Venho pensando e filosofando há muito tempo sobre o caos randômico que é o universo e sobre a predileção humana à cultura narrativa; e o quanto isso é danoso. Mas acho que eu não estava com o compreendimento total da coisa - e talvez não esteja ainda; mas mais perto.
Negócio é o seguinte: o universo sim é randômico. As coisas acontecem porque elas acontecem. Não tem um "motivo", uma "razão", tipo
Deus/sorte/bla bla bla está mandando isso pra que eu faço isso e aquilo. Não.
MAS... nós, os seres humanos, somos sim seres narrativos.
Por que? Porque fazemos as coisas pra obter um resultado. Agimos como agimos POR um
motivo e PARA
obter um resultado. Nós sim nos guiamos pela relação de causa-e-consequência. Fazemos o que fazemos por um motivo; não por absoluta randomicidade. A não ser quando a pessoa é psicopata ou esquisofrênica - ou seja, psiquicamente desprovida de lógica; randômica.
E esse desequilíbrio entre o que acontece dentro da gente e o que acontece fora da gente é que causa na gente ansiedade e deixa a todos doidos. "Por que que o mundo não responde de acordo com a forma que a gente faz as coisas, de acordo como a gente se movimenta?", pensamos. E aí, o que é foda, que nos causa ansiedade, é que a gente fica preso a isso. A gente começa a pensar "Ah, eu tenho que fazer isso pra me garantir aquilo" e "O mundo vai me dar isso por causa disso" (ou "O mundo não me deu isso por causa disso").
Mas o lance é que tá errado. A gente tem que tá em paz com ambas esferas e achar um meio termo entre elas para habitarmos. Entender que a gente é narrativo, mas que o mundo não.
Porque senão: (i) por um lado a gente fica refém - ou dos nossos desejos ou dos nossos medos. E eles passam a guiar a gente. E isso tá errado. Nem o desejo nem o medo devem nos guiar. O que deve nos guiar é a nossa consciência. É fazer o certo, fazer o ético, fazer o bem. Não pra si, mas pra todos. Porque fazer o bem pra todos, vai ser fazer o bem pra si.
E aí - entendendo que cada um está num momento diferente de sua escala de evolução individual - fazer o bem pra todos; mas principalmente pra aqueles que são próximos de você e vibram positivamente pra você. Pois se doar pra quem está muito perdida e não te dá em troca, acaba sendo gasto de energia em vão. Gasto de energia que deveria ser dado para as pessoas que estão mais próximas de você; pois são essas que temos que fazer feliz, para, assim, você estar feliz também; pra, assim, você estar em paz.
E aí, (ii) por outro lado, também não ficar tentando controlar e manipular tudo. Porque o mundo não vai dobrar à sua vontade, independente do quanto você costurou narrativamente à seu favor. Não interessa o quanto você seja bom em controlar e manipular o mundo externo; não interessa o quanto você tente: uma hora sua construção vai desmoronar e vai ser muito ruim, porque você nunca esteve buscando a coisa certa. E "isso" que vai desmoronar é tanto o mundo exterior à você, que vai cair em cima dos seus ombros, pesando em você, OU internamente; o seu próprio "ser" vai desmoronar.
Porque é água e óleo.
O mundo externo e o interno, o randômico e o narrativo, não vão virar uma coisa só. Não importa o quanto tentemos. Temos que aprender a viver entre eles. Senão o corpo entra em parafuso. De uma maneira ou de outra, se você não for pro meio, pro ponto de equilíbrio... você e tudo que você tentou construir morre.