto de sofrimento e humildade do Jesus que ele (há pouco tempo, really) passou a se fiar. Se não tivesse parecendo no fim da vida... teria esses arrependimentos fajutos? Do que adiantam sem ação?

Com tudo isso, decidi com o pé atrás não mandar mensagem. Minha mãe, mesmo com todo o histórico, sem gostar nem um pouco dele, disse que eu deveria ligar. Ficava com pena e tal. E também com medo de, se algo acontecer, eu me sentir mal. Mas pensei na hora e venho pensando e achando mesmo que (i) vaso ruim não quebra fácil. O cara tá todo bionico, ja teve mil problemas de coração e tá aí. Meu avô era a mesma coisa. E (ii) que nunca, nunca, nunca podemos nos sentir culpados pelas opções dos outros. Só somos responsáveis pelas nossas ações e, sim, elas podem refletir nos outros, há que se ter responsabilidade nas nossas ações. Mas a gente não é Jesus pra ficar se martirizando pelos outros; temos que cuidar de nós mesmos. Mais e mais eu percebo o quanto essa vida é tudo que tenho e quero poder vivê-la da maneira mais prazeirosa possível. Preservando minha saúde mental e espiritual. Valorizando e retornando a quem me faz bem. Gastando minha energia com isso. Quebrando o elo com o que me faz mal, dando-lhes a chance de parar de fazer... não quis agir em cima disso? Então faço eu mesmo.

Vivendo as minhas culpas, os meus acertos. Os meus erros, meus consertos. Vivendo a minha vida e não a dos outros. E, apesar de eu ter vindo da sua vida, você hoje simplesmente não faz quase diferença na minha. O que tudo bem, pois eu por muito também não fiz na sua. Embora não seja um troco, agora você sabe como é.

E não há qualquer ressentimento enquanto digito isso. Pra provar isso, uma honesta consideração de quem pode te ensinar, pois já esteve lá: se agora, revendo a  sua vida, você acha que eu fiz parte da sua vida como um arrependimento... primeiro, poxa, sinto por você. De verdade. Mas é melhor fazer as pazes - como eu fiz há muito - que só pontes superficiais podem ser feitas entre nós agora. Não acho que há muito tempo pra criar algo realmente forte. A urgência é só sua. Tenho mil outras prioridades com gente que sempre esteve lá por mim. Aceita isso - aliás, agradeça isso, pois minha irmã, por exemplo, teve muito menos gente assim com ela - e passa adiante. Use seu talento e reputação. Tente falar com quem tem menos histórico contigo, mostre seu arrependimento a essas pessoas, aponte a elas tudo que você faria diferente se pudesse, pra que ela não cometa o mesmo tipo de erro que você cometeu. Cuide de quem ainda espera e se nutre do seu amor e atenção.

E vá em paz. Está tudo bem. 

sábado, outubro 26, 2019

To gostando tanto de ler o livro do Melvin (Estrada - Mil shows do Melvin), que vou copiar e fazer um post no mesmo estilo.

Assim, guardadas as proporções, né? Fiquei fazendo as contas na cabeça e imagino que fiz entre 50 e 100 shows - mas mais perto dos 50 que dos 100. A maioria com o Canvas (mas nem sei dizer quanto... na casa dos 20? 30?), Weezer cover (uns 7?), Carbona (uns 4 substituindo o Melvin?), The Invisibles (2 substituindo o Rubinho), um show só do Reverendo, um show com o Rafa Cosme (e a Olivia Develly numa musica!) tocando o Back 2 Basics do Carbona (foi um momento histórico) e outras ocasiões tipo London Burning All Stars(2), sarau do Notre Dame, show de fim de ano do Antonio Adolfo.

