quinta-feira, dezembro 23, 2021

A quimioterapia é a maior conjunção entre a ciência e a fé.

Você mata, via processo científico, todas as células ruins (e as boas), na esperança - instrumento de fé - de que o corpo seja forte e rápido o suficiente pra regenerar, criar novas células saudáveis a tempo. Mas essencialmente o movimento pra isso é a destruição. Você torce pra que o corpo aguente. Às vezes ele não aguenta.

Ainda assim, ninguém vê a quimioterapia como uma tentativa de encerrar aquela vida. Coloca-se o paciente para passar por tudo aquilo porque se quer muito que ele continue vivendo e, uma vez vencida essas dificuldades, ele tenha uma vida ainda melhor, mais feliz; exatamente por ter sobrevivido toda aquela provação.

A gente tentou os processos científicos. Faltou a fé? A contagem de células tá e tem sido muito baixa, mas a última sessão tá quase aí... 

Isolada, essa dor que vai vir da última e derradeira sessão talvez não seja nem tão forte. Mas comparativamente - pois tem sido tão exaustivo o processo, eu sei, eu vivo isso junto; é o nosso corpo - parece ser demais pra suportar. Será que é mesmo melhor jogar a toalha? Não vale a dor pra poder chegar a esse novo momento onde todas as células são transformadas e temos um corpo limpo e saudável pra aproveitar esse momento global de transformação? 

Ou a transformação é abraçar a morte? Não consigo ver como. Mudam os signos; o processo continua o mesmo. E pior, porque a gente passará a viver pra sempre com a mágoa e a cobrança de não ter feito o suficiente. de não ter sido suficiente. com a dúvida embebida em ansiedade do "e se?". E isso é eterno; não tem fé nem ciência que vão trazer as respostas pra essas dúvidas e a pomada pra essas chagas. É ficar satisfeito com um tumor benigno, que é contido e não vai invadir outras massas (mas ainda vai causar um bando de doenças), ao invés de tentar erradicar de vez um tumor maligno e poder viver livre e saudável.

Se há dúvidas: eu escolho aguentar a quimio do maligno. Todas as vezes. Porque lembro como esse corpo saudavel era lindo, e amo ele mesmo na doença, fraco. Porque acho que ele merece o que há de melhor e trocar uma quimio no fim por uma desde o início não é o melhor. E porque tenho fé que tá quase lá e o processo ciêntífico vai ter valido a pena. 

sexta-feira, dezembro 17, 2021

Also: essa é a primeira vez que eu falo do Pastrami aqui?
Que pai eu sou... E, afinal, não é esse o tema desses últimos 4 posts que acabaram de fazer 2021 ter mais posts que 2020?
:chef's kiss:

E esse também sou eu, pensando por que diabos eu me importo tanto com a contagem de posts de ano em ano a ponto de falar "poxa, tenho que gravar um voice memo pra anotar suas idéias de posts pra que eu possa depois transcrevê-las pra virarem post, pois esse ano não pode ter menos posts que o ano com menos posts da história de 2 décadas de artur (FYI 2020 com 7 posts)"

Esse sou eu, anotando idéias no voice memo do telefone (enquanto passeio com Pastrami) pra depois escrever, porque senão eu esqueço e nunca escrevo posts no artur.

O Pastrami vive pra poucas coisas:

Comer
Dormir
Brincar de pegar coisa
Caçar lagartixa
Nos amar
(mas principalmente) Passear

Só de você falar a palavra ele já mexe a cabeça. Não dá pra falar essa palavra casualmente por outros motivos, que ele entende que ele vai sair. Fica agitado, começa a botar a cabeça no seu colo. E aí rola todo um ritual. Eu me levanto pra pegar a coleira, ou a carteira, a chave, ou o chinelo - enfim; o bicho é espero e SABE quando ele vai passear - e aí ele se agita master, fica indo pra lá e pra cá correndo, subindo no sofá, indo até a porta e voltando pra você tipo "Oh, Meu Deus! Oh Meu Deus! Chegou meu momento! Eu vou passear!" 

Mas no momento em que eu pego a coleira dele... tudo muda. Ele passa a fugir de mim. Já vi cachorro que você põe a coleira no chão e ele "entra" dentro dela, ou, no mínimo fica paradinho pra você colocar nele. Com o Pastrami eu tenho que pegar as patas dele à força dentro do buraco da coleira (aquelas de peito, porque ele, apesar de vira-lata, é cachorro de madame).

Fico pensando... ele quer na real ser livre. Fica animado por saber que vai sair, vai andar lá fora. Mas não quer ir na coleira. Ele quer ir livre. Porque, no fim das contas, ele vive aprisionado por você, humano idiota.
Deixa o cachorro ser livre!