R.I.P.
"4:00/5:00h é tão bonito. Na praia o barulho do mar, casais se pegando, pessoas olhando pro nada. Os coqueiros tão sempre paradinhos. Tem vento, mas eles estão lá; não mexem uma palha. É tudo tão estático. Estático bonito. Parece que o mundo, assim como quem tá dentro dos prédios, resolveu parar e dar uma cochilada pra no dia seguinte seguir a vida. Parece que o mundo parou e quem se aventurou a sair ou continuar acordado é quem tá girando. O mundo parou e quem tá em movimento é o mendigo bêbado no quiósque.
As luzes também são bonitas. São coreografadas e sistemáticas. Essa exatidão é fera. A rua vazia e o sinal passando de vermelho pra amarelo e o amarelo piscando. Um papelzinho voando e vamos andando. Sempre em frente.
Volta e meia passa um carro e quebra todo o silêncio, mas adiciona impresivilibidade na estática do negócio. É um contraste maneiro. Esse silêncio interior é bom. É meio que você se perdoando. E você sabe que não precisa ser dito nada, porque não há nada que você possa dizer que vai mudar alguma coisa. É exatamente controlar o tempo vendo ele passar.
Depois eu chego em casa olho aquela cama tão confortavel, tão quente e não vej muito sentido em deitar naquilo.
Porque se acomodar agora?
Eu posso deitar na cama e sonhar. Mas prefiro me jogar no abismo."