Mas pro meu pequeno currículo, depois de muitos anos tempo sem adicionar nada, nessas doideiras da vida, acabei adicionando alguns shows com a lenda do underground carioca Mauricio Baia. Conheci ele aqui em Miami, pois é casado com a Kathleen, que é amiga da Mari Britto, e por isso, quando viemos há 3 anos pra ca, conhecemos a irmã dela, Chanda. Enfim; historia doida ne? Pra melhorar, ele já trabalhou com meu pai e com a Roberta. Enfim... ficamos amigos, ano passado só, se escorando um no outro enquanto víamos o Brasil eleger Bolsonaro. No dia do primeiro turno da eleição fomos lá pra casa dele pra respirar um pouco e lembrar que nem todo mundo era cruel. Aqui, 87% dos votos favoraveis no primeiro turno, é difícil de lembrar que nem todo mundo é cruel.

Levou um tempo até ele descobrir meu passado musical, apesar da herança familiar. Apesar dele, com certa razão, falar pra eu parar de dizer isso, não sou musico. Eu sei o quão difícil é e o quanto de gente mais talentosa que eu tem por aí nesse meio. É mais uma brincadeira, um amor que tenho. Que mesmo assim, na brincadeira, vivi um bando de hit and miss e nunca cheguei muito a lugar nenhum (seja por culpa minha ou não, quando eu tentei a vera ou quando fiz quase de sacanagem)

Mas enfim... quando comprei um baixo usado, ele se empolgou e falou "vem tocar comigo, man". Marcou um show num lugar que tava abrindo, ensaiamos por vária semanas as musicas que ele gravou no seu ultimo disco "Bossa in Dylan", clássicos de Bob Dylan em versão bossa nova. O show seria só eu no baixo, ele no violão.

Foi o primeiro de uma série de shows inusitados. Neste primeiro, ao chegar ao local, "Black Market", em Downtown, estava passando a semifinal(?) da Copa America, entre Colombia e Chile e tinha uma galeria colombiana no bar, no primeiro andar, vendo o jogo. O show seria no segundo andar, após o jogo. O lugar era maneirissimo. Bem bonito, recém aberto. O problema é que a Colombia perdeu(ou eram chilenos; o lance é que o time deles perdeu) e basicamente ninguem ficou. O show ficou bem vazio, porque o lugar era gigante. Fora as sequelas do Baia, que esqueceu de avisar o cara da casa de que eu ia tocar também. "Achei que era só voz e violao!". Resultado? Não tinha onde ligar meu amp. Teve que fazer uma gambiarra e ligar meu baixo em linha. Resultado? Não ouvia o baixo, que saía em algum lugar no PA da casa grande. Se ouvia algo, era com delay. Teria que tocar no feeling, torcendo pra estar saindo direito aquelas musicas que caminham pra caramba e tinha conhecido há umas 2 semanas. Não parou aí... ele fez um setlist, pra chegar na hora e mudar tudo, pular musica e de repente, do nada "Queria convidar minha querida amiga Isabela do Natiruts(!) pra cantar uma musica aqui comigo" e eu "oi? ninguem me avisou isso! como assim? que musica?" e fazer meu melhor pra tocar algo que nunca toquei na vida, sem me ouvir, com a mina do Natiruts(!!) que brotou ali na hora, em Miami.

Grande Baia!

Depois desta louca experiência, fizemos outros "shows". As aspas porque foram aqui em casa, pra Luisa e pra Kathleen e toda a vizinhança, outra vez pros amigos no meu niver, e uma vez só pra Dora, filhinha dele, que pediu pra gente tocar o show inteiro pra ela. Sim, vou contar tudo isso como show; o Melvin conta bloco de carnaval, então eu conto quando a gente mete o setup dele da Behringer com microfone e caixa de som e abre as portas da varanda pra Edgewater inteiro ouvir.

E aí chegamos à esse show de hoje.

