Tem umas séries/filmes/revistas em quadrinho que você sabe do potencial de ser foda (seja pela premissa, pelas pessoas envolvidas, pelo que pessoas respeitadas andam falando sobre...), mas sei la, vários motivos, você acaba não assistindo, protelando até por não ter disponibilidade (temporal, emocional...) pra se dedicar à esse viewership. Esse é o caso do "Louie".
Eu conheci o Louis C.K. numa época onde o Youtube era o melhor site do mundo (os anúncios e algoritmos destruiram um pouco ele, que ainda é foda, mas não fico mais com ele aberto o tempo todo) vendo pequenos trechos de stand up, participação no Conan etc. e pensei "nossa, esse cara é... diferente". Fresh. Quando rolou série dele parecia pule de 10 pra acontecer isso, mas nem deu tempo porque a HBO cancelou com uma temporada só o "Lucky Louie". Fiquei até aliviado, tipo "não preciso embarcar nessa". Se apaixonar e aficcionar por alguma coisa só é legal quando você já tá dentor da parada. Antes é necessário evitar. Ainda mais pra quem trabalha com isso. A gente se influencia muito. E é necessário e é bom, mas po, também ficar toda hora bolado com isso, sem sedimentar, mudando o tempo todo não dá. Então, haha que bom que você "falhou"! Menos uma série para me dedicar.
Aí ele foi pra FX fazer o "Louie" e po, a premissa é "Seinfeld" nos anos 2010... nada novo. E não deu certo a primeira vez no Lucky louie. Ah, deixa... essa aí nem vou ver.
Mas as temporadas foram passando, as pessoas falando que era muito bom... começou a entrar naquela zona que você não pode ignorar. Ok, lá vamos nós. Com a cara amarrada, sem saco, torcendo pra não clicar.
E pqp, não é tipo "uau, essa pode ser uma das melhores comédias de todos os tempos, hein?", acho que está acima disso. É papo de ser contender de melhor série de drama também. E de melhor filme, embora não seja filme. Acho que está acima das amarras de gênero, formato e até da arte. É vida. É necessário, é aula... é meio a sensação que tenho com The Wire. Acho que todo mundo tem que assistir isso, pra conseguir lidar com a vida melhor e ser uma pessoa melhor. Estou convencido que se o mundo assistir "Louie" conseguiremos alcançar a paz mundial. Tem que passar nas escolas e nas igrejas, nos canais de sacanagem e no horário político.
Acho foda como Louie é super realista e usa de artifícios surrealistas volta e meia (e
eu amo) e não vende um conceito de felicidade impossível no mundo real.
Louie não tem photoshop, saca? E sou um cara"o storyteller tem que dar
esperança pras pessoas", mas como outcome da história, saca? Tipo, não tem porquê você contar uma história onde o cara vai, se esforça e no final se fode. Pra quê? A vida já é uma bosta. Pra quê dar essa liçãozinha? Vai se fuder! Mas eu (e a maioria dos storytellers e cultura como um todo) estamos sempre partindo de um mundo comum "bom, porém incompleto", onde algo acontece e muda tudo e o cara tem que lutar pra se melhorar. As "regras" são positivas, o outcome possivel. O irado do Louie é que o prêmio não vai ser super grana, uma gata gostosa, uma promoção. Life is shitty... but thats ok! Everyone's is. E também não deve ser levada tão a sério. É meio Schopenhauer com bossa. Não há mentira. Há surreal. O entorno todo é verdade pura, é o que vemos na vida e não o que é visto nos filmes, video clipes, ensaios fotográficos das musas e whatever else que a sociedade inventou para se satisfazer, mas nem precebe que, por ser inatingível, só a faz mais insatisfeita.
Geez... Pra alguém que supostamente deveria ganhar a vida com palavras eu sou muito ruim com elas, né? Mas enfim, whatever, aqui é só pra mim, eu não preciso voltar, revisar, re-escrever e tentar melhorar, me fazer entendido. Eu sei o que sinto e tal. Yeah. Louie. Sinistro. Mudando a minha vida. Achando tudo incrível. E o bizarro é que a parada que falei do Seinfeld se mantem, não era erro não. Tipo... não tem nada de novo, mas é tudo novo. Conceito teoricamente é a parada mais importante, mas na prática não, porque não tem conceito que aguente um delivery fraco, mas foda-se o conceito se o delivery for muito foda. O que a gente consome é o delivery e não o conceito. O conceito só existe pra fisgar a atenção e aí nessa guerra por eyeballs as emissoras e produtores audiovisuais (e os pretensos ~artistas~ também) acabam esquecendo disso e só se concentrando em "chamar atenção" dos espectadores que, quando se viram pra eles, percebem; putz, não tenho nada pra falar.
Louie tem MUITO a falar e isso que é o doido. Como é que as pessoas tem algo a falar numa época onde parece que tudo já foi falado. Eu pelo menos só tenho vontade de ver e ouvir - vê-se pela quantidade de posts que faço ultimamente, né? - então dá licença que vou put my money where my mouth is e ver a nova melhor parada do mundo pra mim: Louie.