Nossa, comi demais nesse Natal.
O que me leva a pensar... o ato de comer é uma coisa muito estranha. Não me leve a mal; eu adoro comer. Mas é muito frustrante, chato e inconveniente o fato de que você tem que comer TODA HORA! Você come uma coisa; logo depois tá com fome de novo.
Mas tem uma beleza poética na metáfora que faz da gente: um saco existencial furado onde não importa o que você coloca, sempre cai, deixando-lhe vazio e você precisa de mais e mais e mais.
quinta-feira, dezembro 27, 2018
domingo, dezembro 23, 2018
Natal tá aí e com todas as necessárias problematizações que a humanidade vem fazendo em relação ao machismo, ao conceito de poder, desperdício etc. eu fico pensando como a tradição de “dar presentes” faz intercessão com tudo isso e merece também ser revista.
Eu acho que posso me arriscar a dizer: eu não gosto de receber presentes.
A parada é a seguinte: a medida que você envelhece, você não quer mais perder tempo com coisas que você não tem certeza se precisa. “Eu só quero saber do que pode dar certo”, diz a música dos Titãs. E é mó verdade. Quais as chances do presenteador te dar EXATAMENTE o que você quer ou precisa?
Se você pensar na crise de espaço que existe num mundo superpopulado - em especial nas cidades - com a oferta imobiliária ficando cada vez limitada e ruim... não faz sentido você dar algo que vai ocupar ainda mais espaço! É mó doideira o quanto de objetos e coisas nós acumulamos também por conta dessa pressão social de “dar presente”. Em última análise, o ato de presentear é até invasivo. Sério, é tão século passado. É um pequeno estupro; os outros te forçam a querer algo que na maioria das vezes fala mais deles do que de você. Te dão um quadro e agora você tem que pendurar aquilo para que, de dois em dois meses, quando o presenteador vem te visitar, admire o símbolo de que ele é um bom amigo a ponto de ter um quadro na parede dado por ele. Um monumento ao seu ego. É fácil pros outros falarem “Ai, que amargo. Ela deu com mó boa vontade e você reclama” afinal de contas, não são elas que acordarão todos os dia de suas vidas e olharão para aquele algo indesejado ocupando espaço. E aí vai somando, nós começamos a ter que achar espaço pra todas essas coisas, virando em última instância, um colecionador de coisas que são suas donas e não o contrário; afinal está refém delas.
Então, sim, minha nova coisa é: não me de presentes, sou contra. AKA to pobre, então justifico com essa narrativa, minha ausência de contribuição ao pé da sua árvore de natal.
Eu acho que posso me arriscar a dizer: eu não gosto de receber presentes.
A parada é a seguinte: a medida que você envelhece, você não quer mais perder tempo com coisas que você não tem certeza se precisa. “Eu só quero saber do que pode dar certo”, diz a música dos Titãs. E é mó verdade. Quais as chances do presenteador te dar EXATAMENTE o que você quer ou precisa?
Se você pensar na crise de espaço que existe num mundo superpopulado - em especial nas cidades - com a oferta imobiliária ficando cada vez limitada e ruim... não faz sentido você dar algo que vai ocupar ainda mais espaço! É mó doideira o quanto de objetos e coisas nós acumulamos também por conta dessa pressão social de “dar presente”. Em última análise, o ato de presentear é até invasivo. Sério, é tão século passado. É um pequeno estupro; os outros te forçam a querer algo que na maioria das vezes fala mais deles do que de você. Te dão um quadro e agora você tem que pendurar aquilo para que, de dois em dois meses, quando o presenteador vem te visitar, admire o símbolo de que ele é um bom amigo a ponto de ter um quadro na parede dado por ele. Um monumento ao seu ego. É fácil pros outros falarem “Ai, que amargo. Ela deu com mó boa vontade e você reclama” afinal de contas, não são elas que acordarão todos os dia de suas vidas e olharão para aquele algo indesejado ocupando espaço. E aí vai somando, nós começamos a ter que achar espaço pra todas essas coisas, virando em última instância, um colecionador de coisas que são suas donas e não o contrário; afinal está refém delas.