Eu dei um bolo nele uma vez, porque ele apareceu do nada "bora tocar amanhã numa tattoo shop de um amigo" e no dia ele surgiu com varias musicas dele (e não do Dylan) pra tocar e eu falei "cara, toca sozinho; é melhor, vou fazer merda". E aí combinei com ele de pegar as cifras, pedi pra ele selecionar "as mais queridas" (basicamente o DVD "Baia e o Circo" dele) e me comprometi a aprender pra que quando ele fizesse o louco eu conseguisse embarcar ehehe E aí foi essa semana "man, vamos fazer um show beneficente nessa sexta la em Key Biscayne!". Dessa vez eu falei "bora". Ainda mais sendo beneficente. Bora, por que não?

Não seria o Baia e eu se não fosse muito doido. Era um clube de golfe, super chique. Chegamos, montamos nosso som. A ideia era tocar no comecinho da festa, warm up pra que as pessoas ficassem no hall de entrada - onde fazia-se as doações beneficentes. A musica ao vivo ali ficava tanto como "pano de fundo", porque era um publico que não se importava muito com isso, mas também ajudava a não ficar aquele silêncio awkward. Fazia com que eles ficassem conforáveis ali, conversando e estando expostos à área de doação. Então show. Nosso papel.

Mas sem qualquer estrutura. Montamos ali no chão mesmo, ligando as coisas numa tomada atrás de uma árvore... um medo danado do vento derrubar as caixas foi substituido pelo medo da chuva, que não tardou a vir e nos fazer desligar tudo e montar um pouco mais pra dentro da tenda. Isso e os convidados chegando...

Ah... eu falei que era uma festa de halloween?

Sim. Eu toquei todo de preto, com camisa do livro do Melvin e uma maquiagem nos olhos e na bochecha um desenho tipo de cicatriz frankenstein. Baia com camisa e chapeu de espantalho.

E aquela questao de não ter nunca tocado com o Baia as musicas. Eu tinha ensaiado sozinho. Uma vez, porque a vida tem andado bem dificil por aqui. E algumas que ele botou no setlist, adivinha? Nunca tinha ouvido. Peguei a cifra de "Tu" (um xote delícia dele que anda pra caramba) e coloquei de cola ali , com uma parte embaixo do amp. Os convidados - tenho que dar pra elas que estavam bem fantasiadas - não podiam se importar menos que tocaríamos ali.

E aí fiquei pensando...

Baia, essa lenda, com décadas de estrada, tendo tocado no Rock in Rio, Montreux, lotador contumaz de Circo Voador, tocando ali, amarradão, ACIMA de tudo isso... e eu vou me preocupar em saber as notas ou nao?

Eu vou me divertir e aproveitar o momento e desfrutar de tocar com essa lenda e ser parte de um momento que é marcante não pela glória mas por quão pitoresco é. E mais: vou fazer ser ainda mais pitoresco. Resolvi que ia entrar no personagem halloween e passei a tocar encarando as pessoas, com os olhos esbugalhados, a cabeça arqueada pro lado, meio cachorro, meio Edward Mãos de Tesoura, e do tronco pra baixo o mais ereto e imóvel possível.

O que suscedeu foi um showzão. Especialmente a sequencia inicial de You're a big girl now / Knocking on Heavens Door / Eus / Fulano, Cicrano e Beltrano / Lembrei / Baia e a Doida. Toquei lindamente, deixei muita gente sem graça, fiz o Baia rir e foi show. Acho que foi o melhor show que fizemos juntos, talvez exatamente por não estarmos nem aí pra tudo. Pro "nome', pra "imagem", pro "sucesso". O máximo rock and roll que existe. Na hora de "Tu", que eu tinha deixado a colinha, é claro, tinha que dar merda. O vento bateu, um guardanapo cobriu a cifra, e, nao obstante, Baia ainda pulou uma parte da musica hahaha

Enfim, terminamos com "Anunciação" do Alceu, já rendendo algumas mulheres à dança. Quando o show acabou e eu revivia meus tempos de roadie do Netunos (adiciona uns 15 shows aí pra eu ficar mais próximo de 100!) eu fiquei pensando que são esses os shows que dão historia. Que se o Baia fizesse um livro sobre sua interessante historias, essas coisas renderiam minha participação lá. Que se tudo saísse bonitinho, não tinha muito o que falar. Perfeito é boring. Os perrengues, o inusitado; são esses os tijolos que formam a estrada. E essa tem sido a minha. Cheia deles e eu teimo em seguir nela, sem parar, sem ser parado, sem aceitar o fim da linha.

