domingo, março 05, 2006

A Unidos da Tijuca foi mais uma vez garfada. Foi o terceiro ano seguido no qual se apresentou como a melhor e, apesar de levar o estandarte de ouro, não foi a campeã do "concurso".
Este ano o sinistro foi gritante, pois se nos outros anos apresentou inovações que poderiam ferir os tradicionalistas/espíritos de porco/impedidores do progresso/como-queira, neste ano dialogou eloquentemente com o popular e o erudito. A três anos (desde o início da parceria de Paulo Barros com a escola) a Tijuca é um sopro de frescor nesse mar de mesmice que é o carnaval.
Um dos jurados disse que o carro mamãe eu quero "poderia ter luzes na chupeta" e com isso justificou sua nota baixa (9.5 se não me engano) em uma categoria onde as outras notas foram todas 10. O trabalho de um jurado é julgar o que é apresentado no desfile e não o que poderia estar lá; tem que jogar com o que tem, senão vamos começar a julgar assim "ah, o mozart não estava em pessoa no desfile...se estivesse seria muito mais emocionante!"
Outro reclamou do cacófago formado no trecho da letra do samba que dizia "musica ganha" e deu 9,3. Com este eu concordo; no entanto era jurado de harmonia e embora seja desagradável ouvir "caga" numa letra, não compete a ele esta nota e sim ao jurado de samba-enredo. Harmonia no caso é "canto no ritmo certo". E só.
Hoje no desfile das campeães a Tijuca protestou e passou como a campeã que é. Com direito a - inédita até onde sei - parada total de bateria e puxadores. A platéia e a escola no gogó. Enquanto isso acontecia, os integrantes da bateria "pura cadência" se embolavam e brincavam carnaval. Isto que me impressiona nessa azul e amarela: em meio a figuras ricas e complexas, como djs mozarts regendo em 4/4 no abre alas, deboches típicos como a babá drag malvada e o bebê chorão malandro - quer coisa mais carnaval??
É a leveza e diversão que o carnaval esqueceu em meio a regulamentos que não fazem o menor sentido com a filosofia a qual se propõe esta "festa".
Foi impecável no melhor sentido da palavra; de quando as falhas existem e tornam o espetáculo belo e humano e cheio de vida. Desfilar robóticamente com as regras embaixo do braço não dá. Roberto da Matta, tão querendo transformar o carnaval em parada e procissão, este com o fervor da rivalidade e devoção da vida dos integrantes da escola e aquele com a rigidez das regras!
Passei 21 anos evitando escolher, mas temo que está pra chegar o dia que eu pintarei mais cores em meu coração e finalmente terei uma escola de samba para torcer a cada ano.
Enquanto isso, sigo ouvindo tudo que vejo e escrevendo aqui de vez em quando