Então, sim, minha nova coisa é: não me de presentes, sou contra. AKA to pobre, então justifico com essa narrativa, minha ausência de contribuição ao pé da sua árvore de natal.
sexta-feira, dezembro 21, 2018
Às vezes eu fico pensando se a forma como as obras “de época” retratam a linguagem não é um grande equívoco. Se, caso construíssemos uma máquina do tempo e visitássemos 1500 não nos surpreenderíamos de ver que ninguém falava daquele jeito “rebuscado”. E mais: que não é o caso do linguajar não-coloquial ter caído em desuso e sim o fato de que ele nunca foi para a lingua falada; apenas escrita.
Explico: quando escrevemos não traduzimos a forma com a gente, de fato, fala. Tudo bem; hoje em dias até existe a liberdade pra fazer isso, mas ainda o quanto livre e informal seja a nossa capacidade de comunicação escrita, naturalmente colocamos um chapeuzinho mais rebuscado na hora de escrever. (Tipo, olha o jeito como escrevi esse parágrafo! O pensamento de fala é diferente do de escrita; não tem como. Aquele é errático e este pensado)
Fico pensando se quando vemos os caras falando “Vosmicê deveria falar com a Senhorita e oferecê-la um regalo para conquistá-la” eles já não falavam “Coé, lek. Chega na gata e dá um bregueti que ela gama!”
Aliás, não só na linguagem: em tudo!
Porra, as roupas! Aposto que geral ficava na vadiagem, camisa de botão aberto e aí, quando ia rolar foto ou pintura, todo mundo se emperiquetava com roupas, perucas etc. - porque era um grande momento social. Aquilo ia ficar “pra sempre”. Pensa no instagram: ninguém tira foto mulambento. A gatinha ajeita o soutien pro peito parecer maior, o gatinho estufa o muque pra parecer forte... essa é a parada; a gente quer se passar “melhor” para a posteridade. E acho que já rolava antigamente: escrevíamos rebuscado mas na rua era já era outro tipo de fala, estufávamos o peito, ficávamos eretos e compostos, mas assim que o flash pipocava, geral quebrava, tirava o sapato, zoava... até porque: com o calor do Rio de Janeiro e aquelas roupas de antigamente? Impossível ficar engomado daquele jeito.
Explico: quando escrevemos não traduzimos a forma com a gente, de fato, fala. Tudo bem; hoje em dias até existe a liberdade pra fazer isso, mas ainda o quanto livre e informal seja a nossa capacidade de comunicação escrita, naturalmente colocamos um chapeuzinho mais rebuscado na hora de escrever. (Tipo, olha o jeito como escrevi esse parágrafo! O pensamento de fala é diferente do de escrita; não tem como. Aquele é errático e este pensado)
Fico pensando se quando vemos os caras falando “Vosmicê deveria falar com a Senhorita e oferecê-la um regalo para conquistá-la” eles já não falavam “Coé, lek. Chega na gata e dá um bregueti que ela gama!”
Aliás, não só na linguagem: em tudo!
Porra, as roupas! Aposto que geral ficava na vadiagem, camisa de botão aberto e aí, quando ia rolar foto ou pintura, todo mundo se emperiquetava com roupas, perucas etc. - porque era um grande momento social. Aquilo ia ficar “pra sempre”. Pensa no instagram: ninguém tira foto mulambento. A gatinha ajeita o soutien pro peito parecer maior, o gatinho estufa o muque pra parecer forte... essa é a parada; a gente quer se passar “melhor” para a posteridade. E acho que já rolava antigamente: escrevíamos rebuscado mas na rua era já era outro tipo de fala, estufávamos o peito, ficávamos eretos e compostos, mas assim que o flash pipocava, geral quebrava, tirava o sapato, zoava... até porque: com o calor do Rio de Janeiro e aquelas roupas de antigamente? Impossível ficar engomado daquele jeito.