Porque como diz o Baia o tempo todo:
"É caminhando que se caminha".

domingo, setembro 15, 2019

André foi meu primeiro melhor amigo. De alguma maneira foi meu único.
Antes dele, tive/tenho alguns melhores amigos que eram na real amigos do meu irmão, de tal forma que, embora os amasse muito, não seria justo dizer "meu"; no máximo "nosso". Tiveram alguns outros do maternal que eram "melhor amigo" por pressão social, tipo mães ou professoras determinando que éramos melhores amigos porque passávamos mais tempo juntos do que com outros coleguinhas; mas eu não levava a amizade para depois, pro além-escola, pro âmbito particular. André foi a primeira grande amizade que fiz sozinho. Quer dizer: que fiz junto com André; nenhuma amizade se constrói sozinho. Conheci ele na terceira série A do Notre Dame. Em pouco tempo nos conectamos através de X-Men, Mariah Carey e talvez, lá no fundo, filiação de músico ex-famoso. Começamos a frequentar um a casa do outro - eu mais a dele que ele a minha, porque a casa dele era muito mais legal; com dois irmãos, dois andares, vista pro colégio, misto quente ruim, piscina com infestação de rolinha (e todas as piadas sexta-série que conseguíamos fazer em cima disso), play pra jogar bola, piano, muito videogame, filmes que fazíamos nós 4 (e às vezes convidados) cheio de efeitos especiais engenhosos como filmar a tela do computador, onde, em cima do feed de outra câmera, Rodrigo desenhava "ao vivo" o raio que saía do olho do Ciclope (André) pra matar o Magneto (Thiago) e todas as tecnologias ponta-de-linha que nunca deram certo, como o laser-disc, câmera hi-8 e Dreamcast. Fora as festinhas do colégio que aconteciam lá. Eu vivi muitos momentos de formação de personalidade naquela casa e com aquele amigo. Dividíamos um ou outro quase-melhor amigo que, generosamente, convidávamos a entrar naquela nossa conexão de melhor amigo - apesar de por algum motivo curioso ele me chamar de Eduardo e eu ele de André e não por apelidos, como todo melhor amigo normal faz. Aquela confiança saudável de melhor amigo, que no olhar sabe que nenhuma outra amizade é tão especial quanto aquela. Éramos sempre nós dois, de maneira que quando a vida nos fez estranhos - quando André repetiu a primeira série do 2 grau e mudou de escola - eu simplesmente nunca mais tive um "melhor amigo" nesses moldes. Passei a ser plural e no máximo classificar melhor amigo no plural, deixando o todo se dissipar em todos, dizendo que eu não tinha "um melhor amigo, mas vários". Ou então falava que não tinha melhor amigo at all. André foi meu último melhor amigo. E o próprio conceito de "melhor amigo" virou uma coisa de criança - na melhor concepção da palavra, tal qual a carinha dele, que, mesmo bombadão, com os cabelos precocemente todos brancos, parecia um garotinho: doce, alegre, inocente. Melhor amigo virou algo utópico; um conceito a ser buscado, mas nunca atingido. Com ninguém conseguiria construir algo como o fiz com André. Ainda que não tenhamos nos falado muito desde então - esbarrões e mensagens eletrônicas bissextas (no entanto, sempre afetuosas) - nossa vivência compartilhada de anos tão formativos de nossas identidades faz com que eu SEMPRE remeta a André ou algo que vivi com André. É história que não é necessariamente sobre ele; mas ele tava junto. É referência que nem tem conexão a ele em si, mas tive acesso junto à ele; na casa dele, ou consolidada em conversa com ele. Uma presença constante, ainda que em alguns momentos invisível ou imaterial. E isso vai continuar acontecendo agora. Não há porque mudar. Você vai continuar vivendo através de mim. Até que chegue a nossa vez, estaremos todos que dividimos qualquer título contigo - mãe, pai, irmãos, primos, melhor amigo.... - te mantendo vivo através da perpetuação de nossas existências, profundamente marcadas pela sua.

sábado, setembro 07, 2019

Que conste em ata que no dia 7 de setembro de 2019, eu declarei independência do Brasil. 
Dos EUA. Declarei independência de qualquer convenção geográfica. Eu sou do mundo e não quero ficar em qualquer lugar que seja escroto como esses vem sendo. Declaro independência do medo. Não mais vai me privar de usar minha voz, de me botar pra agir. Saí do Brasil vendo o que ia se tornar e vim pra cá para uma outra convenção de país. Se na próxima eleição não se confirmar ter sido apenas um longo porém finito desvio, nem quero ficar. Vou pra outro lugar que coadune com minha idéia de humanidade. E se for estragado também, vou pra outro e outro, não fugindo, mas descobrindo. E escolhendo. E levando comigo toda a força que já construi e vou construir agora que me libero de amarras que não mais me prendem a terra nenhuma. Casa? Moro em mim e nos que acreditam em mim. Declaro também independência de uma culpa e subserviência ao sistema todo que faz isso acontecer. Minha fidelidade é com a criação e a empatia e comigo e com os meus. "Nome sujo"? Dívida? Não é por aí que se mede. Dinheiro não é o meu Deus. Meu Deus é o criar. Arte, conexão, bons sentimentos e lembranças.
Ontem tive um clique, uma mudança de visão. De que nada disso tem importância. De que o que importa é o único sentimento que desejamos mais que o amor, pois é precípuo ao amor, prioritário e necessário para que chegue-se ao amor: a liberdade. Algo profundo mudou em mim e nada mais será o mesmo.

quarta-feira, julho 24, 2019

Quando falam (e tem se falado muito em contextos de duas opiniões divergentes ) "aceita que dói menos"... dói menos em quem?

Neles que falam isso, né? Tipo, tem um "em mim (pois não consigo lidar democraticamente com visões contrárias; me machuca)" oculto no final da frase. É uma súplica de clemência pois não conseguirão manter isso no campo do debate de idéias. Aceite, pois eu não consigo. Seja a pessoa mais madura, por favor, e me deixe ganhar essa.

Porque, se não, se significa que aceitar o que quer que seja irá doer menos para a pessoa que não aceita o que quer que seja... de onde eles tiraram essa idéia? Há um conhecimento de causa disso? Estaria, quando fala "aceita que dói menos", o interlocutor dando um conselho carinhoso e preocupado, de quem já viveu aquilo nos sapatos daquela pessoa, lutando contra aquilo e, finalmente, desistindo, pois era muito doloroso pra ele lutar contra aquilo e não conseguir convencer as pessoas de sua verdade? Quem fala "aceita que dói menos" seria, então, alguém frustrado, conformista e até enrustido, que jogou a toalha frente à complexidade da luta e dá o conselho à pessoa como alguém experiente que está menos angustiado tendo aceitado a mediocridade?

Ou é apenas uma direta ameaça autoritária para que a pessoa aceite, entube, se renda e assimile, pois, se resistir, ela irá se machucar pelas mãos dela ou de seus colegas?

A verdade é que pouco importa.

A lingua fala. Literalmente. Mesmo os que não a dominam - talvez até mais os que não a dominam - acabam sendo entregues por ela, quando nos debruçamos no que se é dito além do que é falado.
 As 3 opções de intenção do "aceita que dói menos" demonstram apenas estágios do ciclo de um derrotado. Seja o ódio do autoritário, a ignorância do covarde ou a fraqueza do medroso.

Em suma, quando alguém usa "aceita que dói menos" em contexto de confronto retórico, imediatamente atesta e destaca seu interlocutor como o minuendo da equação. O papel do falante será apenas o de tentar, futilmente, subtrair: sendo um zero como são, o resultado no máximo será a manutenção de quem você é. Não somarão nada. É tempo perdido.

Leia "aceita que dói menos" e traduza em "siga em frente e além, que esse não vale a pena".

domingo, julho 14, 2019

Você também sente às vezes que vive no momento finalzaço do Capitalismo? Tipo late late stages?

Eu sinto muito esse sentimento através da publicidade. Sem ela querer - imagino - acaba sendo muito reveladora do momento fucked up que a gente tá vivendo.

Agora há pouco, por exemplo, eu vi um bloco comercial inteiro que era estandarte disso. Primeiro vi uma parada de companhia aérea dizendo "Make the whole world your office!" e tipo... really? Que merda. O mundo foi reduzido a isso? Ele pode ser tão mais que isso... Depois, um Stella Artois que começava num pé feminino à beira d'água com uma Stella. Aí a camera abria e mostrava que a mina tava era numa piscina Tony, com maior barulheira de cidade, numa varanda de um prédio. Aí dizia "Vacation is how you see things" ou algo do tipo. Até tinha a boa inteção de falar "faça de qualquer momento um momento agradável", mas só revela também esse state of mind de "always be closing" e o fato de que no mundo de hoje é impossível desligar, ficar 30 dias seguidos de férias; você tem que fazer cada momento férias, porque de resto você é um escravo do capitalismo e da "produtividade". Por fim, vi um comercial de várias serie novas no Hulu com o slogan "say goodbye to your free time". How is that a good thing??

quarta-feira, julho 03, 2019

Dá uma tristeza gigante quando você se despe de todas suas esperanças e analisa friamente o Brasil.

Toda essa parada que tá rolando com a política. A verdade é que, apesar dos últimos 20 anos de progresso, foi muito pouco. O que são 20 anos de evolução pra 500 de desigualdade? O Brasil é um país MISERÁVEL. De terceiro mundo. Com a maior parte de sua história enaltecendo regimes autocráticos, escravagismo, militarismo etc.

Então o entendimento é quase impossível de ser alcançado. Não só na Vaza Jato: qualquer defesa de poderosos acusados de algum erro é completamente torta e só reforça os seus crimes, dando razão à acusação... mas ninguém tem nem a inteligência de perceber e processar isso. É desesperador.

Exemplo:
Quando Moro começa a fugir das perguntas sobre a Vaza Jato dando os dados da Lava Jato, mostrando seus números (tantos presos, tanto dinheiro retornado aos cofres)... ele só faz reforçar o que lhe acusam: ser partidário.
Fosse o Dallagnol falando isso, ok. Mas o Juiz NÃO é parte do time. Moro não é parte da Lava Jato; Moro JULGOU a Lava Jato. O entendimento do público de que ele é a Lava Jato (que ele adora) já mostra que tudo está errado, pois ele é (ou deveria ser) um juiz, imparcial. Usar como resposta, como escudo, as boas coisas que a Lava Jato fez, basicamente dizendo "os fins justificam os meios", faz dele partidário, parcial, viciado. Um Juiz não poderia justificar decisões pelo bem geral, através de uma ação ilegal.
Seria justo um procurador botar na justiça um milionário e, apesar de nada de errado com ele, o Juiz determinar que vai tirar todo o seu dinheiro? Vai ser bom para o geral, pois o dinheiro dele vai ser transferido pro país... É injusto uma pessoa segurar muito dinheiro quando tanta gente passa fome? Injustiças são legais. Moro é uma fraude cristalina. Suas ações, suas reações, suas defesas; todas confirmam a tese de que cometeu um crime, todas desabonam a hipótese de que não fez nada de errado.

Quando Neymar solta na internet conversas e fotos da menina que o acusou de estupro, faz o mesmo: só mostra que não entende o conceito de "consentimento"- princípio básico do estupro.

Então é muito difícil. Como você fala que isso tá errado pra pessoas que não entenderam porquê é errado permitir um cara que celebra a memória de um torturador - não de outro país; daqui, da história ao vivaço daqui, do cara que torturou a presidente do Brasil e diversos outros - se tornar presidente do país? Se o Dallagnol confessasse que falou tudo aquilo, as pessoas acreditariam e teriam a grandeza de "mudar de lado"?  Penso o quanto adoramos falar "é a palavra dele contra a sua"convindo basicamente que só com provas se julga algo de forma justa, quando na verdade os brasileiros acreditamos em maioria que uma palavra contra a outra vale algo sim e, no caso hipotético do Dallagnol confessar, era capaz de o Moro usar a carta da "palavra dele contra a minha" e ganhar apoio de grande parte da população.
 
O investimento de identidade nessa manipulação política comandada pelas grandes oligarquias e corporações feita nos últimos anos foi muito grande e, ainda mais com o reforço das midias sociais - pesadas recompensadoras emocionais com likes, seguidores etc. - parece muito pouco crível que as pessoas estariam dispostas a virar o espelho pra si mesmas, ouvir a voz da razão e agir de forma imparcial, reparando que elas não são a lava jato ou o que quer que seja e podem rever os conceitos e fazer o certo, condenando alguém que parecia estar fazendo o certo, mas, na melhor das hipóteses, da forma mais perigosamente errada possível.

Os Brazileiros parecem determinados a morrer nesse Mor(r)o.

sexta-feira, maio 17, 2019

Lembro de achar tão legal quando iam empresas no Fluminense vender apps e outras coisas e diziam que o custo seria nenhum para o clube; tudo que eles queriam era base-de-dados. Informação é dinheiro! Claro, como poderia não ser?

E isso se expandia quando se falava do público consumidor também! Você baixava o app de graça em troco de dar seu e-mail, responder umas perguntas. Se quisesse o app completaço ou conteúdo exclusivo etc. aí você pagava mais, mas só pro básico que a maioria precisa, era só dar essas infos.

Esse tempo passou.

Agora, de dropbox à jogo de celular, das coisas mais uteis às mais inuteis... acabou o amor. Voltou a ser sobre dinheiro. Você só tem acesso se pagar. Fora "direitos" tirados, como redução de benefícios que você desfruta há anos, caso não faça upgrade pra conta paga. Imagino que ninguém mais chega "na amizade" no Fluminense e outras empresas que possuem muitos adeptos também.

A informação deixou de valer dinheiro? Claro que não. No entanto, a triste e assombrosa constatação que se faz é que eles não precisam mais; eles já tem todas as informações que precisavam. E se havia gente que não tinha essa ideia de "nem sempre o consumidor tem que pagar pra consumir" apenas como discurso... essa gente foi usada e engolida por quem sempre viu o consumidor como produto, o povo como gado, num deslocamento moral-social disfarçado de distanciamento crítico.

terça-feira, março 05, 2019

Seria o meu maior defeito não aceitar a minha mediocridade?
Defeito, karma, sina... o que seja.
É bonito por um lado mirar na grandeza, mas se você não pode chegar lá - e tudo diz que você não pode; ninguém tá interessado real (e em número suficiente) no que você tem pra dar - não é uma teimosia contraproducente (pra não dizer danosa) pra caralho? Por que você não aceita levar uma vida mediana, cedendo seu tempo pra outras coisas e pessoas que cativam mais as outras e movimentam mais o mundo ao invés de ficar batalhando pra te verem do jeito que você se vê?
Fuck you, Vicent Van Gogh.